segunda-feira, junho 30, 2003

 
046 - OS NOVOS EMIGRANTES

A semana passada, a APEL (uma das associações de editores) apresentou publicamente os números actualizados sobre a evolução dos índices de leitura e compra de livros em Portugal.
Como habitualmente não são números brilhantes.
Por outro lado chegaram-me às mãos uns números curiosos sobre a nossa nova emigração.
Que nos últimos 10 anos emigraram cerca de 300.000 pessoas com profissões qualificadas ou especializadas, das quais mais de 100.000 com formação universitária recente.
Irei confirmar estes números e voltarei a este assunto, que é interessante.
Para já, apetece perguntar: investimos em educação e formação para quê? Em que países se encontram afinal a trabalhar os técnicos e os operários especializados que formamos?
Ou, no caso que me diz respeito, quantos leitores despertados através das novas escolas e das novas Bibliotecas foram ler para outras línguas?
 
045 - FUTEBOL

Ontem o Aviz e
A Montanha Magica (pelo menos) estiveram a conversar sobre futebol.
Hoje deparei com as notícias acerca da situação calamitosa que envolve o prosseguimento das obras dos estádios do Benfica e do Farense (pelo menos, também).
Confesso que fiquei preocupado - não tenho nada que me preocupar mas, que querem?
E pensei com os meus botões: isto do Euro 2004 e das obras nos estádios ainda vai dar muito que falar...
A procissão ainda não saíu do adro da igreja.
Espero que não dê uma uma grande bronca.
 
044 - MUITO HONRADO

O Blog "textos de contracapa" foi considerado Blog de serviço público, pelo apontador Blogues.

Blogues | Homepage | 30-06-2003 14:21:08

http://blogues.no.sapo.pt/
 
043 - AINDA O "DOMÍNIO PÚBLICO" E OS "LIVROS BRANCOS"

Gostava de tentar clarificar uma questão que abordei rapidamente no post 035 mas que, pelos comentários recebidos, verifiquei que muitos não entenderam, ou eu me expressei mal.
Trata-se da questão do “domínio público” e dos chamados “livros brancos”.
Os direitos patrimoniais de uma obra literária (os prazos são diferentes para outro tipo de obras) caem no chamado domínio público 70 anos após a morte do seu autor.
Tem-se entendido, genericamente, que a situação de “domínio público” permite que qualquer pessoa, instituição ou empresa, possa publicar essa obra com total liberdade. Não havendo portanto quaisquer encargos em termos de direitos autorais; tãopouco qualquer controlo sobre a genuinidade e exactidão do texto da obra.
Em quase todos os países tem-se verificado a publicação destas obras por supermercados, hipermercados, livrarias, particulares, editores menos cuidadosos - em confronto com outras edições (necessariamente mais caras) efectuadas com cuidadas fixações de texto realizadas normalmente por especialistas universitários.
São o que chamei “livros brancos”, mais graves ainda porque normalmente dirigidos a públicos escolares.
A meu ver, esta interpretação do “domínio público” como uma “balda” total, protege deficientemente os inalienáveis direitos morais do autor (um aspecto decisivo do direito de autor que tem a ver com o respeito devido à sua obra) e o património literário de um país que cabe ao Estado defender e cuidar.
Esta era aliás (se alguns se lembram) a tese defendida por Vasco Pulido Valente no tempo em que exerceu as funções de Secretário de Estado da Cultura, e que tanto incomodou alguns editores: a de que o Estado, através das suas instituições, não pode abdicar de tentar regular o controlo sobre a genuinidade da utilização dos textos caídos em domínio público.
A notícia do “The Wall Street Journal”, por mim citada nesse post 035 vai no entanto ainda mais longe: refere que, para além dos livros em domínio público, os supermercados, as cadeias de livrarias, se preparam agora também para efectuar edições originais, dispensando a intermediação do trabalho e do critério dos editores. Na origem desta iniciativa estiveram certamente as vendas entusiásticas dos Harry Potter e da biografia de Hillary Clinton.
Se eu vendo milhões de exemplares destes livros (pensaram eles) para que preciso dos editores? Além do mais, posso ainda dizer: sem eles o livro pode ser vendido mais barato. Ou ainda: vendendo tantos exemplares destes livros, para que hei-de ocupar espaço com a História, a Sociologia, a Ciência, a Poesia, os novos autores literários?
A saraivada de palermices que recebi como criticas, acusava-me de estar a proteger-me da concorrência.
É verdade.
Mas quando essa concorrência inundar o mercado livreiro apenas com os chamados livros de “alta rotação” (mais os “livros brancos”, mais a “literatura light”) onde vamos depois encontrar quem nos forneça alternativas?
Para que serve um editor? - era a minha interrogação em fim de carreira...


domingo, junho 29, 2003

 
042 - AUTORES, 2

Ao inserir acima a palavra "autores", a intenção é ir arquivando aqui alguns pequenos textos sobre escritores com quem tive, e tenho, a felicidade de conviver no decorrer do meu trabalho.
Comecei com José Cardoso Pires, precisamente no dia em que me desloco ao Bombarral para participar, com Ruy Zink, Edite e Ana Cardoso Pires, numa sessão de homenagem que lhe é dedicada pelo Município local.
Faz-me lembrar que Lisboa, a cidade que tanto lhe deve, permanece em silêncio apesar das promessas feitas.

Pretendi posteriormente inserir umas fotos neste post. Por inabilidade, apaguei os comentários que entretanto haviam sido enviados.
As minhas desculpas.
 
041 - AUTORES, 1


JOSÉ CARDOSO PIRES

a pior desgraça dum bebedor é deixar o copo a meio
in A Cavalo no Diabo


Sempre tive dificuldade em entender os editores que não têm na relação com os seus autores a parcela mais importante do seu trabalho. Por mim sempre tentei fazer o contrário, iniciando relações profissionais que invariavelmente acabaram em estreitas relações de amizade. Não faz para mim qualquer sentido que o trabalho de um editor não se dirija em primeiro lugar à cumplicidade e à solidariedade com os seus autores.
Sei que há editores que procedem de modo inverso, ocupando a sua vida a ver catálogos, a ler informações sobre livros, a folhear revistas literárias, a consultar listas de best-sellers, a contactar com agentes, a comprar direitos a editores estrangeiros, escolhendo livros ou seleccionando manuscritos de que não conhecem os autores.
Por mim procuro sempre começar pelos autores.
Mesmo a intermediação dos Agentes, que com o evoluir dos tempos se tornou inevitável e imprescindível, sempre me deixou algo perplexo, apesar das estreitas relações que mantenho com a maior parte deles. Não sei como começou esta profissão, ignoro quem foi o primeiro agente a iniciar a sua actividade de representação, ou o primeiro escritor a fazer depender dela a sua relação com os seus editores. O primeiro contacto que tive com esta profissão, lembro-me bem, era ainda criança, foi através de uma senhora muito bem falante e muito bem engomada, que visitava periodicamente a nossa casa, e com quem o meu avô tinha de repartir, numa percentagem significativa, os resultados da sua actividade de contrabandista. A “Mulher do Neves”, anunciava a minha avó quando ela batia à porta. Ela entrava, instalava-se com ar arrogante, bebia o chá, e passava a tarde a falar de percentagens com o meu avô que invariavelmente cedia às suas exigências.
Passada a infância, tenho continuado a conviver com a “Mulher do Neves” sob as mais diversas formas, mesmo aqui, na actividade editorial.
A minha relação com o José Cardoso Pires durou mais de trinta anos e foi ele que, infelizmente, acabou por a interromper.
Conhecemo-nos mais ou menos por altura do suplemento literário do Diário de Lisboa e do & Etc., ainda publicado como suplemento do Jornal do Fundão, dirigido pelo nosso querido amigo António Paulouro, recentemente falecido. O Zé e o Vítor Silva Tavares eram os dinamizadores destes dois projectos; eu, um critico literário ainda em fase de aprendizagem.
O Zé acabara de lançar O Delfim com alguma inovação promocional para a época – estaríamos para aí em 1968 – mas a nossa relação profissional só viria a iniciar-se mais tarde, em 1977, com a publicação do E Agora José?, quando eu, depois da Arcádia (onde o Zé também publicou) dirigia a Moraes Editores.
Trabalhámos estes anos todos, até à sua morte em 26 de Outubro de 1998, sem nunca termos assinado um contrato de edição. Um dia, quando ambos o constatámos – o contrato existia, tínhamo-lo certamente discutido e acertado, mas ambos nos esquecêramos de o assinar – resolvemos ir comemorar devidamente a singularidade e a confiança da nossa relação de trabalho. O Zé costumava dizer, aliás, que as maiores amizades se forjam na seriedade de uma relação de trabalho.
Fui vê-lo ao hospital de Santa Maria poucos dias antes de falecer. Pedi para que nos deixassem sós. E falei com ele quando certamente já não podia ouvir-me. Os médicos diziam: sabemos pouco a este respeito...; ignoramos se o cérebro destes doentes ainda lhes permite ouvir-nos. Mesmo assim resolvi tentar. E conversei com ele longamente, como fazíamos tantas vezes, falei-lhe de projectos em que estávamos a trabalhar, tentei pedir-lhe que tivesse forças. O Zé abria os olhos, umas vezes parecia concordar, outras discordar, com aquele ar refilão e lisboeta que lhe conhecia tão bem. Comovi-me evidentemente. Mas ainda hoje continuo a pensar, ao contrário dos médicos, que ele me conseguiu ouvir.
As relações de trabalho com os autores não são coisa fácil – talvez por isso alguns editores, como aqueles que já citei, fujam um pouco destas tarefas. Com o Zé isso era particularmente verdade. Ele trazia os livros todos na cabeça. Quer dizer: depois de os escrever, concebia integralmente a capa, o tipo e o corpo da letra em que os queria impressos, a mancha da página, as referências da contracapa, a promoção, o lançamento, etc. Era de um rigor e meticulosidade impressionantes. Fazia desenhos do que queria e como queria, montava em folhas de papel cuidadosamente dobradas o aspecto do caderno inicial, a ficha técnica, a dedicatória, a altura exacta em que deveriam iniciar-se os começos de capítulo.
Entrava no meu gabinete de trabalho manhã cedo – o Zé nunca sentiu necessidade de pedir para ser recebido – punha em cima da mesa todos os seus esquemas e papelinhos (muitos dos quais evidentemente conservo), trabalhávamos até à hora do almoço discutindo tudo com o maior rigor. Profissionalmente, seria a palavra exacta, e seria a palavra que certamente ele mais gostaria de utilizar.
Ao almoço, então, púnhamos a “escrita em dia”, falando de literatura e de política, fazendo projectos, comentando escritores que ele respeitava e outros que o irritavam. Estes almoços eram sempre especiais. Normalmente acabavam com a Edite a vir buscar-nos para o jantar, para o qual já seriam mais do que horas... Nunca consegui perceber como é que ela nos conseguia descobrir, não existindo ainda os malfadados telemóveis. Mas a verdade é que nos encontrava sempre.
Nessa altura eu atrevia-me pouco a comentar-lhe os textos ou os títulos, tão grande era a cerimónia e o respeito que lhe tinha. Depois, com o passar dos anos, fui ganhando coragem para assumir em pleno o meu trabalho de editor, como ainda hoje o entendo, o primeiro leitor, o cúmplice, aquele com quem o escritor não tem que ter cerimónias. E passei a atrever-me, a discutir, a comentar, a sugerir, acabando com ele a escrever-me: “deixo-o comprometido com esta escrita e rogo ao Porco Sujo que faça com que ela lhe agrade”.
É verdade, já me esquecia: levámos trinta anos a resmungar um com o outro sem que nunca nos chegássemos a tratar por tu.
Quando morreu, o Presidente da Câmara de Lisboa, a cidade que ele amava e tanto lhe deve, apressou-se a prometer uma rua digna do seu nome, a Biblioteca Publica da Freguesia de Alvalade também com o seu nome e, dentro desta, uma sala onde depositar os seus livros, os seus arquivos, os seus manuscritos, a sua correspondência, de modo a permitir um acesso fácil a todos quantos quisessem estudar a sua obra.
Não consigo perdoar que nenhuma dessas promessas tenha sido cumprida, agora que se cumprem cinco anos após a sua morte. E isto, apesar da disponibilidade da família para ceder todos os materiais e apoiar todas as iniciativas nesse sentido.
É verdadeiramente indesculpável.
Felizmente que a Câmara Municipal de Vila de Rei soube suprir esta falha, organizando recentemente um colóquio sobre a obra do escritor seu conterrâneo e dando o seu nome a uma das suas ruas.
Que fará Lisboa entretanto ?
Sendo José Cardoso Pires, depois de Cesário, um dos seus melhores cantores.
Pouco certamente. Muito pouco, sabendo-se o estado actual das coisas da cultura.

Publicado no DNA de 14.12.2002
(Ao tentar inserir fotos apaguei os comentários recebidos. Perdoem.)

 
040 - ANÓNIMOS, 3

Escreve-me Pedro Rolo Duarte para me informar que o comentário assinado com o seu nome e com o endereço de e-mail do DNA, incluído nos comentários ao meu post nº. 034, não é da sua autoria.
Agora, além dos anónimos, temos também os apócrifos.
Lamentável, na verdade.
Pensarei em eliminar de futuro o espaço para comentários.

sábado, junho 28, 2003

 
039 - ANÓNIMOS, 2

No meio dos comentários a estes posts acabo de responder a mais um anónimo: Tenente Blueberry.
Mas não vou ter capacidade para responder a todos os mails recebidos sobre este tema. Perdoem.
Deixo portanto aqui, com mais destaque, essa minha resposta.
Dizia mais ou menos o Tenente Blueberry: sem o recurso ao anonimato este não seria um espaço de liberdade.
Respondi eu, também mais ou menos: explique-me então, o que é que a liberdade tem a ver com o anonimato ? O anonimato pretende proteger, ou esconder, o quê ? Estamos na clandestinidade, agora no sentido em que ela nos permite tudo, incluindo a desresponsabilização pelas nossas ideias e afirmações ? Os políticos no activo, protegidos pela imunidade, deveriam também ser anónimos ? Os Juízes ? Repito: que protege aqui o anonimato ? O direito de insultar ou dizer disparates sem responsabilidade, sem colocar em causa a nossa privacidade ?
Os blogues, em amplos sentidos, pretendem ir mais longe do que a chamada comunicação tradicional. Ora esta não é anónima. Por que é que nós havemos de defender aqui o anonimato ?
 
038 - MANIPULAÇÕES

Não se pode deixar de acompanhar as polémicas surgidas entre a blogosfera e a chamada imprensa tradicional.
Acabam por nos dizer respeito a todos.
E são um sintoma interessante.
Lendo tudo o que aqui se tem escrito sobre determinados temas, verificando depois o que disso é transcrito e "montado" na referida imprensa tradicional, ficam à vista alguns bons exemplos do que pode ser classificado como manipulação da opinião.
Mais grave ainda quanto muitos dos leitores dessa imprensa não acedem ainda à informação contida nos blogues.
Que se passará com a restante informação, aquela que os blogues não têm comentado ?

NOTA POSTERIOR:

Não deixa de ser curioso que este post (aparentemente ingénuo) não tenha tido comentários ou outras intervenções. Ao contrário da questão do "anonimato" que, não sendo essencial, mobilizou tantas energias, tantos mails, tantos insultos despropositados. Chegaram a citar-me Salazar...
 
037 - DISCUTIR ?

Às vezes, parece-me, discute-se quase só para se discutir, para se ter uma opinião
diferente, pelo prazer da contradição, para aparecer postado no blogue do parceiro do lado.

Leio todos os dias, como provavelmente todos nós, uns quantos blogues que mais me
interessam.
E não leio mais (não por indiferença ou falta de interesse) apenas
porque não tenho tempo.
Alguns deixam-me maravilhado: falam de coisas que eu não sei, transmitem-me
informação cuidada, ajudam-me a pensar. Outros, orientam as minhas escolhas
em matérias em que não sou de todo especialista, deslumbram-me com a
qualidade e a criatividade da sua escrita, com o volume e a consistência da
sua informação, com o seu humor.
Creio que um sociólogo teria aqui abundante matéria de trabalho.
Afinal não seremos uma geração assim tão "rasca"...
Também um editor encontra aqui com que trabalhar e aprender - algum dia terei de explicar que um
editor não é apenas "um gajo que vende livros", embora alguns o
possam ser.

Leio estes blogues com atenção e cuidado. Recebo o que tentam
transmitir. Quedo-me a reflectir sobre o que dizem. Comento-os - quando
é o caso - com a cortesia que justificam.

Infelizmente, porém, andam aqui no meio uns gagos sintácticos e mentais que se põem a
discutir e a insultar por tudo e por nada, falando do que claramente não
sabem e não pretendem aprender, treslendo o que a alguns deu algum trabalho e tempo a escrever,
dizendo atrozes palermices. Não sabem escrever, não sabem ler, não sabem pensar, procuram apenas mostrar-se julgando que têm graça.

A blogosfera "ainda não tem uma massa crítica estável", tem referido Pacheco Pereira. Contribuiremos certamente para uma gradual aquisição dessa estabilidade eliminando o anonimato.
Insisto.
Obrigado pelo apoio Ana Roque.


sexta-feira, junho 27, 2003

 
036 - ANÓNIMOS

Ao contrário do que se diz na revista Visão (pela minha boca) não gosto dos blogues nem dos comentários anónimos.
Os que nesse contexto chamei "anónimos" (palavra que não sei se utilizei no meu depoimento telefónico) eram as "pessoas não conhecidas publicamente".
Admito tranquilamente que algumas pessoas (provavelmente a maior parte) não gostem de assumir a responsabilidade por aquilo que dizem, prefiram não ser identificados, ou usem o anonimato para melhor esconder as suas pequenas maldades.
Eu não gosto.
Gosto de saber com quem estou a falar, com quem estou a discutir, gosto de saber a origem de um bom e inteligente comentário.
Não vejo aliás razão para o anonimato.
Prefiro saber que Pacheco Pereira pensa bem mas dá muitos erros de ortografia, o que é que Francisco José Viegas anda a ler, que aquele sentido de humor é praticado pelo Ricardo Araujo Pereira, que este filme me está a ser recomendado e apresentado pelo Nuno Centeio, ou comentado pelo Hugo, etc.
Tenho respondido a alguns anónimos, mas lá que goste, não gosto.
Acho que um espaço aberto e de liberdade como este, merecia tudo menos isto.
Por outro lado, a quebra do anonimato isolaria irremediavelmente quem anda aqui sem ideias ou reflexões para repartir.

quinta-feira, junho 26, 2003

 
035 - PARA QUE SERVE UM EDITOR ?

Para que serve uma Editora ? - no sentido de "uma empresa editorial" - perguntava há dias o The Wall Street Journal, na sequência dos mega sucessos recentemente colocados no mercado: último Harry Potter e a biografia de Hillary Clinton.
Para logo em seguida informar: Barnes & Noble, a maior cadeia de livrarias do mundo (900 postos de venda e 16% do total do mercado nos USA), projecta criar a sua própria Editora.
Projecta-se portanto uma espécie de "livros brancos", como se se tratasse de uma pasta de dentes ou um detergente sem marca.
No meio de tudo isto (pergunto-me), para que meandros ficará relegada esta minha velha profissão ?
E os Estados ? Continuarão a consentir que o património literário dos seus países (os chamados livros no domínio público) sejam cada vez mais "produtos brancos", ao sabor de iniciativas desreguladas, sem controlo de qualidade, e gratuitas em termos de custos de direitos autorais ?
Que deve entender-se exactamente por "domínio público" ?
Na verdade, se eu vendo milhões de exemplares do Harry Potter, porque não pensar em editá-lo eu próprio com uma margem superior ?
E Fernando Pessoa, em 2005, lá ficará também em domínio público...
O problema é que nas estruturas estatais ninguém pensa nestas questões.
Defender o património cultural "dá" poucos votos e muita maçada.

terça-feira, junho 24, 2003

 
034 - AS BATALHAS QUE VALEM A PENA

De vez em quando a blogosfera agita-se quase por inteiro e mobiliza-se para algumas batalhas.
Claro que a liberdade total deste meio também significa a liberdade total de se discutir o que cada um entender como importante.
Mas não deixa de ser excessivo.
É necessário distinguir o essencial do acessório.
O Pedro Rolo Duarte escreveu um texto infeliz e, provavelmente, mal pensado.
Mas será caso para tanto ruído?
Sou colaborador regular do DNa, embora não conheça o PRD nem tenha com ele qualquer relação.
Fica-me mal acrescentar muito mais a este comentário.
Mas aqui fica o que penso.

Much Ado About Nothing

segunda-feira, junho 23, 2003

 
033 - CUSTOS DA INSULARIDADE ?

1. Pelo Dec.-Lei 284/97, de 22 de Outubro, são equiparados os preços de venda ao público de livros, revistas e jornais de natureza pedagógica, técnica, científica, literária, informativa e recreativa entre o Continente e as Regiões Autónomas, suportando o Estado os encargos totais relativos ao transporte e levantamento no destino das referidas publicações;

Tudo isto para que seja possível cumprir, também nas Regiões Autónomas, a legislação sobre o Preço Fixo do Livro;

Os encargos de expedição são reembolsados mediante a apresentação de documentos comprovativos, junto do IPLB - Instituto Português do Livro e das Bibliotecas;

O disposto no Dec-Lei acima referido, após algum tempo de experiência, veio a ser aperfeiçoado e clarificado pelo Dec.-Lei 112/99, de 14 de Abril;

2. Desde Agosto de 2002, o IPLB não tem procedido aos reembolsos devidos, invocando constrangimentos orçamentais;

3. Esta situação representa para qualquer editor uma quebra de receitas na sua tesouraria de uns largos milhares de euros;

4. A legislação do Preço Fixo do Livro tem sido portanto aplicada nas Regiões Autónomas à custa dos subsidios que os editores têm vindo a conceder ao Estado português;
 
032 - PESSOA E A SIC

Ontem, Domingo, ao pousar por momentos num programa da SIC (sim, era o Herman...) alguém recitava Alvaro de Campos com uns ruídos como acompanhamento. E explicava à audiência (certamente grande) que Pessoa havia morrido há 115 anos.
Então o Pessoa já está no domínio público e eu não sabia ?
Que raio de profissional sou eu...
Vou já informar disto os meus colegas da Assírio & Alvim.

domingo, junho 22, 2003

 
031 - PEQUENAS DIFERENÇAS

Mesmo aqui ao lado, pequenas diferenças... Uma Ministra da Cultura que apesar de tudo existe; uma associação de editores que vai tendo iniciativas mesmo que não muito originais.
Do nosso lado, um Ministro da Cultura (pessoa respeitável) que advoga não fazer nada para não dar origem a criticas; duas Associações do sector, igualmente inoperantes, entretidas com as suas velhas discussões.

"Los poemas de Francisco de Quevedo, Mario Benedetti o José Hierro, los cuentos de Augusto Monterroso o los fragmentos de obras de José Jiménez Lozano, Rosa Chacel, Manuel Rivas, Max Aub o José Luis Pinillos formarán parte del paisaje interior de los autobuses (4.800 adhesivos), vagones de Metro (7.200) y trenes de cercanías de Madrid (4.000) gracias a la campaña «Libros a la calle», impulsada por el Gremio de Editores y Libreros de la ciudad. Enmarcada dentro del Plan de Fomento de Lectura propiciado por el Ministerio de Cultura, la campaña, que ayer presentó la ministra Pilar del Castillo, acompañada del presidente del Gremio de Libreros, Fernando Valverde, prosigue con el proyecto iniciado hace unos años de despertar el interés por la lectura entre los que aún no la han descubierto, reforzar el de los lectores y llevar los libros a un entorno cotidiano para los ciudadanos." (Marta Borcha - La Razón)

sábado, junho 21, 2003

 
030 - FEIRA DO LIVRO DE LISBOA

Deixo aqui repetido o texto que, sobre o tema da Feira do Livro, hoje (21.06) publiquei no DNA.
Dentro dos temas de edição de que se ocupa este blogue, parece-me uma questão a sublinhar.
Para o ano teremos o Euro 2004 "em cima" das datas habituais de realização das Feiras do Livro de Lisboa e Porto.
Teremos as obras do túnel do Marquês de Pombal (com o Parque Eduardo VII como estaleiro), de que sabemos ainda muito pouca coisa de concreto.
Teremos também, ao cimo do Parque, a montagem de uma estrutura gigante (maior do que a roda que lá esteve), equivalente a um edificío de seis andares, alusiva ao Euro 2004. Julgo que um pavilhão multi-usos com a forma de uma bola.
No meio de tudo isto ficará a Feira ?
Ou será transferida para outro local ?
Em que datas se realizará ?
Se as duas associações do sector e a Camara não iniciarem desde já a preparação e discussão deste tema, esperam-se certamente maiores desconfortos do que os assinalados este ano neste meu texto.
Sugiro a nomeação imediata de uma comissão, com elementos representativos de cada área de responsabilidade, para iniciar desde já os seus trabalhos.

A FEIRA A QUEM A TRABALHA... (DNA 21.06.03)

Encerrou mais uma edição da Feira do Livro de Lisboa. Vale a pena falar dela, como já fiz relativamente à do ano passado. Tanto mais que, este ano, tudo parece ter corrido de modo diferente, segundo a opinião generalizada dos editores e dos autores que dela são protagonistas.
O primeiro sinal surpreendente é que a Feira voltou a crescer em número de participantes – parecendo com isso ignorar a crise do sector tão insistentemente propalada por editores e por livreiros. Vejamos o que se passou este ano.
As principais questões: uma quebra de vendas assumida da ordem dos 30% (em alguns casos muito superior…), relativamente ao ano passado; ausência total de uma direcção central; uma deficiente organização do espaço que, apesar de renovado, não levou em consideração as reais necessidades dos participantes, antes provocando graves distorções entre eles.
As vendas: mais grave do que a queda de vendas em valor absoluto (embora muito significativa), parece ter sido a queda abrupta do número de unidades vendidas. Sintoma de que a crise geral do país (depois dos carros, dos electrodomésticos, do vestuário) chegou finalmente ao nível do preço dos livros (média entre 10 e 20 euros...). Era evidente a retracção, para quem pôde presenciá-la de perto. Desapareceram os grandes leitores, aqueles que aproveitavam a Feira para uma escolha mais ampla e minuciosa. Ficaram apenas os compradores ocasionais, os que andam a passear e funcionam por impulso, ao ver que um escritor está hoje a autografar os seus livros, que este ou aquele título está hoje em livro do dia, etc. Para alguns pequenos editores, o nível de vendas realizado poderá mesmo ter representado um prejuízo (dados os elevados encargos de inscrição, trabalhadores, custo real dos livros e direitos de autor, materiais de promoção, etc.). A Feira foi para eles, provavelmente, não uma ajuda, mas um aprofundamento da crise.
Ausência de direcção: todas as feiras, em todos os países, têm um responsável geral, alguém sempre presente, disponível para resolver o que acontece de imprevisto, para fazer cumprir os regulamentos, para dirimir e orientar os eventuais conflitos. Esta não tinha nada disso. Viveu-se ao abandono, sem ninguém capaz de tomar decisões em cima da hora. Tão-pouco se viram representantes das entidades organizadoras que, quando por lá passaram, o fizeram apenas para cuidar dos seus próprios interesses.
A organização do espaço: deixou-nos perplexos e desorientados, como a toda a gente. Os pavilhões infantis, destinados às crianças e aos pais que as tinham de levar ao colo, eram a última coisa da Feira, mesmo para além do Pavilhão Central, depois da subida de quase todo o Parque Eduardo VII. Cá em baixo, à entrada, a Feira fechava-se ao exterior mediante a colocação de dois enormes e despropositados pavilhões metálicos, estilo contentores, que a escondiam completamente da cidade, como por vergonha. Estes pavilhões (deturpando inteiramente uma bela foto de José Manuel Vasconcelos), tentavam criar um percurso de entrada em oblíquo que, não só deixava para trás e sem visitantes alguns stands de editores como, certamente por acaso, encaminhava o público, directamente, para alguns dos stands dos organizadores.
A implantação no terreno dos stands dos editores sofreu, este ano, também, algumas curiosas alterações. Tendo sido suprimida uma fila de stands junto à relva central do parque, de ambos os lados, foram esses stands intercalados no meio dos restantes, alargando excessivamente o comprimento da Feira e eliminando o espaço necessário aos autores para as suas sessões de autógrafos. Pensaram provavelmente os organizadores que era possível a edição sem autores, que os editores trabalham sem autores, ou então, o que é pior, quiseram afastar da Feira os escritores portugueses e anular o trabalho de quem os publica.
Por outro lado, esta nova disposição dos stands criou ao público dois circuitos de circulação distintos e, como se veio a provar, totalmente desequilibrados em termos do número de visitantes que os percorriam. De um lado, um percurso no meio de duas filas de stands; de outro, junto à relva central, com uma única fila de stands. Por cada 300 pessoas que visitaram a Feira e entraram por este último percurso, 1.300 pessoas escolheram o primeiro percurso para subir. Imagine-se o desnível de vendas potencial entre os editores colocados num e noutro circuito. A situação era de tal modo calamitosa que dispensava comentários: bastava olhar e constatar a diferença.
O Auditório Central sofreu igualmente profundas transformações relativamente ao ano anterior. De um espaço aberto, com paredes em vidro deixando ver um plano geral da Feira, transformou-se num caixote fechado, escuro, irrespirável de calor, forrado a alcatifa preta desde o chão até ao tecto. Que me desculpe a Clara Ferreira Alves mas, mesmo a programação cultural, pareceu-me este ano menos interessante e, sobretudo, com menor divulgação.
A Feira alargou-se em comprimento, já o disse. Mas a instalação sonora manteve a sua eficiência apenas no espaço previsto para o ano passado... provavelmente não havia mais fio disponível. Os sanitários eram escassos e já vi melhores quando a Câmara prepara as suas campanhas para a higiene dos cães; os restaurantes eram lamentáveis; a iluminação nocturna, em algumas zonas, deixaria boquiaberto qualquer técnico da especialidade.
Mas foi tudo mau?
Não, claro, e temos agora mais um ano inteiro para reflectir e voltar a fazer o mesmo, como de costume – agora nas vésperas do 2004. Ou, de uma vez por todas, entregar a Feira a quem de facto seja capaz de a organizar convenientemente. Talvez em diálogo com quem nela trabalha.


quinta-feira, junho 19, 2003

 
029 - INTERREGNO

Estando fora de Lisboa alguns dias, a comunicação com os blogues torna-se mais difícil e morosa sem a ligação por banda larga.
Mas, verifico, já não passo sem a leitura actualizada de alguns deles.
Não vou falar dos vários textos que a comunicação social tradicional tem dedicado ultimamente ao “fenómeno dos blogues”, porque todos certamente os lemos. Sublinho apenas que começam a ser muitos.
Mesmo aqui, à distância, recebi um telefonema de um jornalista da Visão a fazer perguntas sobre o tema. Disse-me que tinha estado falar também com outros bloguistas. Teremos então, em próxima edição, um texto mais desenvolvido da Visão.
A coisa alarga-se no exterior. Enquanto, internamente, a discussão também subiu de nível e alargou-se a espaços (quantidade de blogues que estão a intervir) que tornam já difícil o seu acompanhamento.
Vai-se estabelecendo uma “ética”, uma linguagem (também já adoptei o “blogue”), por entre os vários tipos de discursos “especializados”.
Pacheco Pereira até me chama “o nosso editor”, colocando-me ao lado do “nosso latinista”, da “nossa jurista”, etc. – depois faço os links.
O jornalista da Visão pergunta-me concretamente o que anda um editor a fazer no meio dos blogues.
- À espreita, entre outras coisas – poderia eu ter respondido, o meu trabalho também é esse…
No meio dos blogues há excelentes “escritas”, excelentes analistas, excelentes divulgadores. Vale a pena acompanhá-los, tentar perceber o que se passa.
Alguns falam mesmo de projectos editoriais que têm em curso – quando está terminado esse livro, Pacheco Pereira? Estou à disposição…
Mas para além deste “estar à espreita” profissional (um editor nunca deixa de estar em serviço) existe sobretudo a noção de que se está a participar de algo de novo e importante.


quarta-feira, junho 18, 2003

 
028 - OS MEUS LIVROS

Tem razão Pacheco Pereira nos irónicos comentários que faz a um conjunto de depoimentos incluídos no último número da revista Os Meus Livros sobre os livros proibidos pela censura antes de 25 de Abril.
Também já o tinha notado, divertido. Mas não comentei, por preguiça.
Há pessoas que querem "entrar na História" forçando as suas (dela) verdades.
Ou então, não liam tanto, nessa altura, como nos querem fazer crer.
Como se sabe, antes do 25 de Abril, contrariamente à imprensa escrita, os livros não tinham censura prévia. O seu exame era feito à posteriori, já depois da publicação, a não ser que houvesse denuncias ou suspeitas que motivassem outra actuação da Polícia.
Eram então retirados do mercado (livrarias), recolhidos dos armazens das editoras e até mesmo das tipografias que os imprimiam.
Só que esses livros não eram os que estas pessoas candidamente agora mencionam.
Eça, por exemplo, nunca esteve proibido (a Policia não era parva de todo), a "censura" que sobre os seus livros se exercia era uma censura doméstica, de costumes, de carácter religioso fundamentalmente.
A Polícia nunca se atreveu a proibir os seus livros, cedendo às pressões da Igreja. Eça era um símbolo nacional e, além disso, do ponto de vista político, da sua leitura não viria mal ao mundo. Estudava-se no liceu - a prova oral do meu exame de Literatura do 7º ano (no Liceu Camões, com Vergilio Ferreira) foi integralmente sobre os romances de Eça.
Outro caso curioso foi o de "O Dinossauro Excelentíssimo" de José Cardoso Pires, cuja primeira edição era acompanhada pelas famosas ilustrações de João Abel Manta.
Prevendo-se a sua apreensão imediata, o livro foi lançado (intencionalmente) com uma larga distribuição e um grande alarido de imprensa. A sua circulação motivou por isso uma tarde de acaloradas discussões na Assembleia Nacional, com acusações dos deputados à ineficácia da Polícia.
Com tanto espectáculo e publicidade, a Polícia já não se atreveu a retirá-lo do mercado. O escandalo seria maior que os prejuízos da sua circulação.
A Censura sabia bem o que fazia e a quem o fazia, ao contrário do que se relatou depois sobre os "disparates dos coronéis".
Que o digam aqueles que regularmente escreviam na imprensa. O corte de uma simples palavra, às vezes, era-lhes suficiente para nos destruir um texto. Ou, no caso das editoras, duas ou três apreensões sucessivas eram bastantes para abalar a frágil estrutura económica das editoras de então.

Quanto às listas de Marcelo, também é verdade. Como com os seus comentários a livros na TVI. Generosamente, Marcelo Rebelo de Sousa tenta apoiar a divulgação dos livros de autores portugueses. Mas fá-lo no pior dos sentidos, misturando tudo (desde as edições camarárias ou de confissões religiosas aos livros de autores na verdade importantes), denunciando uma forma de leitura apressada, superficial, sem critério. A chamada "leitura de badana", dos textos de contracapa - já agora, para fazer ironia com o título destes textos.
Alguém lhe deveria explicar que não é deste modo que se ganham leitores nem se incentiva a leitura - tal como ele procura explicar aos políticos as suas boas ou más intervenções ou actuações. A leitura não é isto. Nem se pode querer mostrar (por muito pouco que se diga que se dorme) que se leu em média dois ou três livros por dia. Os editores estão-lhe gratos pela sua generosidade e boa intenção - e já lho demonstraram publicamente. Mas esta avalanche de "leituras" só o desdignifica a ele e desorienta os leitores.

segunda-feira, junho 16, 2003

 
027 - DAVID LYNCH (2)

Com tantos mails recebidos sobre o assunto, voltemos então ao filme de David Lynch - embora esta conversa tenha um ano de atraso relativamente ao filme, que me desculpem os cinéfilos. Nem sempre se pode dar atenção a tudo, embora se devesse. Na altura da estreia, eu havia assistido, durante um jantar, a uma conversa entre Eduardo Prado Coelho e Inês Pedrosa acerca do filme. Fiquei curioso. Mas acabei por o "perder" no seu circuito normal.
Até agora, confesso, a melhor leitura acabei por encontrá-la nos comentários ao meu primeiro post.
Diz "H", do fordmustang : "um filme (...) feito para ser desfrutado mais do que analisado; feito para ser apreciado na sua componente estética e de caracterização de estados psicológicos de perplexidade, desorientação e de não-retorno, mais do que para estabelecer uma posição ou uma análise racional sobre determinado assunto".
É neste sentido que eu disse que o filme nos ajuda a repensar muita coisa.
Nomeadamente alguma literatura actual.
Lembro-me, por exemplo, do meu autor António Lobo Antunes quando escreveu: "gostava que os meus romances fossem lidos como se apanha uma doença". Referia-se evidentemente aos seus romances deste ciclo mais recente, os que implicam maior trabalho de leitura, nomeadamente ao ainda inédito "Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo" (Outubro/Novembro).
Diz o António: trata-se de um livro em que "regresso" a Angola, sobre o tráfego de diamantes, as pessoas na sociedade angolana actual.
Depois a gente vai ler e o livro não é nada disso. Ou seja: pode até "passar" por este "tema", mas é "sobre" muitas outras coisas. Para o lermos temos de "mergulhar" no texto (como quem apanha uma doença) e deixarmo-nos conduzir por ele. Como se o livro tivesse criado (construído) as suas regras próprias, deixando-nos "entrar" nele se nos entregamos; "recusando-nos" a entrada se o queremos forçar a um único significado, a uma leitura puramente interpretativa.
É assim com a montagem final do que Lynch filmou para Mulholland Drive.
Dadas as suas "ligações" com este tipo de cinema, percebi também por que é que são os leitores mais jovens os mais entusiastas com as obras mais recentes do António, enquanto os leitores da geração anterior (a minha) encontram certas dificuldades com a leitura dos seus romances actuais.
Insisto: vale a pena "reler" este filme, deixarmo-nos conduzir por ele sem fazer grandes interrogações. Como se alguém nos conduzisse pela mão até ao fundo (de quê?), e nós nos deixássemos arrastar, temerosos mas perplexos.
Desculpem as aspas (muitas), que em mim são uma forma de destacar as palavras cujo significado literal se pretende forçar...

sábado, junho 14, 2003

 
026 - AZARES

Algumas pessoas costumam dizer: ando em maré de azares...
Que raio se passará com o PS e com Ferro Rodrigues ?
Andam em "maré de azares" ?
Pois bem parece. Sobretudo depois da intervenção de Armando Vara sobre a amnistia promulgada pelo PR nos 25 anos do 25 de Abril.
Só faltava mais esta: uma Oposição completamente manietada pelo avolumar dos seus próprios erros e disparates.
É o momento em que os independentes se sentem orfãos...
 
025 - NOVIDADES POR AQUI
Com muito esforço, com muita paciência (sou tudo menos um especialista), lá consegui introduzir no Blog a possibilidade de comentários aos textos e um contador de visitas.
Vou descobrindo que as capacidades dos Blogs são enormes - para além das outras, que o Pacheco Pereira e a A. Roque têm estado a propor-nos para reflexão, com pouco êxito, infelizmente.
Uma delas, que não consegui ainda aprender, é a junção de imagens, que me "faz inveja" quando percorro alguns dos Blogs que leio regularmente.
Hoje é o penúltimo dia da Feira do Livro. Lá estarei, acompanhando o António Lobo Antunes - porque será que os escritores se sentirão tão desprotegidos diante dos seus leitores ? - alguns, claro, outros fazem disso um espectáculo de marionetas.
Leiam a crónica de Jorge Silva Melo, hoje, no MilFolhas do Público.
Leiam-no regularmente. Vale quase sempre a pena.

sexta-feira, junho 13, 2003

 
024 - O FBI E O CONTROLO DAS LEITURAS

Iniciei este blog com uma informação dos USA acerca do controlo do FBI sobre os cartões de crédito dos compradores de livros em Livrarias (001). Chegamos agora às requisições de leitura nas Bibliotecas.

(Lucía Petisco - Tribuna de Salamanca)

Las máquinas que guillotinan documentos están trabajando a destajo en algunas bibliotecas de California. El objetivo: salvaguardar los historiales de los lectores, y evitar que el FBI indague en sus archivos. Después de los atentados del 11 de septiembre, y con la lucha contra el terrorismo por bandera, se ha dado más poder al FBI y se le ha permitido incluso el acceso a los archivos de las bibliotecas. ¡Qué peligro! (...)
Tratar de controlar lo que el ciudadano lee, buscar relaciones entre lo que dicen los libros y lo que hace o piensa una persona es un peligro y, sobre todo, una amenaza a la libertad. A este paso, algún día se retomará el término de escritor maldito, y se meterán en ese saco la obra de Bukowski, por su burla al sueño americano; la de Saramago, por su grito contra la guerra; o las historias de Juan José Millás, y Eduardo Haro Tecglen por sus continuas irreverencias hacia la clase política.
Menos mal que esto es sólo un ejercicio de imaginación... al menos de momento.
Y como ahora estamos en plena Feria del Libro, nada mejor que ampliar ese historial literario, y lograr reducir el porcentaje de la población que declara que no lee nunca o casi nunca (nada más y nada menos que el 46 por ciento).
Saquen libros de la biblioteca, intercambien novelas con el vecino, pero lean...





 
023 - DAVID LYNCH

Li a recomendação de A Montanha Mágica ao filme Mulholland Drive, de David Lynch. Passei pela Fnac, comprei o DVD, e gastei a minha noite de St. António a ver o filme e a percorrer os extras, demoradamente.
Esta é uma outra qualidade dos blogs (infelizmente só de alguns...), a de podermos compartilhar informações, recomendações, emoções estéticas, até.
O filme é de 2001, passou em Portugal certamente em 2002 pelas datas de publicação das críticas, mas eu tinha-o deixado "escapar".
Obrigado A Montanha Mágica, trata-se na verdade de uma "grande fita", um filme de construção inquietante, decerto uma obra-prima, como eu já achara que era o Blue Velvet, que vi várias vezes.
Este vou voltar a vê-lo, hoje, de novo, durante o dia, tenho de encontrar um espaço para isso.
Ao vê-lo, lembrei-me muito do post que, por acaso, tinha escrito antes sobre A Escrita e a Leitura (022) a propósito de, neste caso, se forçar as imagens a dizer o que elas já quase não são capazes de dizer, do trabalho de decifração da leitura, do trabalho de elaboração da escrita cinematográfica tentando reter e transmitir os multiplos significados.
Para além das 10 pistas indicadas pelo autor do filme (para nos des-pistar ?), creio haver uma outra, essencial: a do mago, no "Clube Silêncio", quando diz que, afinal, tudo não passa de uma ilusão...
Creio também que a grande "modernidade" desta fita é que ela nos obriga (ajuda) a pensar, em conjunto, toda a arte do nosso tempo. Nomeadamente a literatura.
Vou vê-lo de novo, como já disse.
E quem não o viu, que o veja.
E quem já o viu, que me desculpe o atraso deste encontro.

quinta-feira, junho 12, 2003

 
022 - A ESCRITA, A LEITURA

"Je suis de plus en plus convaincu qu'un livre est raté s'il est dur à lire.".
Encontrei há dias esta frase numa entrevista do escritor Jonathan Coe e fiquei a pensar nela.
Por contraponto, ocorreu-me a conhecida frase de Lacan, "a ciência é árdua", quando explicava aos seus alunos a dificuldade dos seus textos e a necessidade de um profundo trabalho de decifração para a sua completa compreensão.
Muitos dos jovens escritores que actualmente me procuram defendem como qualidade a "facilidade" dos seus textos, o imediatismo da sua escrita, a necessidade de uma rápida comunicação com os seus futuros leitores.
Esquecem que a escrita é um trabalho, tal como a leitura (a decifração), e que é esse trabalho que introduz no sistema a noção de valor.
Pouco importa o que se escreve e como se escreve, quando escrever é apenas a repetição do que já está dito e escrito.
Escrever é um trabalho sobre as palavras (sobre a articulação da língua), forçando-as a dizer aquilo que, no limite, elas já quase não são capazes de dizer.
Por isso os grandes escritores nos surpreendem permanentemente.
Por isso um livro não é necessáriamente "raté s'il est dur à lire".
Porque a leitura não é apenas a simples decifração de um significado ou de uma emoção. Mas sobretudo o trabalho de compreensão das formas e dos modos, sob os quais, esse significado ou essa emoção, foram capazes de chegar até nós através das palavras que usamos todos os dias.
Como no cinema, na pintura, ou em qualquer das outras artes.
Mais importante que o medo, ou o susto que sentimos ao ver um filme de Hitchcock (recordo especialmente Under Capricorn, um dos meus preferidos), é entendermos, de que forma e por que meios, esse medo nos foi transmitido. Porque é isso que dá valor ao filme: o emocionante e surpreendente trabalho lá contido.

quarta-feira, junho 11, 2003

 
021 - FELGUEIRAS

Três canais de televisão (um de "serviço público"), ocuparam em simultâneo mais de 30 minutos do seu horário mais nobre, para que alguém pudesse insultar o sistema judicial português, um partido político do nosso sistema democrático, dizendo tudo o que entendeu dizer sem qualquer contraditório.
Tudo isto sem qualquer interrupção para publicidade: nem na telenovela, nem nos filmes, nem nos noticiários normais.
Tudo isto em directo, do Brasil, por satélite: nem na guerra do Iraque, nem em alguns debates importantes do Parlamento Europeu.
Tudo isto ainda, depois, com transcrições diversas, insistentes, sublinhadas, no meio do restante noticiário.
Convenhamos que foi perfeito: uma manipulação da opinião pública totalmente eficiente.
Três canais de televisão, em simultâneo, um deles de "serviço público".

terça-feira, junho 10, 2003

 
020 - DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES...

Não posso deixar de vos postar aqui, hoje, este artigo de jornal.
Um escritor galego, Xosé Luis Méndez Ferrín, publicado em Portugal pela Editorial Notícias e pela Dom Quixote, vencedor há uns anos do Prémio Literário do Eixo Atlântico (a que concorrem escritores portugueses e galegos), escreve e publica um texto em português no jornal galego "Faro de Vigo".
Não sei se a Senhora Presidente do Instituto Camões, ou o Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros têm quem lhes leia os blogs, ou lhos encaminhem.
Porque este post, por mim, é-lhes inteiramente dedicado neste dia de Camões.

No Día de Portugal: Razão de Estado
X. L. MÉNDEZ FERRÍN

Pela primeira vez na minha vida vou escrever uma crónica de jornal em
Português. A ocasião deriva do facto de amanhã celebrarmos o Dia de
Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Os nossos caros
vizinhos, como já tenho repetido, são o único povo da Europa cuja
festa nacional está consagrada à memória de um poeta, neste caso
porta do mundo moderno, que acumula à sua condição excelsa o carácter
simbólico de emblema lírico e épico da Nação.
Teve a República dos Sonhos, que isso é também Portugal para alguns de
nós, a ideia boa de constituir um Instituto Camões como entidade
consagrada á difusão e promoção da cultura portuguesa no mundo. A
trinta e poucos quilómetros da fronteira, em Vigo, tem a sua sede o
único centro do Instituto Camões que se encontra de porta aberta na
Espanha administrativa. Não há casa posta do Instituto Camões nem em
Madrid nem em Barcelona; em Vigo, sim, há!

E temos cá o Instituto Camões porque a Câmara Municipal de Vigo
percebeu a importância da empresa, comprou as casas mais antigas da
cidade, belíssimas e com um certo ponto rococó (Otero Pedrayo),
situadas na Pracinha do Tenente Almeida, noutros dias chamada Das
Cebolas, fez com a sua fábrica uma restauração requintada e cedeu o uso
do tudo isso ao Governo português, sem qualquer interesse
económico, por noventa e nove anos.

O Instituto Camões de Vigo, após um início feliz nos dias em que era
Cônsul a inesquecível e saudosa Anabela Cardoso, entrou
progressivamente num período de abandono e decadência que vem
coincidir com o governo de Durão Barroso en Lisboa, de coligação
PSD/PP. Tudo parece indicar que este
Governo, do qual o senhor Martins da Cruz, antigo embaixador em
Madrid, é Ministro dos Negócios Extrangeiros, não deseja para nada um
Instituto Camões em Vigo, enquadrado juridicamente, dotado
economicamente, activo e vivo
. A chamada Casa de Arines da Praça das
Cebolas de Vigo não interessa a Lisboa. Constato que no "site" da
internet do Instituto Camões as notícias do centro de Vigo não são
actualizadas e verifico que tem havido actividades desenvolvidas aqui
que mereciam aí figurar e não figuram.
O projecto da revista Desde LongeS, a editar pelo Instituto Camões em
Vigo, para o qual recebi um pedido de colaboração, ficou sem
resposta para desgosto do seu responsável, doutor Manuel Barroso.
Esta era uma excelente opurtunidade de consolidar a vida cultural da
Galiza e de Portugal, especialmente ao nível dos seus intelectuais.
As acções de divulgação turística, comercial, artística, cultural, de
importância ja não são mais implementadas a partir do Camões de aqui, e,
com surpresa, verifiquei que fechou o ICEP em Vigo: tratou-se do
encerramento de uma delegação do "Instituto do Comércio Externo
Português", organismo de Estado da maior importância, contrariando o que
o mesmo governo actual pretende: a "diplomacia económica".

No Dia de Portugal, a parte de população galega que deseja un
Instituto Camões dinámico e real sente-se defraudada. A direita
governamental de Lisboa não reconhece que a Galiza é uma raiz e o
cerne da nacionalidade portuguesa e que a sua representação
internacional tem a obrigação de entender de maneira específica esta
nossa comunidade, a qual compartilhou com a portuguesa a mesma língua
desde Afonso Henriques a Fernão Lopes.

Razão de Estado, diria eu para me referir aos interesses históricos
portugueses à hora de manter de forma privilegiada o Instituto Camões da
Galiza.
(os bolds são de minha responsabilidade: NM)


 
019 - VERGILIO FERREIRA

Gosto de citar o Vergílio. Já o fiz aqui, por mais do que uma vez, depois apaguei esses posts em atitude insensata.
Tive a sorte de o conhecer, de conviver de perto com ele, as citações que faço poucas são dos livros, mas das conversas que tivémos.
Vergílio era uma "máquina de pensar", para além, evidentemente, de um dos grandes escritores do século vinte português. Cada vez o vemos mais claro. Sugestão para A Montanha Mágica.
Quando discutíamos era difícil; ele já tinha tudo pensado, uma informação enorme, toda muito bem digerida.
Vem isto a propósito por eu dizer, amigavelmente, em posts anteriores, "os rapazes do Gato Fedorento". Houve quem não gostasse. Tem razão. Lembrei-me então do Vergílio quando me dizia:
- Não se esqueça... sou bastante mais velho que você. O que quer sobretudo dizer que me lembro de muito mais coisas...
 
018 - MAIS AGRADECIMENTOS

Para além dos que já referi (016), devo ainda agradecimentos a José Pinto Carneiro, Freitas Magalhães, Pedro Almeida Cabral, Sara Belo Luis, todos exigindo que não desistisse destas conversas. Um anónimo, "smaug the dragon", vai ao exagero de considerar os meus textos sobre temas editoriais como "um verdadeiro serviço público". Simpatias, que sabem bem ouvir. Mas era o que me faltava: competir com a estratégia e as definições do Dr. Morais Sarmento...
A Montanha Mágica, um dos blogs que mais me tem entusiasmado pelo bom-gosto com que trata as suas preferências culturais, envia-me também palavras de ânimo.
Por fim, os rapazes do Gato Fedorento relatam, do seu ponto de vista, a cena que também já contei (016) ocorrida na Feira do Livro. Com simpatia e fairplay.
Obrigado a todos.

segunda-feira, junho 09, 2003

 
017 - AINDA A BIENAL DO LIVRO DO BRASIL

Decididamente ando em fase de polémicas. De vez em quando parece que caem todas ao mesmo tempo.
O Senhor Director-Geral do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB) decidiu responder a uma crónica que publiquei no DNA (31.05. - não posso fazer link porque o DNA continua sem estar na Internet), acerca da falta de representação nacional naquele que é o mais importante certame do livro em língua portuguesa.
Lá estaremos, eu e ele, no próximo sábado dia 14.06., no mesmo dia em que publicarei uma crónica sobre o ensino da língua materna e a literatura.
Desculpem a auto-promoção.
A carta do Senhor Director-Geral do IPLB é bastante interessante, sobretudo depois de, com pompa e circunstância, nos termos feito representar na Feira do Livro de... Tóquio.
 
016 - OBRIGADO

Obrigado José Pacheco Pereira (Abrupto); obrigado Manuel Pinto (Webjornal); obrigado Ana Roque (Direitoeconomia), pelas palavras amáveis que me dirigiram, nos blogs e através de e-mails.
Gostei da distinção feita por Ana Roque entre a visão etária e a visão otária, que achei divertida e acertada.
Mas agradeço especialmente as palavras de Pacheco Pereira, que foi um pouco mais fundo, e me fez um desafio para que continue tocando no que para mim (aqui) também é importante.
Tinha pensado em parar, de facto; não porque o alarido, desta vez, tivesse sido directamente comigo.
Quando o foi (como a semana passada, quando os rapazes do Gato Fedorento se puseram a gritar que eu tinha o sentido de humor de um tijolo), resolvi o problema retirando uns posts do meu blog que mais os motivavam a prosseguir e, encontrando-os na Feira do Livro, resolvi cumprimentá-los com simpatia:
- Olá, sou o tijolo... disse-lhes.
Creio que o assunto se resolveu por aqui. Ficou apenas de fora o Possidónio Cachapa, que introduziu uns insultos na conversa, certamente para ajustar contas por lhe ter recusado um livro. Acontece, nesta minha vida. Com mais frequência do que se julga. Ninguém gosta de ser recusado. Por isso cultivo a delicadeza (e penso que a sensibilidade) de não falar destes assuntos a não ser que me provoquem.
Mas a discussão agora não foi comigo. Era uma coisa sobre esquerdas, direitas, extremas-direitas, insultos para cá, insultos para lá, palavras vazias, perda de tempo - pensei eu... Que é que ando por aqui a fazer ?
O blog fica aberto. Por respeito por aqueles que me chamaram a atenção para que o não fechasse. E porque afinal eu também gosto da conversa, já que os media estão no estado em que todos sabemos. E porque, na verdade, existem alguns blogs deveras estimulantes.
Voltarei aliás (em breve) a um tema destacado especialmente por Pacheco Pereira: o caso da publicação do livro de Rui Mateus e de como a "comunicação editorial" sofre tantas tentativas de manipulação quanto a "comunicação jornalistica".
Poderemos aliás vir ainda a falar de temas mais recentes, como os relacionados com a questão da pedofilia. Mas sobre esses, dado o "segredo de justiça", creio ainda ser cedo. E a mim, confesso, não me apetecia nada surpresas desagradáveis.
Continuemos, então. De vez em quando, como disse de início.
Obrigado, de novo.


domingo, junho 08, 2003

 
015 - EQUIVOCOS

Não há dúvida, enganei-me.
Onde julgava poder haver debate de ideias, critica, conversa, troca de informações - há apenas, fora algumas honrosas excepções, disparate, insulto, exibicionismo, parvoeira, perda de tempo.
Daí que o que sobra é um espaço estreito e desinteressante, não muito diferente das conversas dos miúdos, trocando gracejos através da net, brincando às escondidas com os computadores do papá.
De facto não há tempo para isto, mesmo respeitando aqueles que procuram e insistem noutros níveis de conversa.
Não me refiro aos blogs, claro.