domingo, outubro 12, 2003

 
109 - A ALEMANHA JÁ NÃO É O QUE ERA…

A Alemanha já não é o que era… – diz-me um amigo à chegada ao aeroporto de Frankfurt.
A fila para os táxis, caótica, empurrões, um “salve-se quem puder”, sem a menor ordem, disciplina, ou respeito. Comparado com isto o aeroporto de Lisboa pareceu-me de súbito um paraíso.
À noite, ao chegar para jantar em casa de amigos, a campainha da porta não tocava dentro de casa, a porta também não abria pelo lado de dentro. A Alemanha já não é o que era… – diziam os meus amigos aos convidados que iam entrando, à medida que eram vistos da janela.
Na Feira do Livro a crise e a poupança eram mais do que visíveis. Stands de grandes editores internacionais reduzidos a metade, menores representações nacionais, menos cocktails, menos festas, menos novidades, nenhuma surpresa, os editores e os agentes ensaiavam declaradamente uma nova solução: vendiam “ar”. Quer dizer: tentavam vender por pequenas fortunas livros que ainda não existem, que irão ainda ser escritos, que estarão concluídos lá para 2005, ou 2008, ou 2010, na melhor das hipóteses.
À falta de negócios concretos, antecipavam-se receitas sobre o que ainda não existe.
Alguns ingénuos, compravam, negociavam, participavam em leilões de direitos sobre o vazio. Ele era a biografia de “x”, as memórias de “y”, a vida intima de “z”. Tudo isto se vendia, ou se procurava vender, através de breves descrições escritas pelos próprios responsáveis de marketing dos vendedores.

A Europa já não é o que era… - dizia-se.