domingo, agosto 31, 2003

 
089 - GRANDE RAZIA

Afinal não são só os blogues que se suspendem ou extinguem com o calor do Verão, o Acontece que se pulveriza no meio dos telejornais diários, os programas Flashback e Grande Júri que desaparecem da TSF ainda não se sabe bem para onde, a Livraria Francesa (mais umas quantas a que ninguém presta atenção...) que fecha as portas definitivamente, agora também a Grande Reportagem perde a sua periodicidade e circulação autónoma.
Fora o resto, que ainda nos espera.
Grande razia, na verdade.

sábado, agosto 30, 2003

 
088 - AUTORES

Aqui fica arquivada mais uma história de autores. Esta publicada hoje mesmo pelo DNA.
Depois de Vergilio Ferreira, do Zé Cardoso Pires, do António Lobo Antunes, do Ruy Belo, do José Gomes Ferreira, dou um salto no tempo até a uma geração posterior:

INÊS PEDROSA

On ne bâtit un bonheur que sur un fondement de désespoir.
Je crois que je vais pouvoir me mettre à construire.

M. Yourcenar


O Pedrosa, o Ricardo Pedrosa, era um matemático competente, um homem grande e austero, mas de uma simpatia e cordialidade que parecia não ter a ver com o seu corpo grande, bem constituído, de atleta. Creio que isso lhe vinha dos muitos anos como oficial miliciano a que esses tempos obrigavam, como daí lhe viriam também os hábitos de disciplina e de rigor com que organizava meticulosamente a sua vida. Trabalhámos juntos muitos anos, lado a lado, sob a direcção do Doutor Camelo, o Dr. Amândio Camelo, tal como o Pedrosa, também já falecido.
Trabalhávamos com boa disposição, cultivávamos o humor e a brincadeira. O Doutor Camelo, que não era propriamente um ás do volante, era até frequentemente insultado durante a condução:
- Seu camelo... – berravam-lhe amiúde de dentro dos outros carros.
Ao que ele respondia, erguendo cortesmente o chapéu:
- Como está, passou bem... – como se se dirigisse a alguém que acabasse de o reconhecer.
O Pedrosa era um pai-galinha, como se costuma dizer, vaidoso das suas crias, de quem cuidava enternecido e babado, mas simultaneamente com aquela austeridade que parecia querer mostrar que “a coisa não era nada com ele”..
Periodicamente, porém, lá tínhamos de aguentar a cena. O Pedrosa trazia a filha para mostrar aos colegas. Ora porque ia com ela a uma consulta médica, ora para não ficar sozinha em casa, todos os pretextos lhe serviam. Lá vinha a criança vestidinha de branco, com um vestido rodado, laçarotes, fazer gracinhas para o emprego do papá. O Pedrosa pegava-lhe ao colo, punha-a de pé em cima da secretária, e a menina lá ia fazendo as suas habilidades.
Foi assim que primeiro conheci a Inês.
É-me difícil localizar no tempo quando tudo isto se passava, mas certamente há bem mais do que trinta anos.
Depois de concluídas as suas palhaçadas a Inês andava de colo em colo, lambuzava-nos a cara com os seus beijos molhados de chocolate, lembro-me que perguntava tudo a todos, queria saber tudo, perante o olhar embevecido mas distante do Pedrosa.
Quando a voltei a encontrar, anos mais tarde, e o nosso convívio verdadeiramente começou, era ela já uma jornalista literária, colaborando no JL, escrevendo sobre livros, fazendo entrevistas a escritores importantes. Lembro-me que a sua escrita me impressionou pela qualidade, consistência e desenvoltura – nós, os editores, achamos sempre que conseguimos aprender a reconhecer estas “promessas”.
Deixei passar mais uns anos, calmamente, até lhe fazer o desafio:
- Quando é que tentas escrever um romance?
Não se pode fazer estes desafios a pessoas determinadas como a Inês. É uma costela que lhe ficou certamente do Pedrosa, tanto quanto se pode falar assim. O que é certo é que a Inês, sem dizer nada a ninguém, organizou a sua vida, recolheu-se um pouco das saídas nocturnas, aproveitou a organização de um primeiro casamento e pôs-se a escrever. Um dia convidou-me a passar lá por casa, numa tarde de sábado.
- Aqui tens. Chama-se A Instrução dos Amantes...
Colocou-me nos braços um maço de folhas dactilografadas e só então me revelou que era a filha do Pedrosa, a quem entretanto eu tinha perdido o rasto.
Pedi-lhe um lápis emprestado (já não sei ler sem lápis, mesmo que o não use) e, logo em sua casa, iniciei a leitura. Publiquei o livro em Abril de 1992, já lá vão mais de dez anos, e até hoje já fez para aí umas 10 edições, foi traduzido em Espanha, incluído em bolso, vai a caminho de outros países e de outras aventuras.
Desde essa data, construímos em conjunto vários projectos, envolvemo-nos em muitas iniciativas editoriais, trabalhámos em muitos livros, construímos uma relação de cumplicidade e amizade estreitas, a Inês publicou entretanto mais dois romances que, a meu ver, comprovaram sobejamente o desafio que lhe havia feito.
Não tive outra importância que não essa, tê-la sabido desafiar. O resto foi tudo trabalho seu. Muito trabalho seu.
Entretanto o Pedrosa faleceu, apressadamente, de surpresa, sem dar tempo a que nos voltássemos a encontrar. Conheceu ainda a neta, a Laura, com quem se preparava certamente para se enternecer, do mesmo modo que havia feito com a filha, mas já sem necessidade de exibir a antiga austeridade, que isto com os netos, como sabem os que lá chegaram, é uma coisa diferente, já sem espaço para austeridades.
Depois disso, como com o primeiro romance, a Inês pôs-se a escrever entrelaçando agora na sua escrita o peso de uma morte recente, o lado vagaroso de um trabalho que queria por força entender a densidade do que havia caído sobre ela. Daí nasceu este seu último romance, Fazes-me Falta, atingindo num curto espaço de tempo mais de 50.000 leitores em Portugal, para além das edições em Espanha, Alemanha, França, Brasil.
Decidiu, amavelmente, dedicar-me este livro. Devia tê-lo feito, antes, com o primeiro. O único de que, como editor, tenho motivos para me orgulhar. Tudo o mais, a seguir, foi trabalho dela. Só dela.

terça-feira, agosto 26, 2003

 
087 - REGRESSO, 2

De regresso, percorro com algum vagar os blogues cuja leitura havia ficado atrasada. Não me arrependo. Há sempre sinais de inteligência e de interesse no que vai ficando escrito por aqui.
Mas de súbito tomo consciência: grande parte dos posts mais recentes são de despedida ou anúncio de longos interregnos - que é que se passa ?
Os blogues não souberam resistir ao calor incendiado deste Verão ? Eram de facto apenas uma moda, como comentava Eduardo Prado Coelho ? Atingiram os seus objectivos de notoriedade e foram pregar para outras freguesias ? Desistiram ? Cansaram-se ? Têm mais que fazer ?
Com tudo isso não deixam de continuar a revelar mais uma faceta do nosso modo de ser, da "genuina alma nacional". Talvez um dia o nosso Sociólogo tenha paciência e tempo para nos explicar isto.
Espero que resistam os melhores, aqueles que de facto têm coisas para dizer, que discutem pelo prazer e interesse em confrontar e repartir ideias. Que sabem que pensar em voz alta não é propriamente o mesmo que andar em busca de pepitas de ouro. A maior parte das vezes não se encontra nada.

segunda-feira, agosto 25, 2003

 
086 - REGRESSO...

Regresso.
Não muito animado.
O verão foi violento e duro, o país ficou bastante mais pobre do que era, muita dessa pobreza nem nós a imaginamos bem, agora.
Ela acabará por revelar-se depois, lentamente, quase sem darmos por isso, nos mais variados aspectos da nossa vida.
Nem vale a pena iludirmo-nos com os apoios anunciados, com os preços garantidos, com os subsídios que hão-de chegar de fora, com as colectas públicas aparentemente generosas, etc. Os grandes proprietários, como sempre, começarão a recolher tudo isso com os seus lobbies, as suas estruturas bem preparadas. Os pequenos (também como sempre...) terão de dirigir-se às Juntas de Freguesia, preencher papéis, requerimentos, juntar certidões, preencher mais papéis, fornecer dados justificativos, aguardar, aguardar... aguardar até ao esquecimento.
*
As páginas de economia do Expresso, este último fim de semana, relatavam aliás um estudo curioso. Tudo desceu: o consumo de cimento, a compra de brinquedos, a compra de casas, de vestuário, as despesas com restaurantes, etc.
Só uma coisa subiu: as despesas dos portugueses com o totoloto e o totobola (cerca de 15%).
Somos assim. Não protegemos a riqueza criada. Apostamos na sorte.
Os Governos também, apostam na sorte. Falta-lhes a capacidade de previsão, o estudo sério dos problemas, a iniciativa, a seriedade dos processos.
Tira-se de um bolso; põe-se no outro. Fica tudo na mesma, não se criou riqueza nenhuma, mas o Orçamento anual fica mais limpo, a ver se conseguimos enganar-nos a nós próprios. Como na decisão recente de vender património público imobiliário à Caixa Geral de Depósitos.
Tira-se de um bolso; põe-se no outro.
Lamentável.

segunda-feira, agosto 11, 2003

 
085 - O "ACONTECE", AINDA...

“Ainda há homens assim” – encontrei escrito no blogue de Manuel Falcão a propósito do texto deixado escrito por João Pulido Valente para depois da sua morte.
Deveria dizer-se antes: “Já quase não há homens assim”.

*
Escrevi no DNA contra o fim do Acontece, apesar de ter sido um programa que nunca me agradou, conforme tive oportunidade de dizer nesse mesmo texto. Pelos seus enormes defeitos, pelo seu amiguismo exagerado, pela sua superficialidade talvez inevitável.
Mas, mesmo com tudo isso, não fazia qualquer sentido eliminá-lo sem alternativas, sobretudo fazendo-o do modo desastrado como foi feito, humilhando publicamente o seu autor.
Anunciam agora os jornais (li a notícia no Público de 09.08.) que afinal o Acontece vai ter em breve um programa substituto, que o seu perfil “já foi definido pela equipa dirigente”, que o apresentará publicamente nos primeiros dias de Setembro para ter início em Outubro, que alguém já tinha afinal aceite o que muitos certamente teriam tido o respeito e o decoro de não aceitar.

*
Já quase não há homens assim... – é verdade.

sábado, agosto 09, 2003

 
084 - SAIAS...

Com os incêndios demonstrando dolorosamente a nossa incapacidade e falta de planeamento, com este calor, com uma comunicação social desastrada e sem notícias, com uma classe política acabrunhada e sem saber como reagir, resta-me uma história que achei divertida.

Confesso que a história tem o seu lado machista mas, mesmo assim, não hesito em reproduzi-la aqui. Que me perdoem os/as fundamentalistas.
Chega do Brasil e está contada num dos últimos números da revista VEJA.
Diz o deputado federal do PTB-RJ, Roberto Jefferson, que nunca se deve discutir com “gente de saias” porque isso dá sempre mau resultado.
Sublinhando depois estar a referir-se a padres, mulheres e juízes.
No caso brasileiro foram os juízes quem menos gostou da graçola…

quinta-feira, agosto 07, 2003

 
083 - O IVA NOS LIVROS

Continua a falar-se com frequência nos produtos que têm IVA, e naqueles que estão isentos dele.
Nesta última categoria estão incluídos, por exemplo, os lugares cativos nos novos estádios de futebol - isentos de IVA devido a uma sinuosa equiparação a arrendamentos urbanos... Eu ter um lugar cativo num estádio de futebol é assim, para o Fisco, o mesmo que eu ter arrendada a minha habitação permanente.
Legislação produzida pelo PS, diz o PSD.

Boa oportunidade para deixar aqui arquivado este texto sobre o "IVA NOS LIVROS" (in DNA de 02.11. 2002):

Si la minoría que lee dejara de hacerlo, la atmósfera se volvería irrespirable. (...)
El lector es una especie de funcionario que hace un servicio público a su comunidad. (...)
Y no sólo no cobra por ello, sino que paga impuestos. (...)
J.J.Millás


Antes de partir para as suas férias de Verão, o meu amigo Jordi Nadal (um excelente editor temporariamente retirado do oficio) distribuiu, com um pedido de apoio ao tema, um impressionante texto de Juan José Millás (El País, 26.07.02) sobre a velha questão do IVA nos livros.
A questão do IVA de facto não é nova, mas creio que vale a pena explicá-la. Sobretudo ao Governo, ou aos sucessivos Governos, a ver se entendem de que modo se pode estar a pisar os próprios pés.
O IVA é um imposto que aumenta o preço dos livros em mais 5% do que aquele que os editores estabeleceram como razoável para a venda dos seus títulos. Este imposto é pago, inteirinho, pelos compradores de livros: os leitores, as bibliotecas publicas e privadas, as escolas, os professores e os investigadores, os cientistas, os estudantes, todos aqueles que utilizam o livro para estudo e trabalho ou como forma de enriquecimento pessoal ou profissional.
Não há outro uso para os livros a não ser este: serem lidos. Não se pode comê-los, não se pode sair à rua com eles vestidos, não nos podemos ornamentar com eles, só os podemos ler. O IVA, portanto, enquanto imposto sobre o consumo dos livros, é na prática um imposto sobre a leitura.
Como se sabe, o sector editorial, contrariamente a muitos outros sectores, trabalha sem números ou estatísticas, apesar do Estado, através do IPLB (Instituto Português do Livro e das Bibliotecas), ter entregue à APEL (Associação Portuguesa dos Editores e Livreiros), com essa finalidade mas sem quaisquer contrapartidas visíveis, mais de 700.000 euros (150 mil contos) durante os últimos cinco anos.
É o que se chama um dinheiro mal entregue e mal usado... porque do seu gasto, em cinco anos, nada de útil se obteve.
Mesmo sem estatísticas, é no entanto possível estimar que o Estado arrecada anualmente com este imposto sobre a leitura cerca de 25 milhões de euros, valor que (teoricamente) seria suposto ser re-utilizado como instrumento de dinamização da leitura, da produção de novos títulos ou de apoio a iniciativas editoriais relevantes.
Mas não é, como se sabe.
Quer isto então dizer que, ao arrecadar tão significativo valor sem investir nada de semelhante em qualquer destas iniciativas, o Estado está a taxar injustamente a formação cultural e profissional dos portugueses, o seu acesso à leitura, o seu desenvolvimento intelectual.
Quer dizer: o Estado não gosta que os portugueses beneficiem do desenvolvimento, da formação, da cultura. Mais ainda: acha que isso não tem para ele o menor interesse. Por isso “castiga” quem lê.
Ultimamente tem-se falado muito da questão da produtividade. Dizem os senhores Ministros e até o Presidente da República, que a produtividade dos portugueses é inferior à dos trabalhadores europeus, que é muito baixa, que tem de subir – inventando logo, para corrigir a situação, algumas medidas de controlo.
Eu costumo dizer, ao contrário, que a questão da produtividade se resolve com a formação, com a cultura, com a informação, com a leitura, enfim. A grande diferença entre nós e os outros cidadãos europeus é que, apesar de baixas, as suas taxas de leitura e de compra de livros são já bastante superiores às nossas.
Não tenham duvidas: entre um carpinteiro que lê e um carpinteiro que não lê, a diferença é um abismo; entre um estudante com hábitos de leitura regular e um estudante que os não tem, a diferença de capacidade de aprendizagem é imensa; um engenheiro que lê distingue-se de outro que não lê pela sua capacidade de adaptação às novas tecnologias, pela sua criatividade; o mesmo se passa com um ministro, um político, ou qualquer outra profissão ou actividade. Veja-se, por exemplo, a diferença das respectivas capacidades de expressão quando os vemos na televisão ou a falar em público.
A leitura é uma das mais importantes chaves do desenvolvimento.
Daí que possa dizer-se que taxar o acesso à leitura e ao consumo de livros, com um imposto que permanece como uma receita líquida do Estado (porque a sua colheita não é aplicada, em termos quantitativos similares, no incentivo ao seu crescimento), significa dificultar e atrasar um mais rápido desenvolvimento do país.
Vários países europeus já compreenderam isto há muito tempo, reduzindo ou passando a utilizar a taxa zero sobre o consumo dos livros. Isto porque os seus Governos acabaram por reconhecer quanto os seus países já beneficiam com o acto de desenvolvimento da leitura, e com tudo o que ela contribui para o enriquecimento pessoal e social dos seus cidadãos.
Que seria inútil e injusto “castigar” ainda mais aqueles que lêem...

domingo, agosto 03, 2003

 
082 - AINDA MACHADO DE ASSIS

A brincadeira "Machado de Assis" espalhou-se afinal rapidamente.
Muitos jornais falaram dela (cada um segundo o seu estilo noticioso), mas foi sobretudo a caixa de correio quem recebeu o maior número de reacções.
Uns julgaram tratar-se de uma invenção da minha parte, o que seria certamente de mau-gosto; outros consideraram que fui brando, talvez por ter recebido algum telefonema ameaçador do Presidente da Câmara; outros ainda resolveram apontar as obras em curso na cidade da Lisboa, como atenuantes para os erros das secretárias do Presidente da Câmara - como se uma coisa tivesse a ver com a outra...
Afinal tratava-se apenas de uma história divertida, igual a tantas outras, quando se tem algum sentido de humor.

sexta-feira, agosto 01, 2003

 
081 - EM AGOSTO...

Nuno Júdice, in Pedro, Lembrando Inês, DQ - 2001:

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que/
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a/
manhã da minha noite. É verdade que te podia/
dizer: «Como é mais fácil deixar que as coisas/
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos/
apenas dentro de nós próprios?» Mas ensinaste-me/
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,/
até sermos um apenas no amor que nos une,/
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:/
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua/
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo/
esse que mal corria quando por ele passámos,/
subindo a margem em que descobri o sentido/
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo/
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,/
de chegar antes de ti para te ver chegar: com/
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água/
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:/
a primavera luminosa da minha expectativa,/
a mais certa certeza de que gosto de ti, como/
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste./
 
080 - OS BLOGUES

Quando da conferência de imprensa e da entrevista de Fátima Felgueiras à RTP 1, houve quem, com excesso de entusiasmo, se alegrasse com a reacção e eficácia dos blogues.
Na verdade, escassos minutos após os acontecimentos, era possível encontrar por aqui as mais variadas reacções. Posições da direita até à esquerda, análises profundas ou comentários superficiais. Os blogues mostravam ser mais rápidos e mais amplos do que a comunicação social tradicional. E assim foi, igualmente, em muitas outras situações. A velocidade deste meio permitiu ter acesso quase imediato à noticia e à variedade dos comentários.
Mas foi sol de pouca duração, como é costume dizer-se.
Hoje os blogues parecem distraídos do mundo que os rodeia. Falam de si próprios. Das suas "audiências", inclusivé, como os canais de televisão, contentes com o que conquistaram. Como se receassem intervir sobre o que se passa à sua volta. De activos passaram a niilistas.
A não ser que os "silêncios impostos" os tenham já atingido também a eles...
Nem o jantar dos militares comentaram.

PS: O jornal "24 horas" transcreve o meu post nº 076. É assim. Quando se não tem nada para dizer, quando se não quer falar de outras coisas, tudo serve para encher o papinho dos escandalos. Fizeram-me, além do mais, uma autêntica perseguição telefónica à procura de comentários adicionais. Ligando-me para vários telefones, usando vários telefones para ver se eu os não identificava. Coloquei aqui o comentário porque lhe achei graça e oportunidade. Mas não contem comigo para alimentar faits divers.