terça-feira, junho 10, 2003
020 - DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES...
Não posso deixar de vos postar aqui, hoje, este artigo de jornal.
Um escritor galego, Xosé Luis Méndez Ferrín, publicado em Portugal pela Editorial Notícias e pela Dom Quixote, vencedor há uns anos do Prémio Literário do Eixo Atlântico (a que concorrem escritores portugueses e galegos), escreve e publica um texto em português no jornal galego "Faro de Vigo".
Não sei se a Senhora Presidente do Instituto Camões, ou o Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros têm quem lhes leia os blogs, ou lhos encaminhem.
Porque este post, por mim, é-lhes inteiramente dedicado neste dia de Camões.
No Día de Portugal: Razão de Estado
X. L. MÉNDEZ FERRÍN
Pela primeira vez na minha vida vou escrever uma crónica de jornal em
Português. A ocasião deriva do facto de amanhã celebrarmos o Dia de
Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Os nossos caros
vizinhos, como já tenho repetido, são o único povo da Europa cuja
festa nacional está consagrada à memória de um poeta, neste caso
porta do mundo moderno, que acumula à sua condição excelsa o carácter
simbólico de emblema lírico e épico da Nação.
Teve a República dos Sonhos, que isso é também Portugal para alguns de
nós, a ideia boa de constituir um Instituto Camões como entidade
consagrada á difusão e promoção da cultura portuguesa no mundo. A
trinta e poucos quilómetros da fronteira, em Vigo, tem a sua sede o
único centro do Instituto Camões que se encontra de porta aberta na
Espanha administrativa. Não há casa posta do Instituto Camões nem em
Madrid nem em Barcelona; em Vigo, sim, há!
E temos cá o Instituto Camões porque a Câmara Municipal de Vigo
percebeu a importância da empresa, comprou as casas mais antigas da
cidade, belíssimas e com um certo ponto rococó (Otero Pedrayo),
situadas na Pracinha do Tenente Almeida, noutros dias chamada Das
Cebolas, fez com a sua fábrica uma restauração requintada e cedeu o uso
do tudo isso ao Governo português, sem qualquer interesse
económico, por noventa e nove anos.
O Instituto Camões de Vigo, após um início feliz nos dias em que era
Cônsul a inesquecível e saudosa Anabela Cardoso, entrou
progressivamente num período de abandono e decadência que vem
coincidir com o governo de Durão Barroso en Lisboa, de coligação
PSD/PP. Tudo parece indicar que este
Governo, do qual o senhor Martins da Cruz, antigo embaixador em
Madrid, é Ministro dos Negócios Extrangeiros, não deseja para nada um
Instituto Camões em Vigo, enquadrado juridicamente, dotado
economicamente, activo e vivo. A chamada Casa de Arines da Praça das
Cebolas de Vigo não interessa a Lisboa. Constato que no "site" da
internet do Instituto Camões as notícias do centro de Vigo não são
actualizadas e verifico que tem havido actividades desenvolvidas aqui
que mereciam aí figurar e não figuram.
O projecto da revista Desde LongeS, a editar pelo Instituto Camões em
Vigo, para o qual recebi um pedido de colaboração, ficou sem
resposta para desgosto do seu responsável, doutor Manuel Barroso.
Esta era uma excelente opurtunidade de consolidar a vida cultural da
Galiza e de Portugal, especialmente ao nível dos seus intelectuais.
As acções de divulgação turística, comercial, artística, cultural, de
importância ja não são mais implementadas a partir do Camões de aqui, e,
com surpresa, verifiquei que fechou o ICEP em Vigo: tratou-se do
encerramento de uma delegação do "Instituto do Comércio Externo
Português", organismo de Estado da maior importância, contrariando o que
o mesmo governo actual pretende: a "diplomacia económica".
No Dia de Portugal, a parte de população galega que deseja un
Instituto Camões dinámico e real sente-se defraudada. A direita
governamental de Lisboa não reconhece que a Galiza é uma raiz e o
cerne da nacionalidade portuguesa e que a sua representação
internacional tem a obrigação de entender de maneira específica esta
nossa comunidade, a qual compartilhou com a portuguesa a mesma língua
desde Afonso Henriques a Fernão Lopes.
Razão de Estado, diria eu para me referir aos interesses históricos
portugueses à hora de manter de forma privilegiada o Instituto Camões da
Galiza.
(os bolds são de minha responsabilidade: NM)
Não posso deixar de vos postar aqui, hoje, este artigo de jornal.
Um escritor galego, Xosé Luis Méndez Ferrín, publicado em Portugal pela Editorial Notícias e pela Dom Quixote, vencedor há uns anos do Prémio Literário do Eixo Atlântico (a que concorrem escritores portugueses e galegos), escreve e publica um texto em português no jornal galego "Faro de Vigo".
Não sei se a Senhora Presidente do Instituto Camões, ou o Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros têm quem lhes leia os blogs, ou lhos encaminhem.
Porque este post, por mim, é-lhes inteiramente dedicado neste dia de Camões.
No Día de Portugal: Razão de Estado
X. L. MÉNDEZ FERRÍN
Pela primeira vez na minha vida vou escrever uma crónica de jornal em
Português. A ocasião deriva do facto de amanhã celebrarmos o Dia de
Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Os nossos caros
vizinhos, como já tenho repetido, são o único povo da Europa cuja
festa nacional está consagrada à memória de um poeta, neste caso
porta do mundo moderno, que acumula à sua condição excelsa o carácter
simbólico de emblema lírico e épico da Nação.
Teve a República dos Sonhos, que isso é também Portugal para alguns de
nós, a ideia boa de constituir um Instituto Camões como entidade
consagrada á difusão e promoção da cultura portuguesa no mundo. A
trinta e poucos quilómetros da fronteira, em Vigo, tem a sua sede o
único centro do Instituto Camões que se encontra de porta aberta na
Espanha administrativa. Não há casa posta do Instituto Camões nem em
Madrid nem em Barcelona; em Vigo, sim, há!
E temos cá o Instituto Camões porque a Câmara Municipal de Vigo
percebeu a importância da empresa, comprou as casas mais antigas da
cidade, belíssimas e com um certo ponto rococó (Otero Pedrayo),
situadas na Pracinha do Tenente Almeida, noutros dias chamada Das
Cebolas, fez com a sua fábrica uma restauração requintada e cedeu o uso
do tudo isso ao Governo português, sem qualquer interesse
económico, por noventa e nove anos.
O Instituto Camões de Vigo, após um início feliz nos dias em que era
Cônsul a inesquecível e saudosa Anabela Cardoso, entrou
progressivamente num período de abandono e decadência que vem
coincidir com o governo de Durão Barroso en Lisboa, de coligação
PSD/PP. Tudo parece indicar que este
Governo, do qual o senhor Martins da Cruz, antigo embaixador em
Madrid, é Ministro dos Negócios Extrangeiros, não deseja para nada um
Instituto Camões em Vigo, enquadrado juridicamente, dotado
economicamente, activo e vivo. A chamada Casa de Arines da Praça das
Cebolas de Vigo não interessa a Lisboa. Constato que no "site" da
internet do Instituto Camões as notícias do centro de Vigo não são
actualizadas e verifico que tem havido actividades desenvolvidas aqui
que mereciam aí figurar e não figuram.
O projecto da revista Desde LongeS, a editar pelo Instituto Camões em
Vigo, para o qual recebi um pedido de colaboração, ficou sem
resposta para desgosto do seu responsável, doutor Manuel Barroso.
Esta era uma excelente opurtunidade de consolidar a vida cultural da
Galiza e de Portugal, especialmente ao nível dos seus intelectuais.
As acções de divulgação turística, comercial, artística, cultural, de
importância ja não são mais implementadas a partir do Camões de aqui, e,
com surpresa, verifiquei que fechou o ICEP em Vigo: tratou-se do
encerramento de uma delegação do "Instituto do Comércio Externo
Português", organismo de Estado da maior importância, contrariando o que
o mesmo governo actual pretende: a "diplomacia económica".
No Dia de Portugal, a parte de população galega que deseja un
Instituto Camões dinámico e real sente-se defraudada. A direita
governamental de Lisboa não reconhece que a Galiza é uma raiz e o
cerne da nacionalidade portuguesa e que a sua representação
internacional tem a obrigação de entender de maneira específica esta
nossa comunidade, a qual compartilhou com a portuguesa a mesma língua
desde Afonso Henriques a Fernão Lopes.
Razão de Estado, diria eu para me referir aos interesses históricos
portugueses à hora de manter de forma privilegiada o Instituto Camões da
Galiza.
(os bolds são de minha responsabilidade: NM)