sexta-feira, agosto 01, 2003

 
081 - EM AGOSTO...

Nuno Júdice, in Pedro, Lembrando Inês, DQ - 2001:

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que/
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a/
manhã da minha noite. É verdade que te podia/
dizer: «Como é mais fácil deixar que as coisas/
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos/
apenas dentro de nós próprios?» Mas ensinaste-me/
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,/
até sermos um apenas no amor que nos une,/
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:/
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua/
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo/
esse que mal corria quando por ele passámos,/
subindo a margem em que descobri o sentido/
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo/
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,/
de chegar antes de ti para te ver chegar: com/
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água/
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:/
a primavera luminosa da minha expectativa,/
a mais certa certeza de que gosto de ti, como/
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste./
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