quinta-feira, junho 12, 2003
022 - A ESCRITA, A LEITURA
"Je suis de plus en plus convaincu qu'un livre est raté s'il est dur à lire.".
Encontrei há dias esta frase numa entrevista do escritor Jonathan Coe e fiquei a pensar nela.
Por contraponto, ocorreu-me a conhecida frase de Lacan, "a ciência é árdua", quando explicava aos seus alunos a dificuldade dos seus textos e a necessidade de um profundo trabalho de decifração para a sua completa compreensão.
Muitos dos jovens escritores que actualmente me procuram defendem como qualidade a "facilidade" dos seus textos, o imediatismo da sua escrita, a necessidade de uma rápida comunicação com os seus futuros leitores.
Esquecem que a escrita é um trabalho, tal como a leitura (a decifração), e que é esse trabalho que introduz no sistema a noção de valor.
Pouco importa o que se escreve e como se escreve, quando escrever é apenas a repetição do que já está dito e escrito.
Escrever é um trabalho sobre as palavras (sobre a articulação da língua), forçando-as a dizer aquilo que, no limite, elas já quase não são capazes de dizer.
Por isso os grandes escritores nos surpreendem permanentemente.
Por isso um livro não é necessáriamente "raté s'il est dur à lire".
Porque a leitura não é apenas a simples decifração de um significado ou de uma emoção. Mas sobretudo o trabalho de compreensão das formas e dos modos, sob os quais, esse significado ou essa emoção, foram capazes de chegar até nós através das palavras que usamos todos os dias.
Como no cinema, na pintura, ou em qualquer das outras artes.
Mais importante que o medo, ou o susto que sentimos ao ver um filme de Hitchcock (recordo especialmente Under Capricorn, um dos meus preferidos), é entendermos, de que forma e por que meios, esse medo nos foi transmitido. Porque é isso que dá valor ao filme: o emocionante e surpreendente trabalho lá contido.
"Je suis de plus en plus convaincu qu'un livre est raté s'il est dur à lire.".
Encontrei há dias esta frase numa entrevista do escritor Jonathan Coe e fiquei a pensar nela.
Por contraponto, ocorreu-me a conhecida frase de Lacan, "a ciência é árdua", quando explicava aos seus alunos a dificuldade dos seus textos e a necessidade de um profundo trabalho de decifração para a sua completa compreensão.
Muitos dos jovens escritores que actualmente me procuram defendem como qualidade a "facilidade" dos seus textos, o imediatismo da sua escrita, a necessidade de uma rápida comunicação com os seus futuros leitores.
Esquecem que a escrita é um trabalho, tal como a leitura (a decifração), e que é esse trabalho que introduz no sistema a noção de valor.
Pouco importa o que se escreve e como se escreve, quando escrever é apenas a repetição do que já está dito e escrito.
Escrever é um trabalho sobre as palavras (sobre a articulação da língua), forçando-as a dizer aquilo que, no limite, elas já quase não são capazes de dizer.
Por isso os grandes escritores nos surpreendem permanentemente.
Por isso um livro não é necessáriamente "raté s'il est dur à lire".
Porque a leitura não é apenas a simples decifração de um significado ou de uma emoção. Mas sobretudo o trabalho de compreensão das formas e dos modos, sob os quais, esse significado ou essa emoção, foram capazes de chegar até nós através das palavras que usamos todos os dias.
Como no cinema, na pintura, ou em qualquer das outras artes.
Mais importante que o medo, ou o susto que sentimos ao ver um filme de Hitchcock (recordo especialmente Under Capricorn, um dos meus preferidos), é entendermos, de que forma e por que meios, esse medo nos foi transmitido. Porque é isso que dá valor ao filme: o emocionante e surpreendente trabalho lá contido.