sexta-feira, outubro 31, 2003

 
122 - LIVRO DE MARIA JOSÉ MORGADO

O lançamento do livro de Maria José Morgado e José Vegar, “O Inimigo sem Rosto – Fraude e corrupção em Portugal”, mereceu a atenção e o cuidado de quase toda a comunicação social. Ontem a RTP, com Judite de Sousa, SIC, SIC-Noticias, hoje o Diário Económico, Público, Diário de Noticias, Correio da Manhã, amanhã, sábado, a TSF com Margarida Marante, domingo a revista Pública com Adelino Gomes, etc.
Talvez isto queira dizer que outros temas importantes, como a fraude e a corrupção, começam a ocupar o lugar que se justifica nas nossas preocupações.
Vejamos se as autoridades se sensibilizam também para essa importância e para o fornecimento dos meios necessários à sua investigação.

 
121 - PHILIP ROTH

Eis um desgosto para os "fanáticos" de Philip Roth: o seu último livro, "The Human Stain", não será afinal publicado na altura da estreia do filme de Robert Benton, com Nicole Kidman e Anthony Hopckins.
Roth recusou qualquer relação de proximidade do seu livro com o filme. Nenhuma imagem do filme na capa, nenhuma indicação na sua biografia dessa adaptação, etc.
Ignoro por quê.
Mas a vontade e as decisões dos autores são para nós sempre soberanas.
Mesmo dos que não estão cá para as controlar.
Desgosto para os blogues Portugal dos Pequeninos e A Montanha Mágica, pelo menos. Desgosto para mim também, é claro.

terça-feira, outubro 28, 2003

 
120 - A ENTREVISTA

Primeiro comentário: ao ouvir a entrevista com o Presidente a minha reacção inicial foi pensar: finalmente alguém assume a oposição às políticas do Governo. Sei que se trata de uma frase deslocada e algo comprometedora para o Presidente. Mas foi o que concluí a uma primeira leitura.
Sobretudo as suas criticas implícitas às prioridades do orçamento para 2004 deixaram-me preocupado. Há que pensar que o défice real se tem mantido muito acima daquele que o Governo insiste em apresentar ao país. O Presidente disse-o: uma coisa é o défice real resultante das contas reais; outra coisa são as medidas extraordinárias inventadas para o corrigir. Nenhum país (como nenhuma empresa) pode iludir-se permanentemente com o recurso a medidas extraordinárias.
Vejamos como reagem os Partidos. Como o avestruz, certamente, cada um à sua maneira. A entrevista foi incómoda para todos. Mas todos irão apoiá-la.

Segundo comentário: a Cultura foi coisa que não existiu nas preocupações dos entrevistadores. Por isso o Presidente também não se referiu a ela. E no entanto é ela um dos factores de recuperação da nossa auto-estima. A presença e os prémios internacionais dos nossos escritores, artistas plásticos, musicos, cineastas, arquitectos, etc. A não ser que se esteja a pensar que apenas os estádios e o futebol nos salvarão...

Terceiro comentário: uma excelente entrevista, com um timing algo estranho (ausência do país do Primeiro Ministro e do líder do PS, véspera do previsto julgamento do Bibi), uma generosa boleia ao PS, mostrando que o Presidente não anda mesmo nada distraído (vide referência ao caso do Hospital Amadora-Sintra).

segunda-feira, outubro 27, 2003

 
119 - SURPREENDENTE E GRAVE

Foram roubadas da Direcção Distrital de Finanças de Lisboa as assinaturas digitais de todos os chefes de repartição. E mais: foram igualmente roubadas as bases de dados relativas aos principais devedores ao fisco (acima dos 250.000 euros, cada), mais a lista dos processos em execução fiscal.
Parece que não existem cópias de toda esta documentação, admitindo-se portanto a quebra das cobranças em curso.
Um assalto inocente, está a ver-se. Os larápios queriam apenas roubar os computadores. Por engano levaram também estes ficheiros.
Diz o Público que a Ministra das Finanças confirmou já o sucedido, embora desdramatizando a situação.
Por isso se fala tão pouco do assunto. Tem pouca importância. Afinal, certamente, os valores em causa já seriam dificilmente cobráveis.

domingo, outubro 26, 2003

 
118 - JOSÉ CARDOSO PIRES

O Diário de Noticias e a sua equipa da cultura, estão hoje de parabéns. Bonita homenagem (nas páginas 2, 3, 4, 5 e 6, com chamada na primeira), pela passagem do 5º aniversário da morte de José Cardoso Pires.
No Público (jornal onde o Zé escreveu semanalmente as suas crónicas no tempo da direcção de Vicente Jorge Silva), nem uma palavra.
Nos programas das televisões também não – ao menos com a inserção de um dos filmes extraídos dos seus romances: Balada da Praia dos Cães, de José Fonseca e Costa, ou O Delfim, de Fernando Lopes.
Mas também a Câmara de Lisboa se esqueceu. Duplamente. No tempo de João Soares/Maria Calado, ficaram na gaveta as propostas aprovadas logo após o seu falecimento, do nome para uma rua e para uma Biblioteca Municipal. Agora, no tempo de Santana Lopes/Maria Manuel Pinto Barbosa, as “bibliotecas estão fechadas ao domingo”…talvez para a semana o assunto da rua volte a ser discutido.
E não é verdade que outros municípios não tenham feito nada. Há uns meses, a Câmara Municipal de Vila de Rei (a mártir dos incêndios), deu o nome do Zé a uma rua e organizou-lhe uma homenagem com intervenções de Lídia Jorge, Rogério Rodrigues, Fernando Paulouro das Neves, Ana Cardoso Pires, do Presidente do IPLB e do Ministro da Cultura. Hoje à noite, a Câmara Municipal de Bombarral comemora estes 5 anos também com uma sessão de homenagem com intervenções de Ruy Zink e de mim próprio, que também participei da primeira.
Dezanove municípios honraram já a sua toponímia com ruas que recordam o seu nome. Lisboa, a sua cidade, deixou-se ficar para o fim. Vergonhosamente… para quem cá vive.
Valha-nos a descentralização…

 
117 - JOÃO UBALDO RIBEIRO

Parece que tenho um novo leitor para estes textos, do outro lado do mar: o escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro.
Nada me deixa mais feliz.
O João é um grande escritor, um enorme contador de histórias, um homem que sabe fazer passar o humor, discretamente, pelo meio das palavras, um criador de linguagem, como dirão os críticos literários.
Escreveu um livro que considero excepcional: “Viva o Povo Brasileiro”. Durante muitos anos, antes de conseguir publicá-lo, foi um livro que li e reli por várias vezes. Um daqueles livros que abrimos à noite, ao acaso, para nos encantarmos com a leitura de algumas páginas. Depois pousamo-lo, lentamente, em cima da mesa, e ficamos a pensar no que nos conta.
E como nos conta.
De que modo e de que maneira aquelas palavras se ordenam para nos irem construindo o sentido e as emoções que nos transmitem.
Vai agora sair, até ao final do ano, o seu último romance publicado no Brasil: “Diário do Farol”. Um livro misterioso – assim o classifiquei no post anterior. Um narrador que, com a maior das canduras e ingenuidade, nos vai relatando as grandes maldades e tropelias que atravessaram a sua vida. Um exercício de linguagem que certamente não foi fácil de trabalhar e conseguir. Perfeito, dir-vos-ia. Com tudo aquilo que nos evidencia o que é o trabalho minucioso de um grande escritor.

João: agora que sei que nos visita através dos blogues, aí tem ao lado, à direita, alguns links para a bloguistica portuguesa. Neles encontrará outros, como num rendilhado.

sábado, outubro 25, 2003

 
116 - NOVOS LIVROS

Como não me apetece nada (mesmo nada…) estar a falar de outros “assuntos correntes”, aqui ficam algumas notas publicitárias, como lhes têm chamado alguns blogues mais mal-humorados.
Novas edições até ao final do ano:

LITERATURA

Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo – o novo romance de António Lobo Antunes, após a recente atribuição do prémio União Latina. Será lançado em 18/11, durante um jantar comemorativo dos 20 anos de trabalho conjunto entre o editor e o autor. Apresentações de Eduardo Lourenço e de Maria Luísa Blanco (directora de Babélia/El País);
Portugal – edição especial deste texto de Miguel Torga, acompanhado de fotografias do Prémio Pessoa, 2000, José Manuel Rodrigues;
Fica Comigo Esta Noite – contos maravilhosos de Inês Pedrosa;
Coisas da Alma – contos de João de Melo;
Nunca Mais é Sábado – uma antologia de poesia e de poetas de Moçambique, organizada por Nelson Saúte;
Catálogo de Sombras – contos do angolano José Eduardo Agualusa;
Vermelho – o novo e surpreendente romance de Mafalda Ivo Cruz;
O Paraíso na Outra Esquina – o último romance de Mário Vargas Llosa, recentemente lançado com a sua presença em Portugal;
Para Além da Crença – novo romance de V.S.Naipaul, o prémio Nobel de 2001;
Está a Fazer-se Cada Vez Mais Tarde – o belíssimo romance de António Tabucchi, até ao momento inédito em Portugal;
Diário do Farol – misterioso romance de João Ubaldo Ribeiro;
Poemas Escolhidos de Jorge Luís Borges – edição bilingue, organização e tradução de Ruy Belo. A recuperação de um projecto antigo em homenagem a Ruy Belo, meu poeta de cabeceira;
• A reedição dos 4 romances de Coetzee, após a atribuição do Nobel deste ano. O 20º Nobel no catálogo da DQ. Dá gosto… sobretudo quando as apostas são anteriores ao prémio;
• Uma Antologia Lírica de Luís de Camões, em edição de bolso, excelentemente organizada pelo poeta e crítico literário Fernando Pinto do Amaral. O prazer de ler os textos tal e qual eles são. Um escândalo… as diferenças com as edições existentes.

NÃO-FICÇÃO

O Inimigo sem Rosto – o importantíssimo e perturbador livro de Maria José Morgado e José Vegar sobre a fraude e a corrupção em Portugal. Nas livrarias já no próximo dia 31.10. Cobertura total de jornais, rádios, televisões. A esgotar no próprio dia, espero;
O Estrago da Nação, Olhem para Mim, O Processo Casa Pia – os 3 primeiros títulos da nova colecção Cadernos DQ de Reportagem, da autoria, respectivamente, dos jornalistas Pedro Almeida Vieira, Fernanda Câncio, Óscar Mascarenhas. Os jornalistas deixam de poder queixar-se: passaram a ter um novo espaço de trabalho, um espaço onde se pode ir mais longe;
Aprender a Ouvir Música Clássica – pelo maestro António Vitorino d' Almeida;
Saber Escrever – um guia para uma melhor utilização da língua portuguesa, por uma equipa coordenada por Edite Estrela. Muito útil, nos tempos que correm. Até para os blogues...;
• As Entrevistas de Anabela Mota Ribeiro – finalmente reunidas em livro;
• As Memórias Vivas da senhora Clinton – polémico, talvez. Bom para os curiosos;
As Maçãs do Senhor Peabody – Madonna publica o seu segundo texto para crianças. Houve muitas que gostaram;

E aqui fica a publicidade. Se entenderem podem também usá-la como informação.

 
115 - MARIO VARGAS LLOSA

Desta vez o comentário de A Montanha Mágica foi injusto para com os jornalistas portugueses.
Mario Vargas Llosa esteve em Portugal por 4 ou 5 dias. Durante esse tempo foi possível à Dom Quixote organizar encontros e entrevistas com quase todos os mais importantes orgãos de comunicação social portugueses. Vieram todos, todos fizeram com ele o trabalho que entenderam. Muitas entrevistas e outros trabalhos estão, naturalmente, ainda por publicar: a revista Publica (Adelino Gomes), as revistas Ler e Os Meus Livros, o Expresso, uma longa entrevista de televisão com a Ana Sousa Dias (para além da de Judite de Sousa, transmitida a horas anormalmente tardias), a Visão, etc. Sairam apenas, até agora, as dos jornais diários e rádios (TSF), sempre mais flexíveis, como é natural.
Não há razão para comentários negativos. Desta vez.
Os problemas foram outros.
Durante a sua estadia Mário perguntou-me várias vezes se os jornalistas com quem falou conheceriam de factos os seus livros. Isto porque lhe não faziam perguntas sobre literatura; apenas sobre política. Tive de lhe explicar que, em Portugal, o raio da política invade tudo, mesmo a cabeça dos jornalistas culturais. É uma seca. Ele respondia: mas sobre o Perú?!!! Interessa-lhes assim tanto o que se passa no Perú? Ainda se fosse sobre o Iraque, tu não achas?

domingo, outubro 19, 2003

 
114 - FRANKFURT

O Ministro da Cultura esteve na Feira do Livro de Frankfurt, informa o blogue Portugal dos Pequeninos.
Não tive o gosto de o ver nem de o cumprimentar. Julgo que passou por lá no final da Feira.
Já lá vai o tempo em que os stands dos editores em representação nacional eram visitados com cortesia pelo nosso Embaixador na Alemanha, pelo ICEP local, pelo Ministro e/ou Secretário de Estado da Cultura, pelos Presidentes do IPLB e do Instituto Camões, um corropio de personalidades oficiais, de jornalistas, de autores...
Estamos a precisar de outro Prémio Nobel.
Agora há pouco espaço para tirar fotografias.

sexta-feira, outubro 17, 2003

 
113 - BOMBA INTELIGENTE

Uma palavra de simpatia e apreço para a Charlotte, autora do blogue Bomba Inteligente.
Há algum tempo que pensava fazê-lo, mas o tempo foi adiando a iniciativa.
Não só pelo humor das suas Cenas da Vida Conjugal, como pela inteligência do restante.
Leio e acompanho este blogue (aguardo com curiosidade a decisão pedida aos linguistas sobre a utilização da palavra...) com a maior atenção.
Já agora: um mau escritor, como um mau pedreiro, distingue-se, creio eu, com facilidade.
Vê-se bem, salta à vista.
O que é difícil é distinguir os bons.
Além de serem poucos não costumam deixar as costuras à mostra...
 
112 - E NÃO SE PODE EXTERMINÁ-LOS ?

É uma interrogação dura e extrema, com a qual terminava uma selecção de textos de Karl Valentin, encenados há alguns anos pelo Teatro da Cornucópia e por Jorge Silva Melo.

Nunca mais esqueci este espectáculo fascinante.

Mas se a frase é extrema, não se poderia ao menos alterá-la, actualmente, para E NÃO SE PODE MANDÁ-LOS CALAR? Não se lhes pode pedir que se calem? Não se lhes pode pedir que acabem com este espectáculo deprimente e lamentável? Não se lhes pode pedir serenidade e dignidade? Políticos, ex-políticos, comentadores, advogados, juizes, procuradores, deputados, arguidos, testemunhas, psiquiatras, psicólogos e psicanalistas, provedores, alunos e ex-alunos, eu sei lá...

O país está doente – há quem diga. Caramba, como não há-de estar...

terça-feira, outubro 14, 2003

 
111 - A POLÍTICA, OS POLÍTICOS...

Decidi não comentar aqui nenhum dos recentes acontecimentos políticos.
Em primeiro lugar porque ocorreram durante a minha ausência e já foram todos largamente comentados na comunicação social tradicional e pela maioria dos blogues.
Depois porque sinto vergonha destas situações, porque me sinto incomodado enquanto cidadão.
Sei que a democracia de faz com os partidos políticos e que nos cabe tentar preservar e respeitar a dignidade da imagem dos políticos.
Mas como, nas actuais circunstâncias ? Se eles próprios dão de si mesmos a triste imagem de comportamento e de conduta a que estamos a assistir ?
Para além dos 2 Ministros demitidos, da sua actuação e das suas palavras de honra, como aguentar ouvir nas televisões os comentários do senhor Guilherme Silva ou da senhora dona Ana Gomes ? O senhor Ferro Rodrigues ou o espectáculo lamentável do senhor Paulo Pedroso ? Um juiz em todo o terreno ou um procurador falando mais do que deveria ?
Como aguentar tudo isto sem sentir vergonha de viver aqui, da pobreza do nosso ambiente político, destes políticos que se dirigem aos seus concidadãos como se todos nós fossemos estúpidos, como se nenhum de nós soubesse pensar, como se não tivéssemos a nossa própria capacidade de discernimento ?
Afinal que país real conhecem a eles, que ideia têm a nosso respeito, continuarão a julgar-se reis num país de cegos ?
Não haverá um único que tenha coragem de mostrar a dignidade que lhes cabe ?
Não haverá um único que evite o populismo ou a demagogia de tentar esconder o que é óbvio ?
Que respeite os seus eleitores, os cidadãos deste país ?

domingo, outubro 12, 2003

 
110 - DE NOVO O NOBEL...

"O nosso editor reage mal sempre que uma edição da Dom Quixote é criticada, e isso é natural. Não gostou da comparação que fiz entre a edição portuguesa e a inglesa de Coetzee, que a sua editora teve o mérito de publicar. Mas agora, que vai ter que reeditar os livros por causa do Nobel, valia a pena corrigir alguns aspectos da edição portuguesa de Desgraça."

Só hoje, de regresso da Feira do Livro de Frankfurt, pude ler este comentário de Pacheco Pereira sobre o texto de contracapa deste romance de Coetzee.
A expressão "reage mal sempre", usada por Pacheco Pereira, é no entanto um pouco despropositada. E inadequada em alguém que tem a obrigação de ter cuidado com as palavras.
Não é verdade o que diz, ouço com cuidado os comentários que me dirigem e corrijo-me sempre que considero necessário.
No caso presente posso até dizer que dei já indicações para que o texto de contracapa do livro fosse corrigido na nova edição.
A edição deste livro entretanto esgotou, assim como as dos outros livros de Coetzee.
Os quatro romances de Coetzee irão portanto reaparecer dentro de dias com uma nova imagem gráfica uniforme (sempre da autoria do Henrique Cayatte) e com novos textos de contracapa menos controversos (julgo).

 
109 - A ALEMANHA JÁ NÃO É O QUE ERA…

A Alemanha já não é o que era… – diz-me um amigo à chegada ao aeroporto de Frankfurt.
A fila para os táxis, caótica, empurrões, um “salve-se quem puder”, sem a menor ordem, disciplina, ou respeito. Comparado com isto o aeroporto de Lisboa pareceu-me de súbito um paraíso.
À noite, ao chegar para jantar em casa de amigos, a campainha da porta não tocava dentro de casa, a porta também não abria pelo lado de dentro. A Alemanha já não é o que era… – diziam os meus amigos aos convidados que iam entrando, à medida que eram vistos da janela.
Na Feira do Livro a crise e a poupança eram mais do que visíveis. Stands de grandes editores internacionais reduzidos a metade, menores representações nacionais, menos cocktails, menos festas, menos novidades, nenhuma surpresa, os editores e os agentes ensaiavam declaradamente uma nova solução: vendiam “ar”. Quer dizer: tentavam vender por pequenas fortunas livros que ainda não existem, que irão ainda ser escritos, que estarão concluídos lá para 2005, ou 2008, ou 2010, na melhor das hipóteses.
À falta de negócios concretos, antecipavam-se receitas sobre o que ainda não existe.
Alguns ingénuos, compravam, negociavam, participavam em leilões de direitos sobre o vazio. Ele era a biografia de “x”, as memórias de “y”, a vida intima de “z”. Tudo isto se vendia, ou se procurava vender, através de breves descrições escritas pelos próprios responsáveis de marketing dos vendedores.

A Europa já não é o que era… - dizia-se.

segunda-feira, outubro 06, 2003

 
108 - O NOBEL, OUTRA VEZ...

Enquanto, num lado, Marcelo falava de livros no seu programa dominical, tive oportunidade de ir espreitar pela primeira vez Pacheco Pereira, ao outro.
Tive azar.
Pacheco falava de livros, também - a isso obriga provavelmente a concorrência televisiva.
Como de costume, defendendo-se de fazer outros comentários, Marcelo mostrava apressadamente as capas e arrumava a questão. Dele não se espera muito mais. Creio que nem sequer referiu o Nobel.
Ao contrário, Pacheco, mais erudito, tentava ir mais longe. Comentava os textos de contracapa das edições portuguesas, mostrava as edições estrangeiras, falava das capas, mais ou menos adequadas em seu entender, contava aos espectadores o “enredo” dos livros, como quem lhes conta uma história das mil e uma noites.
Falava de Coetzee... sem dizer uma palavra sobre literatura. Quer dizer: sobre as razões que afinal justificaram a atribuição do Nobel a este importante escritor da literatura pós-colonial.
Receia-se que Marcelo tenha encontrado um “renovador” para o seu estilo…
Ou que os políticos tenham encontrado no discurso sobre o literário uma nova forma de competição.
Ou, ainda, que tudo isto não passe da ocupação de um espaço que o Ministro da Cultura tem deixado ao abandono.


domingo, outubro 05, 2003

 
107 - AINDA O NOBEL...

A chamada “short list” (segundo constou…) era este ano riquíssima: para além de Coetzee, estavam Ismail Kadaré, Salman Rushdie, Philip Roth, Mário Vargas Llosa, António Lobo Antunes, etc.
Todos grandes escritores. Todos publicados pela Dom Quixote.

Respondo agora a A Montanha Mágica: sim, confirmo que Mário Vargas Llosa estará de novo em Portugal no final deste mês de Outubro.
Convidado o ano passado, em Frankfurt, aceitou o programa de visita que lhe foi proposto e confirmou já as datas: 21, 22 e 23 de Outubro, em Lisboa; 24, no Porto.
Mário colocou uma única questão: queria tempo livre para conhecer Lisboa um pouco mais demoradamente e visitar alguns amigos.
Virá acompanhar o lançamento do seu último romance, “O Paraíso na Outra Esquina”, que já está nas livrarias.
Para além do programa normal da sua estadia vamos tentar surpreendê-lo, a propósito do tema deste seu novo livro, organizando um encontro com uma Senhora, neta de Gaugin, que vive em Cascais.

sábado, outubro 04, 2003

 
106 - PRÉMIOS

Parto para a Feira de Frankfurt num momento de prémios literários.
O Nobel para J. M. Coetzee, ao fim dos 4 romances publicados ( "À Espera dos Bárbaros", "A Ilha", "A Idade do Ferro" e "Desgraça" - certamente alguns terão agora de ser reeditados); os do Pen Clube para o romance "O Rapaz de Boticelli", de Mafalda Ivo Cruz (no momento em que é colocado nas livrarias o seu novo romance: "Vermelho"), e para a "Obra Poética" de João Rui de Sousa; o prémio Fernando Namora (do Estoril-Sol) para o romance "O Homem que Sabia a Mar", de Armando Silva Carvalho; o Prémio da Crítica também para a "Obra Poética" de João Rui de Sousa.
Sinto-me como o Pacheco Pereira a fazer o elogio do número de leitores do seu blogue...
Parabéns aos Autores. Sobretudo ao Coetzee, enorme escritor, que não lerá certamente esta mensagem.
Ao menos assim teremos direito a umas linhas na comunicação social. Depois de lhes enviarmos as informações preparadas, já se sabe.
Sobre Coetzee encontrarão aqui reproduzida uma breve mas interessante nota biográfica: Não Esperem Nada de Mim. E aqui, em A Montanha Mágica, como não podia deixar de ser, uma excelente entrevista. Os blogues não andam distraídos.

Quanto a Frankfurt é cada vez mais uma maçada.
Este ano até o Nobel foi anunciado antes.
Até essa expectativa lhe foi retirada.