sexta-feira, maio 30, 2003
014 - FEIRA DO LIVRO DE LISBOA
Bom, parece que a poeira assentou, podemos portanto regressar a outros temas menos humoristicos...
Entretanto, por estes dias, abriu a Feira do Livro.
Os Blogs não lhe fizeram grandes referências.
Acontecimento rotineiro ?
Há quem conteste todos os anos o modelo do "ao ar livre". A mim sempre pareceu a melhor solução.
Este ano a Feira está maior, crece aliás todos os anos, como se não desse ouvidos à permanente lenga-lenga dos editores acerca da "crise" do sector.
A Camara decidiu renovar a organização do espaço com o apoio de dois arquitectos que fizeram um novo desenho da implantação dos pavilhões.
Fizeram-no sózinhos, sem qualquer contacto com os profissionais que ali irão conviver e trabalhar estes dias. É costume do país. Desenha-se no papel. Se ficar bonito implanta-se no local, os outros que se adaptem.
O design não serve para servir o que está, nem quem está. Serve apenas para tornar diferente aquilo que é.
Este ano eliminaram-se duas filas de stands (as encostadas à zona central) e encaixaram-se os stands deslocados no meio dos outros, apertando o espaço entre eles. Esqueceu-se apenas que, por acaso, alguns editores trabalham com autores, e que precisariam desse espaço para instalar as mesas de autógrafos, uma das poucas animações permanentes da Feira. Houve que inventar soluções à última hora, de acordo com a imaginação de cada um.
Também o Pavilhão Central, o dos colóquios e debates, que o ano passado deixava ver o Parque através de uma enorme parede em vidro, está este ano transformado num bunker, completamente fechado ao exterior, com uma temperatura irrespirável, escuro e sombrio. Para que as leituras de textos possam ser feitas sem ruídos exteriores - explicaram-me os técnicos. Nesse caso talvez fosse melhor ir fazê-las para outro local, ou pensar outras formas de animação mais condicentes com o espaço.
Isto de tentar forçar a que os espaços "digam" o que eles não podem nem conseguem dizer, é mesmo hábito dos especialistas nacionais...
Fica para o ano, talvez aprendam entretanto, têm tempo.
Mas a Feira aí está, e apesar de tudo não está mal.
Bom, parece que a poeira assentou, podemos portanto regressar a outros temas menos humoristicos...
Entretanto, por estes dias, abriu a Feira do Livro.
Os Blogs não lhe fizeram grandes referências.
Acontecimento rotineiro ?
Há quem conteste todos os anos o modelo do "ao ar livre". A mim sempre pareceu a melhor solução.
Este ano a Feira está maior, crece aliás todos os anos, como se não desse ouvidos à permanente lenga-lenga dos editores acerca da "crise" do sector.
A Camara decidiu renovar a organização do espaço com o apoio de dois arquitectos que fizeram um novo desenho da implantação dos pavilhões.
Fizeram-no sózinhos, sem qualquer contacto com os profissionais que ali irão conviver e trabalhar estes dias. É costume do país. Desenha-se no papel. Se ficar bonito implanta-se no local, os outros que se adaptem.
O design não serve para servir o que está, nem quem está. Serve apenas para tornar diferente aquilo que é.
Este ano eliminaram-se duas filas de stands (as encostadas à zona central) e encaixaram-se os stands deslocados no meio dos outros, apertando o espaço entre eles. Esqueceu-se apenas que, por acaso, alguns editores trabalham com autores, e que precisariam desse espaço para instalar as mesas de autógrafos, uma das poucas animações permanentes da Feira. Houve que inventar soluções à última hora, de acordo com a imaginação de cada um.
Também o Pavilhão Central, o dos colóquios e debates, que o ano passado deixava ver o Parque através de uma enorme parede em vidro, está este ano transformado num bunker, completamente fechado ao exterior, com uma temperatura irrespirável, escuro e sombrio. Para que as leituras de textos possam ser feitas sem ruídos exteriores - explicaram-me os técnicos. Nesse caso talvez fosse melhor ir fazê-las para outro local, ou pensar outras formas de animação mais condicentes com o espaço.
Isto de tentar forçar a que os espaços "digam" o que eles não podem nem conseguem dizer, é mesmo hábito dos especialistas nacionais...
Fica para o ano, talvez aprendam entretanto, têm tempo.
Mas a Feira aí está, e apesar de tudo não está mal.
domingo, maio 18, 2003
013 - BIENAL DO LIVRO - RIO DE JANEIRO
Regresso da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Portugal não estava representado.
Outros países europeus, com menor "intimidade cultural" com o Brasil, estavam presentes com destaque.
Os brasileiros referiam o facto (o fato, para eles) com espanto e amargura.
Não havia stand português, não havia livros portugueses.
Alguns escritores portugueses (convidados pelo IPLB) por lá andavam desamparados. Havia um debate com eles na Bienal. Como não se fez o menor trabalho de informação prévia, estavam apenas 2 pessoas numa sala que se gastou dinheiro a alugar. Foi anulado o debate, claro.
Já sei: não temos dinheiro, é a explicação que se dará.
Mas tivémos dinheiro, ainda há bem poucas semanas, para nos fazer representar na Feira do Livro do Japão.
Imaginem, no Japão, que tanto se interessa pela cultura portuguesa, e nós por eles.
Um stand português, 3 escritores convidados pelo Instituto do Livro, altas personalidades oficiais incluídas, deslocações, comidas e dormidas, etc.
Mas no Brasil não vale a pena, consideraram certamente os responsáveis pelo Instituto do Livro, pelo Instituto Camões, pelo Ministério da Cultura, pelos Negócios Estrangeiros, eu sei lá...
Na verdade não há dinheiro que pague esta vergonha...
No entanto, fora da Bienal, as televisões, as rádios, os jornais, enchiam páginas (é mesmo verdade, enchiam páginas) com a publicação de um livro de uma escritora portuguesa por uma editora local. E essa editora anunciava o seu projecto de publicação, no próximo ano, de 10 títulos de autores portugueses, clássicos e contemporâneos.
Um jornalista pediu-me encarecidamente o envio de um romance de Camilo, impossível de encontrar nas livrarias brasileiras.
Às vezes perguntava-me: não se sentirá ao menos um leve rubor com tudo isto ?
NM
Regresso da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Portugal não estava representado.
Outros países europeus, com menor "intimidade cultural" com o Brasil, estavam presentes com destaque.
Os brasileiros referiam o facto (o fato, para eles) com espanto e amargura.
Não havia stand português, não havia livros portugueses.
Alguns escritores portugueses (convidados pelo IPLB) por lá andavam desamparados. Havia um debate com eles na Bienal. Como não se fez o menor trabalho de informação prévia, estavam apenas 2 pessoas numa sala que se gastou dinheiro a alugar. Foi anulado o debate, claro.
Já sei: não temos dinheiro, é a explicação que se dará.
Mas tivémos dinheiro, ainda há bem poucas semanas, para nos fazer representar na Feira do Livro do Japão.
Imaginem, no Japão, que tanto se interessa pela cultura portuguesa, e nós por eles.
Um stand português, 3 escritores convidados pelo Instituto do Livro, altas personalidades oficiais incluídas, deslocações, comidas e dormidas, etc.
Mas no Brasil não vale a pena, consideraram certamente os responsáveis pelo Instituto do Livro, pelo Instituto Camões, pelo Ministério da Cultura, pelos Negócios Estrangeiros, eu sei lá...
Na verdade não há dinheiro que pague esta vergonha...
No entanto, fora da Bienal, as televisões, as rádios, os jornais, enchiam páginas (é mesmo verdade, enchiam páginas) com a publicação de um livro de uma escritora portuguesa por uma editora local. E essa editora anunciava o seu projecto de publicação, no próximo ano, de 10 títulos de autores portugueses, clássicos e contemporâneos.
Um jornalista pediu-me encarecidamente o envio de um romance de Camilo, impossível de encontrar nas livrarias brasileiras.
Às vezes perguntava-me: não se sentirá ao menos um leve rubor com tudo isto ?
NM
quarta-feira, maio 14, 2003
012 - A MONTANHA MÁGICA
A Montanha Mágica continua a publicar excelentes textos literários, aceitando inclusivé sugestões como as de Pacheco Pereira.
Aceitaram igualmente o meu comentário amigável sobre a necessidade de maior rigor na indicação dos copyrights - texto 008. Vi que já corrigiram.
Obrigado. Ainda bem. Um certo cuidado naquilo que se faz demonstra uma maior consciência do que se está a fazer.
Falta-lhes agora apenas a indicação dos tradutores. As vossas transcrições são normalmente extensas e os textos utilizados têm um autor em português. É sempre simpático indicá-lo; até para, em alguns casos, o deixar responsabilizado pelo trabalho feito.
A Montanha Mágica continua a publicar excelentes textos literários, aceitando inclusivé sugestões como as de Pacheco Pereira.
Aceitaram igualmente o meu comentário amigável sobre a necessidade de maior rigor na indicação dos copyrights - texto 008. Vi que já corrigiram.
Obrigado. Ainda bem. Um certo cuidado naquilo que se faz demonstra uma maior consciência do que se está a fazer.
Falta-lhes agora apenas a indicação dos tradutores. As vossas transcrições são normalmente extensas e os textos utilizados têm um autor em português. É sempre simpático indicá-lo; até para, em alguns casos, o deixar responsabilizado pelo trabalho feito.
terça-feira, maio 13, 2003
011 - OUTROS AGRADECIMENTOS
Lá vou acrescentando mais agradecimentos, sempre no post 008.
Confesso que não esperava tanto. Começo a sentir-me bem por aqui. Pena que o tempo não chegue para ler tudo o que é interessante.
Dizem que o meu template se confunde com o dos pipis. Não sei o que é, tenho de ir ver.
Lá vou acrescentando mais agradecimentos, sempre no post 008.
Confesso que não esperava tanto. Começo a sentir-me bem por aqui. Pena que o tempo não chegue para ler tudo o que é interessante.
Dizem que o meu template se confunde com o dos pipis. Não sei o que é, tenho de ir ver.
010 - APONTAR COM O DEDO PARA O CENTRO DA TERRA
Este é o título do catálogo da última exposição de Júlio Pomar realizada em Lisboa, na Galeria 111, e de um texto de António Lobo Antunes que lhe serve de complemento.
Uma edição excepcional com design de Henrique Cayatte.
Desde logo pela reunião de duas das mais importantes personalidades da cultura portuguesa contemporânea, dois dos nossos artistas mais internacionais, dois homens que têm do seu trabalho uma similar concepção de minúcia e de rigor.
Um, faz e refaz os seus quadros ao longo de vários anos (conforme se pode ver pelas próprias datas neles inscritas) na busca do gesto perfeito e definitivo que não há.
O outro, trabalha a sua escrita incessantemente, ao longo dos dias, na procura de que ela diga o que as palavras, no limite, já quase não são capazes de dizer.
Ambos, com esse seu trabalho minucioso, procuram transmitir-nos a beleza e a emoção que só podem ser lidas e costuradas por dentro, no interior desarmado e vulnerável dos seus dois processos criativos. As suas obras são bem o exemplo do trabalho oficinal, esforçado e doloroso, o trabalho que nos aponta o centro da terra, como o título parece querer dizer, o lugar onde nascem as cores e as ideias, se multiplicam as vozes e as formas, as raízes do nosso deslumbramento.
Um pintou e permitiu que lhe reproduzissem todos os seus quadros neste catálogo.
O outro quis falar-nos dessa pintura colocando-se por dentro dela, para que num acto impossível as palavras se substituíssem às cores, as frases se parecessem com os gestos, a escrita ocupasse o lugar de onde antes tinha nascido o quadro.
Foi esta cumplicidade provocante que estes dois artistas aceitaram deixar impressa neste objecto.
Nenhum deles (que eu saiba) teve ainda o Prémio Pessoa ou o Camões, ou outros prémios equivalentes. São autores pouco premiados, cá em casa.
No entanto, quando se organizam representações culturais ao estrangeiro (aquelas a que nenhum político nacional perde a oportunidade de se juntar) solicita-se cada vez mais a inclusão dos seus nomes e a sua presença, tentando usufruir daquilo que não ajudaram a criar.
Digo-o com aquela ironia magoada de quem sabe que as coisas sérias se dizem normalmente a brincar.
Gostava que gostassem.
A exposição já não a podem ver. Mas o catálogo continua disponível na Galeria 111.
Este é o título do catálogo da última exposição de Júlio Pomar realizada em Lisboa, na Galeria 111, e de um texto de António Lobo Antunes que lhe serve de complemento.
Uma edição excepcional com design de Henrique Cayatte.
Desde logo pela reunião de duas das mais importantes personalidades da cultura portuguesa contemporânea, dois dos nossos artistas mais internacionais, dois homens que têm do seu trabalho uma similar concepção de minúcia e de rigor.
Um, faz e refaz os seus quadros ao longo de vários anos (conforme se pode ver pelas próprias datas neles inscritas) na busca do gesto perfeito e definitivo que não há.
O outro, trabalha a sua escrita incessantemente, ao longo dos dias, na procura de que ela diga o que as palavras, no limite, já quase não são capazes de dizer.
Ambos, com esse seu trabalho minucioso, procuram transmitir-nos a beleza e a emoção que só podem ser lidas e costuradas por dentro, no interior desarmado e vulnerável dos seus dois processos criativos. As suas obras são bem o exemplo do trabalho oficinal, esforçado e doloroso, o trabalho que nos aponta o centro da terra, como o título parece querer dizer, o lugar onde nascem as cores e as ideias, se multiplicam as vozes e as formas, as raízes do nosso deslumbramento.
Um pintou e permitiu que lhe reproduzissem todos os seus quadros neste catálogo.
O outro quis falar-nos dessa pintura colocando-se por dentro dela, para que num acto impossível as palavras se substituíssem às cores, as frases se parecessem com os gestos, a escrita ocupasse o lugar de onde antes tinha nascido o quadro.
Foi esta cumplicidade provocante que estes dois artistas aceitaram deixar impressa neste objecto.
Nenhum deles (que eu saiba) teve ainda o Prémio Pessoa ou o Camões, ou outros prémios equivalentes. São autores pouco premiados, cá em casa.
No entanto, quando se organizam representações culturais ao estrangeiro (aquelas a que nenhum político nacional perde a oportunidade de se juntar) solicita-se cada vez mais a inclusão dos seus nomes e a sua presença, tentando usufruir daquilo que não ajudaram a criar.
Digo-o com aquela ironia magoada de quem sabe que as coisas sérias se dizem normalmente a brincar.
Gostava que gostassem.
A exposição já não a podem ver. Mas o catálogo continua disponível na Galeria 111.
009 - BRASIL
Eis-me de partida para o Brasil - agora que o Lula se prepara finalmente para vir a Portugal, antes do verão.
Para participar da apresentação de uma nova editora do grupo editorial a que pertenço, a Planeta-Brasil.
Uma editora brasileira que, sob influência da DQ, se inicia com um autor português entre os seus livros de estreia: a escritora Inês Pedrosa.
Três jovens editores (a Ruth Lanna, que sai da Companhia das Letras, o Paulo Roberto Pires, jornalista reconhecido, o Pascoal Soto, que se dedicará principalmente à àrea infantil), emocionados com o seu novo trabalho, preparados para enfrentar um imenso mercado de leitores num país em profundas transformações.
No passado, editores portugueses e brasileiros, fizeram sucessivas tentativas para resolver o problema da circulação dos seus livros no mercado contrário. Sempre mal resolvidas. Por falta de vontade de ambos os Estados no apoio à resolução das dificuldades, pelas elevadas despesas de transporte e alfandegárias que sobrecarregavam gravemente o preço dos livros dificultando a sua circulação, pelas diferenças entre a estrutura da língua que se foram acentuando, pela concorrência entre os dois países na aquisição internacional de direitos de autor para a mesma língua, cada um impedindo a edição, pelo outro, de alguns textos fundamentais, etc.
A solução parece estar aqui, agora. Na relação estreita entre duas editoras em cada um dos países e nos meios tecnológicos actualmente disponíveis; na negociação conjunta de direitos internacionais para a mesma língua; na edição e promoção local, por cada uma das editoras, dos autores da outra; pela existência de duas estruturas autónomas funcionando em colaboração.
Ou seja: aquilo que os Estados não foram capazes de resolver vão resolvê-lo finalmente os editores privados.
Tudo isto acontecerá esta semana durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
Com o anúncio da atribuição do Prémio Camões a um importante escritor brasileiro, Rubem Fonseca (publicado em Portugal pela DQ e pela Campo das Letras, do Porto).
Não digo que as relações culturais entre os dois países sofram com isto radicais transformações e melhorias. Seria esperar demais. Seria sobretudo ter excessivas ilusões num campo onde tudo, ou quase tudo, se encontra por fazer.
Esperemos apenas que isto seja o indicio de que alguma coisa diferente poderá vir a acontecer.
Eis-me de partida para o Brasil - agora que o Lula se prepara finalmente para vir a Portugal, antes do verão.
Para participar da apresentação de uma nova editora do grupo editorial a que pertenço, a Planeta-Brasil.
Uma editora brasileira que, sob influência da DQ, se inicia com um autor português entre os seus livros de estreia: a escritora Inês Pedrosa.
Três jovens editores (a Ruth Lanna, que sai da Companhia das Letras, o Paulo Roberto Pires, jornalista reconhecido, o Pascoal Soto, que se dedicará principalmente à àrea infantil), emocionados com o seu novo trabalho, preparados para enfrentar um imenso mercado de leitores num país em profundas transformações.
No passado, editores portugueses e brasileiros, fizeram sucessivas tentativas para resolver o problema da circulação dos seus livros no mercado contrário. Sempre mal resolvidas. Por falta de vontade de ambos os Estados no apoio à resolução das dificuldades, pelas elevadas despesas de transporte e alfandegárias que sobrecarregavam gravemente o preço dos livros dificultando a sua circulação, pelas diferenças entre a estrutura da língua que se foram acentuando, pela concorrência entre os dois países na aquisição internacional de direitos de autor para a mesma língua, cada um impedindo a edição, pelo outro, de alguns textos fundamentais, etc.
A solução parece estar aqui, agora. Na relação estreita entre duas editoras em cada um dos países e nos meios tecnológicos actualmente disponíveis; na negociação conjunta de direitos internacionais para a mesma língua; na edição e promoção local, por cada uma das editoras, dos autores da outra; pela existência de duas estruturas autónomas funcionando em colaboração.
Ou seja: aquilo que os Estados não foram capazes de resolver vão resolvê-lo finalmente os editores privados.
Tudo isto acontecerá esta semana durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
Com o anúncio da atribuição do Prémio Camões a um importante escritor brasileiro, Rubem Fonseca (publicado em Portugal pela DQ e pela Campo das Letras, do Porto).
Não digo que as relações culturais entre os dois países sofram com isto radicais transformações e melhorias. Seria esperar demais. Seria sobretudo ter excessivas ilusões num campo onde tudo, ou quase tudo, se encontra por fazer.
Esperemos apenas que isto seja o indicio de que alguma coisa diferente poderá vir a acontecer.
008 - AGRADECIMENTOS
Tal como acontece com Pacheco Pereira também acho que se deve agradecer quem tem a gentileza de nos saudar enquanto Bloguistas principiantes. Assim aconteceu com o Blog de Esquerda, que referiu com simpatia e com humor o aparecimento destes textos.
Gostei. Todos gostamos que nos façam festas, embora estejamos aqui para discutir e trocar ideias.
O Blog de Esquerda foi aliás o primeiro que li, e o primeiro em que participei.
Há outros, igualmente excelentes.
Tal como A Montanha Mágica. Sendo pena que, a maior parte das vezes, não indique com correcção o copyright dos textos que utiliza.
Ou o Janela Indiscreta, a quem também agradeço.
E o Prazer Inculto - sim, os autores da casa são alguns dos que mais gosto, não necessitam "propaganda".
Entre os que consulto, porém, nenhum outro tem os indices de participação do Blog de Esquerda, que às vezes me deixam impressionado.
Por mim, vou continuar.
Ainda mais, agora, com incentivos.
Sempre que puder.
Tal como acontece com Pacheco Pereira também acho que se deve agradecer quem tem a gentileza de nos saudar enquanto Bloguistas principiantes. Assim aconteceu com o Blog de Esquerda, que referiu com simpatia e com humor o aparecimento destes textos.
Gostei. Todos gostamos que nos façam festas, embora estejamos aqui para discutir e trocar ideias.
O Blog de Esquerda foi aliás o primeiro que li, e o primeiro em que participei.
Há outros, igualmente excelentes.
Tal como A Montanha Mágica. Sendo pena que, a maior parte das vezes, não indique com correcção o copyright dos textos que utiliza.
Ou o Janela Indiscreta, a quem também agradeço.
E o Prazer Inculto - sim, os autores da casa são alguns dos que mais gosto, não necessitam "propaganda".
Entre os que consulto, porém, nenhum outro tem os indices de participação do Blog de Esquerda, que às vezes me deixam impressionado.
Por mim, vou continuar.
Ainda mais, agora, com incentivos.
Sempre que puder.
segunda-feira, maio 12, 2003
007 - A CRISE
Esta conversa, verdadeira, ilustra bem o que ainda se pensa do trabalho dos escritores, mas também da minha esforçada profissão.
- A crise está por aí... - diz-me o meu barbeiro, suspendendo o trabalho com um ar preocupado.
- É verdade, senhor Joaquim, parece que é verdade... respondo eu distraído.
- Mas o senhor doutor, certamente, antes de publicar os livros, cobra-lhes um adiantamento sobre as suas despesas...
Prevendo a confusão, decido-me a explicar-lhe.
- Não, senhor Joaquim, eu quando entrego os livros nas livrarias dou-lhes ainda um prazo de pagamento, normalmente 90 dias. Não lhes cobro nada adiantado.
- Não me refiro a isso - explicou o senhor Joaquim - refiro-me aos escritores... Certamente que quando eles lhe entregam os livros para publicar, o senhor doutor lhes há-de cobrar alguma coisa adiantado. A mim todos os fornecedores me cobram 40%, agora é a moda, sempre 40% do trabalho adiantado.
A confusão estava mesmo instalada. Nada a fazer senão clarificá-la.
- Não, senhor Joaquim, os escritores não pagam nenhum adiantamento. Eles entregam-me os seus livros (o seu trabalho), sou eu que normalmento lhes pago um adiantamento sobre as vendas dos seus livros.
Aí o senhor Joaquim abriu a boca de espanto:
- Então o senhor doutor publica-lhes os livros e ainda lhes paga por cima...!
Esta conversa, verdadeira, ilustra bem o que ainda se pensa do trabalho dos escritores, mas também da minha esforçada profissão.
- A crise está por aí... - diz-me o meu barbeiro, suspendendo o trabalho com um ar preocupado.
- É verdade, senhor Joaquim, parece que é verdade... respondo eu distraído.
- Mas o senhor doutor, certamente, antes de publicar os livros, cobra-lhes um adiantamento sobre as suas despesas...
Prevendo a confusão, decido-me a explicar-lhe.
- Não, senhor Joaquim, eu quando entrego os livros nas livrarias dou-lhes ainda um prazo de pagamento, normalmente 90 dias. Não lhes cobro nada adiantado.
- Não me refiro a isso - explicou o senhor Joaquim - refiro-me aos escritores... Certamente que quando eles lhe entregam os livros para publicar, o senhor doutor lhes há-de cobrar alguma coisa adiantado. A mim todos os fornecedores me cobram 40%, agora é a moda, sempre 40% do trabalho adiantado.
A confusão estava mesmo instalada. Nada a fazer senão clarificá-la.
- Não, senhor Joaquim, os escritores não pagam nenhum adiantamento. Eles entregam-me os seus livros (o seu trabalho), sou eu que normalmento lhes pago um adiantamento sobre as vendas dos seus livros.
Aí o senhor Joaquim abriu a boca de espanto:
- Então o senhor doutor publica-lhes os livros e ainda lhes paga por cima...!
006 - BIOGRAFIA DE JOSÉ MANUEL LARA HERNÁNDEZ
Faleceu hoje, em Barcelona, com 88 anos, José Manuel Lara Hernández, fundador do Grupo Planeta.
Sem dúvida que um dos homens da edição mais importantes, em Espanha, no início do século vinte.
O Grupo de editoras de que era proprietário (Seix-Barral, Destino, Planeta, Emecê, Espasa-Calpe, Martinez Rocca, Temas de Hoy, Critica, Ariel, etc.), marcaram decisivamente, pela qualidade da sua intervenção, a actividade editorial do país vizinho.
Aqui ficam, em sua memória, algumas notas biográficas.
Já que o trabalho dos editores não tem normalmente, pela sociedade, o reconhecimento que devia.
Dessas notas destaco os prémios literários que criou, quase todos destinados à maior divulgação dos escritores espanhóis contemporâneos.
José Manuel Lara Hernández, nació en la localidad sevillana de El Pedroso el 31 de diciembre de 1914. Se casó con María Teresa Bosch en Barcelona en 1941 de cuyo matrimonio nacieron 4 hijos: Maribel, Inés, José Manuel y Fernando. Este último falleció en 1995 de accidente de tráfico a los 38 años. Su hijo José Manuel Lara Bosch es consejero delegado del Grupo Planeta.
Hijo de Fernando Lara Calero, médico de El Pedroso, y de Inés Hernández, José Manuel Lara Hernández vivió la infancia y la adolescencia sin que su inquietud encajara en una orientación determinada. Marchó a Madrid a cursar estudios de Telecomunicación, que simultaneó con el teatro, donde llegó a formar parte de la compañía de Celia Gámez.
Hizo el servicio militar como voluntario en el mismo Madrid y el comienzo de la Guerra Civil le sorprendió en su pueblo, llegando a Barcelona al finalizar la contienda. Se quedó a vivir en Barcelona, donde contrajo matrimonio, en 1941, con María Teresa Bosch Carbonell, que, además de su esposa, ha sido una inestimable colaboradora en sus futuras empresas.
Antes de iniciar su actividad en el sector editorial, probó fortuna en la docencia y montó varias academias, hasta que se le presentó la oportunidad de adquirir una pequeña editorial, Tartesos. Creó Editorial Lara, que poco después se convertiría en Editorial Planeta con el propósito de apostar por autores españoles o que escribieran en España.
Logró sus primeros éxitos con obras traducidas, pero su empeño en potenciar a los autores españoles le llevó a crear el Premio Planeta en 1952, que se entrega desde entonces cada 15 de octubre, con una dotación inicial de 40.000 pesetas y que ha llegado a convertirse en el de mayor cuantía económica en lengua española y del que se han vendido más de 30 millones de ejemplares. Recientemente acaba de celebrarse su 51 edición con una dotación de 601.000 € (100 millones de pesetas)
Otros premios creados por Editorial Planeta son el Premio de Novela Fernando Lara, que lleva el nombre de su hijo fallecido en 1995, que se convoca conjuntamente con la Fundación José Manuel Lara y el Premio de las Letras Catalanas Ramon Llull, el mejor dotado en lengua catalana, así como el Premio Azorín de novela con la Diputación de Alicante. En 1973 instauró la Colección Espejo de España y dos años después instauró el Premio Espejo de España, para fomentar la elaboración de ensayos dedicados a esclarecer la historia de España.
En el año 2001, 11 de las más prestigiosas editoriales literarias de España crearon el Premio de Novela Fundación Lara, en reconocimiento a su labor por el desarrollo y el fomento de la lectura, para destacar a la mejor novela del año publicada en castellano por cualquier editorial en cualquier país.
Uno de los proyectos en los que puso mayor ilusión fue la Fundación José Manuel Lara, creada en 1991 para impulsar la cultura andaluza. Recientemente se inauguró en Sevilla la nueva sede de la Fundación, la Casa Fabiola, situada en el corazón del barrio de Santa Cruz.
El fundador del Grupo Planeta ha sido un buen aficionado al fútbol, seguidor del Sevilla y también del Espanyol, equipo con el que ha estado muy vinculado personalmente, del que fue directivo y accionista de referencia desde la sociedad Planeta Deportiva. Era aficionado al ajedrez y al bridge.
José Manuel Lara Hernández ha recibido, en 1977, otorgada por la Diputación Provincial de Barcelona, la Medalla de Oro al Mérito Cultural, que le fue entregada en un acto de homenaje de cuyo comité patrocinador formaron parte numerosas personalidades de las letras, la política y las finanzas y en que las adhesiones sumaban más de 25.000 firmas; en 1979 fue nombrado Comendador de número de la Orden del Mérito Civil; en 1988 fue distinguido por la Generalitat de Catalunya con la Creu de Sant Jordi; el Rey le otorgó el título de marqués del Pedroso de Lara, que le fue concedido en el Consejo de Ministros del 7 de octubre de 1994 y el 17 de mayo de 2000, recibió la Medalla de Oro al Mérito Cultural de la ciudad de Barcelona de manos del alcalde, Joan Clos, "por su meritoria aportación de carácter empresarial y cultural, favoreciendo de manera muy importante la presencia del sector editorial en Barcelona".
El Grupo Planeta es hoy un grupo de comunicación con una posición de liderazgo en la producción de contenidos para el mercado de habla hispana. Cuenta con más de 50 empresas propias y participadas con actividad en el sector editorial, venta a crédito, audiovisual, medios de comunicación, coleccionables y formación que se han ido desarrollando gracias a la fortaleza del proyecto empresarial impulsado por su fundador hace más de 50 años.
Faleceu hoje, em Barcelona, com 88 anos, José Manuel Lara Hernández, fundador do Grupo Planeta.
Sem dúvida que um dos homens da edição mais importantes, em Espanha, no início do século vinte.
O Grupo de editoras de que era proprietário (Seix-Barral, Destino, Planeta, Emecê, Espasa-Calpe, Martinez Rocca, Temas de Hoy, Critica, Ariel, etc.), marcaram decisivamente, pela qualidade da sua intervenção, a actividade editorial do país vizinho.
Aqui ficam, em sua memória, algumas notas biográficas.
Já que o trabalho dos editores não tem normalmente, pela sociedade, o reconhecimento que devia.
Dessas notas destaco os prémios literários que criou, quase todos destinados à maior divulgação dos escritores espanhóis contemporâneos.
José Manuel Lara Hernández, nació en la localidad sevillana de El Pedroso el 31 de diciembre de 1914. Se casó con María Teresa Bosch en Barcelona en 1941 de cuyo matrimonio nacieron 4 hijos: Maribel, Inés, José Manuel y Fernando. Este último falleció en 1995 de accidente de tráfico a los 38 años. Su hijo José Manuel Lara Bosch es consejero delegado del Grupo Planeta.
Hijo de Fernando Lara Calero, médico de El Pedroso, y de Inés Hernández, José Manuel Lara Hernández vivió la infancia y la adolescencia sin que su inquietud encajara en una orientación determinada. Marchó a Madrid a cursar estudios de Telecomunicación, que simultaneó con el teatro, donde llegó a formar parte de la compañía de Celia Gámez.
Hizo el servicio militar como voluntario en el mismo Madrid y el comienzo de la Guerra Civil le sorprendió en su pueblo, llegando a Barcelona al finalizar la contienda. Se quedó a vivir en Barcelona, donde contrajo matrimonio, en 1941, con María Teresa Bosch Carbonell, que, además de su esposa, ha sido una inestimable colaboradora en sus futuras empresas.
Antes de iniciar su actividad en el sector editorial, probó fortuna en la docencia y montó varias academias, hasta que se le presentó la oportunidad de adquirir una pequeña editorial, Tartesos. Creó Editorial Lara, que poco después se convertiría en Editorial Planeta con el propósito de apostar por autores españoles o que escribieran en España.
Logró sus primeros éxitos con obras traducidas, pero su empeño en potenciar a los autores españoles le llevó a crear el Premio Planeta en 1952, que se entrega desde entonces cada 15 de octubre, con una dotación inicial de 40.000 pesetas y que ha llegado a convertirse en el de mayor cuantía económica en lengua española y del que se han vendido más de 30 millones de ejemplares. Recientemente acaba de celebrarse su 51 edición con una dotación de 601.000 € (100 millones de pesetas)
Otros premios creados por Editorial Planeta son el Premio de Novela Fernando Lara, que lleva el nombre de su hijo fallecido en 1995, que se convoca conjuntamente con la Fundación José Manuel Lara y el Premio de las Letras Catalanas Ramon Llull, el mejor dotado en lengua catalana, así como el Premio Azorín de novela con la Diputación de Alicante. En 1973 instauró la Colección Espejo de España y dos años después instauró el Premio Espejo de España, para fomentar la elaboración de ensayos dedicados a esclarecer la historia de España.
En el año 2001, 11 de las más prestigiosas editoriales literarias de España crearon el Premio de Novela Fundación Lara, en reconocimiento a su labor por el desarrollo y el fomento de la lectura, para destacar a la mejor novela del año publicada en castellano por cualquier editorial en cualquier país.
Uno de los proyectos en los que puso mayor ilusión fue la Fundación José Manuel Lara, creada en 1991 para impulsar la cultura andaluza. Recientemente se inauguró en Sevilla la nueva sede de la Fundación, la Casa Fabiola, situada en el corazón del barrio de Santa Cruz.
El fundador del Grupo Planeta ha sido un buen aficionado al fútbol, seguidor del Sevilla y también del Espanyol, equipo con el que ha estado muy vinculado personalmente, del que fue directivo y accionista de referencia desde la sociedad Planeta Deportiva. Era aficionado al ajedrez y al bridge.
José Manuel Lara Hernández ha recibido, en 1977, otorgada por la Diputación Provincial de Barcelona, la Medalla de Oro al Mérito Cultural, que le fue entregada en un acto de homenaje de cuyo comité patrocinador formaron parte numerosas personalidades de las letras, la política y las finanzas y en que las adhesiones sumaban más de 25.000 firmas; en 1979 fue nombrado Comendador de número de la Orden del Mérito Civil; en 1988 fue distinguido por la Generalitat de Catalunya con la Creu de Sant Jordi; el Rey le otorgó el título de marqués del Pedroso de Lara, que le fue concedido en el Consejo de Ministros del 7 de octubre de 1994 y el 17 de mayo de 2000, recibió la Medalla de Oro al Mérito Cultural de la ciudad de Barcelona de manos del alcalde, Joan Clos, "por su meritoria aportación de carácter empresarial y cultural, favoreciendo de manera muy importante la presencia del sector editorial en Barcelona".
El Grupo Planeta es hoy un grupo de comunicación con una posición de liderazgo en la producción de contenidos para el mercado de habla hispana. Cuenta con más de 50 empresas propias y participadas con actividad en el sector editorial, venta a crédito, audiovisual, medios de comunicación, coleccionables y formación que se han ido desarrollando gracias a la fortaleza del proyecto empresarial impulsado por su fundador hace más de 50 años.
005 - JUSTIFICAÇÃO DE UM MAU BLOGUISTA
A falta de tempo, as deslocações, o muito trabalho, farão desta página uma manta de retalhos.
Tentarei ao menos ir colocando nela alguns textos e intervenções que ficaram por locais menos acessíveis,
ou que não tiveram sequer divulgação pública.
Com a preocupação de não fugir dos temas indicados.
Mesmo que isso implique ter de recorrer a algumas transcrições.
Espero que vos agrade.
Não espero aliás outra coisa senão isso.
NM
A falta de tempo, as deslocações, o muito trabalho, farão desta página uma manta de retalhos.
Tentarei ao menos ir colocando nela alguns textos e intervenções que ficaram por locais menos acessíveis,
ou que não tiveram sequer divulgação pública.
Com a preocupação de não fugir dos temas indicados.
Mesmo que isso implique ter de recorrer a algumas transcrições.
Espero que vos agrade.
Não espero aliás outra coisa senão isso.
NM
004 - HOMENAGEM A ANTÓNIO PAULOURO, Director do Jornal do Fundão
ELE, ANTÓNIO PAULOURO
“Não tenho outro remédio senão esperar a minha vez”
Nós chegávamos madrugada alta, eu e o Vítor Silva Tavares, vindos de Lisboa, para fechar o “& etc.”.
Encolhidos de frio, meninos da cidade grande, pouco habituados à proximidade da serra e às temperaturas cortantes da neve.
O meu velho VW demorava um ror de tempo para lá chegar, curvas e contracurvas por estradas que já não há, cuidados de condutor principiante, a noite e a chuva pesando sobre os nossos ombros.
O Vítor falava o caminho inteiro – era sempre assim. Histórias de escritores, coisas da política, os cortes da Censura que nos haviam estragado os textos, que esta vida não era fácil em tempos de ditadura.
Ele esperava-nos sorridente, com aquele sorriso irónico com que encarava mesmo as coisas mais complicadas, uma ceia quente preparada, os pratos pousados na borda da lareira acesa, a luz ténue da sala, os braços abertos de simpatia e amizade.
Às vezes eu achava que ele tinha um sorriso trocista, que se divertia ternamente connosco, gente de Lisboa, tremendo com o frio que aqui não havia, pouco habituados à frescura da serra, cansados dos maus caminhos de então. Pouco habituados também às investidas da Censura que ele sofria permanentemente, no dia a dia do seu trabalho, sabendo tornear as dificuldades. Com aquela sua coragem que fazia parecer simples as decisões mais complicadas.
- Se há hipótese de os gajos cortarem, pois não se manda o texto à Censura. Responsabilidade minha...
- Não é verdade, “senhor almirante” ? – perguntava-me ele brincando com o meu nome...
- O “senhor director” é quem manda... – respondia eu brincando com o seu estatuto...
E é assim a imagem que guardo dele. Um homem afável e simpático, irónico na linguagem, critico em permanência, corajoso nas atitudes, amigo de muitos amigos que sempre vi admirarem-no.
No dia seguinte, depois do trabalho feito, de um descanso merecido na Estalagem da Neve, íamos passear para a serra. Nós, o José Vaz Pereira, o Fernando Luso Soares, o Mário Castrim, o José Cardoso Pires, o Vergilio Martinho, outros colaboradores do jornal que ele sempre recebia com um bom almoço, vigiado ao longe pelos pides locais preparando o relatório.
O jornal era o centro de tudo, a aposta da sua vida, certamente o único jornal regional que soube juntar à sua volta alguns dos mais importantes escritores e jornalistas de então. Conheço poucos com quem ele não tenha convivido de perto, sempre com afabilidade e entusiasmo, pelos projectos e pelas ideias.
Mas, para além da intervenção jornalística, ele também gostava de literatura. Recordo, já em 1972, o entusiasmo com que promoveu a edição de três plaquetes irreverentes, hoje completamente fora do mercado (Rainhas Claudias ao Domingo, Para já Para já e As Aventuras do Major Bento), respectivamente da autoria do Vergilio Martinho, do Vítor Silva Tavares e de mim próprio. Mais tarde lançadas em Lisboa, no Café Monte Carlo, com os autores fazendo uma sessão de autógrafos com um carimbo.
Em tudo ele colocava a generosidade, a determinação e a coragem, a ironia permanente. Insubstituível, já ouvi chamar-lhe.
O jornal continua, em sua memória, com o mesmo espírito, agora dirigido pelo Fernando Paulouro.
Mas a saudade dele, essa, ninguém nos tira.
(Publicado no Jornal do Fundão em 24.01.2003)
ELE, ANTÓNIO PAULOURO
“Não tenho outro remédio senão esperar a minha vez”
Nós chegávamos madrugada alta, eu e o Vítor Silva Tavares, vindos de Lisboa, para fechar o “& etc.”.
Encolhidos de frio, meninos da cidade grande, pouco habituados à proximidade da serra e às temperaturas cortantes da neve.
O meu velho VW demorava um ror de tempo para lá chegar, curvas e contracurvas por estradas que já não há, cuidados de condutor principiante, a noite e a chuva pesando sobre os nossos ombros.
O Vítor falava o caminho inteiro – era sempre assim. Histórias de escritores, coisas da política, os cortes da Censura que nos haviam estragado os textos, que esta vida não era fácil em tempos de ditadura.
Ele esperava-nos sorridente, com aquele sorriso irónico com que encarava mesmo as coisas mais complicadas, uma ceia quente preparada, os pratos pousados na borda da lareira acesa, a luz ténue da sala, os braços abertos de simpatia e amizade.
Às vezes eu achava que ele tinha um sorriso trocista, que se divertia ternamente connosco, gente de Lisboa, tremendo com o frio que aqui não havia, pouco habituados à frescura da serra, cansados dos maus caminhos de então. Pouco habituados também às investidas da Censura que ele sofria permanentemente, no dia a dia do seu trabalho, sabendo tornear as dificuldades. Com aquela sua coragem que fazia parecer simples as decisões mais complicadas.
- Se há hipótese de os gajos cortarem, pois não se manda o texto à Censura. Responsabilidade minha...
- Não é verdade, “senhor almirante” ? – perguntava-me ele brincando com o meu nome...
- O “senhor director” é quem manda... – respondia eu brincando com o seu estatuto...
E é assim a imagem que guardo dele. Um homem afável e simpático, irónico na linguagem, critico em permanência, corajoso nas atitudes, amigo de muitos amigos que sempre vi admirarem-no.
No dia seguinte, depois do trabalho feito, de um descanso merecido na Estalagem da Neve, íamos passear para a serra. Nós, o José Vaz Pereira, o Fernando Luso Soares, o Mário Castrim, o José Cardoso Pires, o Vergilio Martinho, outros colaboradores do jornal que ele sempre recebia com um bom almoço, vigiado ao longe pelos pides locais preparando o relatório.
O jornal era o centro de tudo, a aposta da sua vida, certamente o único jornal regional que soube juntar à sua volta alguns dos mais importantes escritores e jornalistas de então. Conheço poucos com quem ele não tenha convivido de perto, sempre com afabilidade e entusiasmo, pelos projectos e pelas ideias.
Mas, para além da intervenção jornalística, ele também gostava de literatura. Recordo, já em 1972, o entusiasmo com que promoveu a edição de três plaquetes irreverentes, hoje completamente fora do mercado (Rainhas Claudias ao Domingo, Para já Para já e As Aventuras do Major Bento), respectivamente da autoria do Vergilio Martinho, do Vítor Silva Tavares e de mim próprio. Mais tarde lançadas em Lisboa, no Café Monte Carlo, com os autores fazendo uma sessão de autógrafos com um carimbo.
Em tudo ele colocava a generosidade, a determinação e a coragem, a ironia permanente. Insubstituível, já ouvi chamar-lhe.
O jornal continua, em sua memória, com o mesmo espírito, agora dirigido pelo Fernando Paulouro.
Mas a saudade dele, essa, ninguém nos tira.
(Publicado no Jornal do Fundão em 24.01.2003)
003 - ALGUMAS INTERROGAÇÕES AVULSAS (PRÓPRIAS E ALHEIAS) SOBRE A INDUSTRIA EDITORIAL
No último número da revista Que Leer (Março de 2003) alguém perguntava com razão: “Num país saturado de livros, em que as novidades se contam por milhares, resulta paradoxal que, com frequência, os alunos das universidades não encontrem os títulos que lhes prescrevem os seus professores e tenham de recorrer a fotocópias. Publica-se muito… mas por onde andam os livros importantes?”
*
Nos armazéns das editoras? Sujeitos a encomendas pontuais porque não encontram espaço de exposição nas livrarias?
*
Ou o “está esgotado no editor” passou a ser a desculpa cómoda daqueles livreiros que não querem incomodar-se a servir convenientemente os seus próprios clientes?
*
Os livros converteram-se em produtos de rápida caducidade, perdendo o seu interesse comercial se não são renovados ou substituídos rapidamente, como os iogurtes. A estratégia comercial deveria ajustar-se ao produto, e não o produto à estratégia comercial (José Maria Micó).
*
As livrarias transformaram-se em hotéis para uma noite. Nunca foi tão alto o índice de mortandade dos livros recém-nascidos (Idem).
*
Uma livraria consegue expor em média, de rosto para cima, nas suas bancadas, entre 200 a 250 livros, em função da sua área de exposição.
Em Portugal, mensalmente, chegam às livrarias mais de 600 títulos novos.
Quanto tempo dura actualmente a exposição de um livro nas livrarias, com o objectivo de chamar para ele a atenção dos seus leitores eventuais?
*
Ou quanto tem de pagar um editor para que um livro permaneça exposto por mais tempo na bancada de uma livraria? E nas montras? E junto à Caixa ou outros lugares de destaque?
*
E nos expositores das grandes superfícies?
*
E para ser colocado nos chamados tops de vendas?
*
Para além das despesas de logística (tudo o que envolve o transporte de um livro do armazém da editora até a uma livraria), quanto tem de pagar um editor ao livreiro pelo acto voluntário de aquisição de um livro por um seu leitor? 30% do preço de venda ao público? 35%? 40%?, 45%?, 50%...?
*
Consideram os livreiros que qualquer destes valores é insuficiente relativamente ao tipo de serviço prestado? Admitiriam os consumidores que os retalhistas lhes cobrassem valores similares pela aquisição de outros produtos ? 40% a mais por uma alface, uma cenoura, um pepino... que sou eu que escolho e coloco no meu cabaz de compras?
*
E quanto tempo demora um livreiro a entregar ao editor o dinheiro recebido de um leitor no acto de aquisição de um livro? Noventa dias? Cento e vinte dias? Mais?
*
E a devolver ao editor um livro de fraca rotação? Trinta dias? Quinze dias?
*
Actualmente fala-se mais de produtos e conteúdos, do que de livros (Valerie Milles).
*
Os agentes literários internacionais já não representam autores, mas apenas produtos. Actualmente, nem os que compram, nem os que vendem, conhecem a realidade desses produtos (Javier Aparício). No mundo da edição cada vez menos os editores, ou os agentes, lêem os livros que comercializam.
*
O conceito de exportação tenderá a desaparecer. Com a instabilidade das moedas de alguns países não se pode pensar em exportações (Miquel Alzueta). O importador recebe em dólares os livros enviados pelo editor. Converte o dólar na moeda local para colocar o livro à venda no seu país. Quando recebe o produto dessa venda, a moeda local, convertida de novo em dólar, já não é suficiente para pagar a factura do editor.
*
Para um jornalista cultural, falar de um filme, de um disco, de um espectáculo, descrever o seu conteúdo, indicar quem o produziu, quais os seus intervenientes, quanto custa, onde está à venda, etc. é um imprescindível acto de informação perante os seus leitores. Dizer tudo isto de um livro é um favor muito especial que se faz ao editor ou ao autor.
*
Se, simbolicamente, um livro custar 1 euro a ser fabricado, se a produção de novidades em Portugal ultrapassar os 10.000 títulos anuais, se de cada título o editor oferecer em média 200 exemplares aos meios de comunicação social, instituições oficiais, depósito legal, etc. – quanto gasta por ano a industria editorial portuguesa para minimamente tentar divulgar a sua actividade? Quatrocentos milhões de escudos. Sem contar com as despesas de envio...
*
E quanto pode obter em contrapartida? Um texto semanal, por editora, num órgão de comunicação social? Menos? E aquisições das Bibliotecas Públicas? E das escolares?
*
Podem os jornais ligados a editoras e a redes de livrarias organizar com seriedade um top de vendas? E as redes de livrarias ligadas a editoras? Qual a seriedade global dos tops de vendas de livros existentes no nosso país em termos de orientação dos leitores menos informados?
*
Que impostos arrecada o Estado com a industria editorial portuguesa? Se as vendas do sector se aproximam dos 500 milhões de euros, quanto representam os 5% de IVA que cada leitor entrega ao Estado no acto de compra de cada livro? 25 milhões de euros.
*
E o IRC pago pelas empresas editoriais? E o IRS pago pelos mais de 3.000 trabalhadores do sector, pelos autores, tradutores, desenhadores, fotógrafos, revisores, etc.? E os impostos pagos por todas as áreas adjacentes, industria gráfica e de papel, livreiros, transportadores, armazenistas, distribuidores?
*
E que parcela destes impostos é revertida para iniciativas culturais, fomento da leitura, aquisições pelas bibliotecas, representação cultural externa, etc? Para o próprio orçamento do Ministério da Cultura ou do Instituto do Livro?
*
O que é o IVA sobre os livros senão um injusto imposto sobre a leitura? Pode um país com tão baixos índices de leitura “castigar” aqueles que lêem? Pode um país tão necessitado de desenvolvimento castigar deste modo quem procura informar-se, formar-se, aceder ao conhecimento e à cultura? Pode um país sem verbas para aquisição de livros através das suas poucas Bibliotecas Públicas, dificultar ainda mais essa aquisição pelas que existem?
*
O livro não é um produto cultural que interesse a comunicação, a rádio, os jornais, as revistas, as televisões, as promessas eleitorais dos partidos, as políticas dos governos. No entanto não há nenhum político que não corra para ficar na fotografia ao lado de um escritor premiado. Os autores portugueses têm feito bastante mais pela dignificação da imagem externa do país do que muitos políticos desajeitados.
*
Um livro não demonstra a sua qualidade através do seu volume de vendas. Sempre houve livros importantes que venderam pouco. Mas também não devemos desprezar os livros que se tornam mediáticos, como hoje dizemos. Porque eles tiveram, no mínimo, a qualidade de saber conquistar novos leitores. E há que competir com as outras formas de utilização do tempo.
*
Ser editor é criar um catálogo (Jorge Herralde). Uma editora que não reimprima sistematicamente o seu catálogo, não tem futuro (Enrique Folch).
*
O livro terá que transformar-se, pouco a pouco, num objecto comum da nossa vida quotidiana.
(Publicado no DNA de 19.04.2003)
No último número da revista Que Leer (Março de 2003) alguém perguntava com razão: “Num país saturado de livros, em que as novidades se contam por milhares, resulta paradoxal que, com frequência, os alunos das universidades não encontrem os títulos que lhes prescrevem os seus professores e tenham de recorrer a fotocópias. Publica-se muito… mas por onde andam os livros importantes?”
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Nos armazéns das editoras? Sujeitos a encomendas pontuais porque não encontram espaço de exposição nas livrarias?
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Ou o “está esgotado no editor” passou a ser a desculpa cómoda daqueles livreiros que não querem incomodar-se a servir convenientemente os seus próprios clientes?
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Os livros converteram-se em produtos de rápida caducidade, perdendo o seu interesse comercial se não são renovados ou substituídos rapidamente, como os iogurtes. A estratégia comercial deveria ajustar-se ao produto, e não o produto à estratégia comercial (José Maria Micó).
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As livrarias transformaram-se em hotéis para uma noite. Nunca foi tão alto o índice de mortandade dos livros recém-nascidos (Idem).
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Uma livraria consegue expor em média, de rosto para cima, nas suas bancadas, entre 200 a 250 livros, em função da sua área de exposição.
Em Portugal, mensalmente, chegam às livrarias mais de 600 títulos novos.
Quanto tempo dura actualmente a exposição de um livro nas livrarias, com o objectivo de chamar para ele a atenção dos seus leitores eventuais?
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Ou quanto tem de pagar um editor para que um livro permaneça exposto por mais tempo na bancada de uma livraria? E nas montras? E junto à Caixa ou outros lugares de destaque?
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E nos expositores das grandes superfícies?
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E para ser colocado nos chamados tops de vendas?
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Para além das despesas de logística (tudo o que envolve o transporte de um livro do armazém da editora até a uma livraria), quanto tem de pagar um editor ao livreiro pelo acto voluntário de aquisição de um livro por um seu leitor? 30% do preço de venda ao público? 35%? 40%?, 45%?, 50%...?
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Consideram os livreiros que qualquer destes valores é insuficiente relativamente ao tipo de serviço prestado? Admitiriam os consumidores que os retalhistas lhes cobrassem valores similares pela aquisição de outros produtos ? 40% a mais por uma alface, uma cenoura, um pepino... que sou eu que escolho e coloco no meu cabaz de compras?
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E quanto tempo demora um livreiro a entregar ao editor o dinheiro recebido de um leitor no acto de aquisição de um livro? Noventa dias? Cento e vinte dias? Mais?
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E a devolver ao editor um livro de fraca rotação? Trinta dias? Quinze dias?
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Actualmente fala-se mais de produtos e conteúdos, do que de livros (Valerie Milles).
*
Os agentes literários internacionais já não representam autores, mas apenas produtos. Actualmente, nem os que compram, nem os que vendem, conhecem a realidade desses produtos (Javier Aparício). No mundo da edição cada vez menos os editores, ou os agentes, lêem os livros que comercializam.
*
O conceito de exportação tenderá a desaparecer. Com a instabilidade das moedas de alguns países não se pode pensar em exportações (Miquel Alzueta). O importador recebe em dólares os livros enviados pelo editor. Converte o dólar na moeda local para colocar o livro à venda no seu país. Quando recebe o produto dessa venda, a moeda local, convertida de novo em dólar, já não é suficiente para pagar a factura do editor.
*
Para um jornalista cultural, falar de um filme, de um disco, de um espectáculo, descrever o seu conteúdo, indicar quem o produziu, quais os seus intervenientes, quanto custa, onde está à venda, etc. é um imprescindível acto de informação perante os seus leitores. Dizer tudo isto de um livro é um favor muito especial que se faz ao editor ou ao autor.
*
Se, simbolicamente, um livro custar 1 euro a ser fabricado, se a produção de novidades em Portugal ultrapassar os 10.000 títulos anuais, se de cada título o editor oferecer em média 200 exemplares aos meios de comunicação social, instituições oficiais, depósito legal, etc. – quanto gasta por ano a industria editorial portuguesa para minimamente tentar divulgar a sua actividade? Quatrocentos milhões de escudos. Sem contar com as despesas de envio...
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E quanto pode obter em contrapartida? Um texto semanal, por editora, num órgão de comunicação social? Menos? E aquisições das Bibliotecas Públicas? E das escolares?
*
Podem os jornais ligados a editoras e a redes de livrarias organizar com seriedade um top de vendas? E as redes de livrarias ligadas a editoras? Qual a seriedade global dos tops de vendas de livros existentes no nosso país em termos de orientação dos leitores menos informados?
*
Que impostos arrecada o Estado com a industria editorial portuguesa? Se as vendas do sector se aproximam dos 500 milhões de euros, quanto representam os 5% de IVA que cada leitor entrega ao Estado no acto de compra de cada livro? 25 milhões de euros.
*
E o IRC pago pelas empresas editoriais? E o IRS pago pelos mais de 3.000 trabalhadores do sector, pelos autores, tradutores, desenhadores, fotógrafos, revisores, etc.? E os impostos pagos por todas as áreas adjacentes, industria gráfica e de papel, livreiros, transportadores, armazenistas, distribuidores?
*
E que parcela destes impostos é revertida para iniciativas culturais, fomento da leitura, aquisições pelas bibliotecas, representação cultural externa, etc? Para o próprio orçamento do Ministério da Cultura ou do Instituto do Livro?
*
O que é o IVA sobre os livros senão um injusto imposto sobre a leitura? Pode um país com tão baixos índices de leitura “castigar” aqueles que lêem? Pode um país tão necessitado de desenvolvimento castigar deste modo quem procura informar-se, formar-se, aceder ao conhecimento e à cultura? Pode um país sem verbas para aquisição de livros através das suas poucas Bibliotecas Públicas, dificultar ainda mais essa aquisição pelas que existem?
*
O livro não é um produto cultural que interesse a comunicação, a rádio, os jornais, as revistas, as televisões, as promessas eleitorais dos partidos, as políticas dos governos. No entanto não há nenhum político que não corra para ficar na fotografia ao lado de um escritor premiado. Os autores portugueses têm feito bastante mais pela dignificação da imagem externa do país do que muitos políticos desajeitados.
*
Um livro não demonstra a sua qualidade através do seu volume de vendas. Sempre houve livros importantes que venderam pouco. Mas também não devemos desprezar os livros que se tornam mediáticos, como hoje dizemos. Porque eles tiveram, no mínimo, a qualidade de saber conquistar novos leitores. E há que competir com as outras formas de utilização do tempo.
*
Ser editor é criar um catálogo (Jorge Herralde). Uma editora que não reimprima sistematicamente o seu catálogo, não tem futuro (Enrique Folch).
*
O livro terá que transformar-se, pouco a pouco, num objecto comum da nossa vida quotidiana.
(Publicado no DNA de 19.04.2003)
domingo, maio 11, 2003
002 - SOMOS UNS PESSIMISTAS, SIM
Olhamos em volta. Vemos o Portas e as trafulhices da Moderna, a Madame Felgueiras fugindo para o Brasil perante a cara tapada dos Tribunais e das Policias, o escandalo assumido da Camara da Amadora, os Policias, GNRs e os Fiscais das Finanças acusados de corrupção, a rede de pedofilia que afinal é mais extensa do que se pensava, o tema Isaltino e a Camara de Oeiras que, pelos vistos, ainda mal começou e tem muito que contar, um Governo que participa tranquilamente na violação das mais elementares leis internacionais.
E pensamos, então: não foi bem para isto que alguns de nós lutaram pela democracia; não foi bem neste mundo que fizemos planos de viver. Algo está em causa nas democracias modernas.
É claro, somos uns pessimistas.
Olhamos em volta. Vemos o Portas e as trafulhices da Moderna, a Madame Felgueiras fugindo para o Brasil perante a cara tapada dos Tribunais e das Policias, o escandalo assumido da Camara da Amadora, os Policias, GNRs e os Fiscais das Finanças acusados de corrupção, a rede de pedofilia que afinal é mais extensa do que se pensava, o tema Isaltino e a Camara de Oeiras que, pelos vistos, ainda mal começou e tem muito que contar, um Governo que participa tranquilamente na violação das mais elementares leis internacionais.
E pensamos, então: não foi bem para isto que alguns de nós lutaram pela democracia; não foi bem neste mundo que fizemos planos de viver. Algo está em causa nas democracias modernas.
É claro, somos uns pessimistas.
001 - A GUERRA NO IRAQUE, CLARO, E AS COMPRAS DE LIVROS NOS USA
No es una caza de libros, pero lo parece.
La voz de alarma la han dado libreros de varios Estados norteamericanos, que advierten contra las prácticas de espionaje del FBI. Este organismo tiene licencia para investigar los libros que abordan el tema del terrorismo mediante la comprobación de los títulos que aparecen en las compras efectuadas con tarjeta de crédito. Precisamente, álgunos de los títulos más vendidos en EE UU (de autores como Gore Vidal, Michael Moore o Noam Chomsky) se posicionan contra Bush y la política exterior del país.
Las librerías de Santa Cruz, en California, han prevenido a sus lectores de que la compra de libros que tratan cuestiones sobre el terrorismo y contrarios al papel de Estados Unidos ante la crisis nacida tras el 11-S puede convertir en objeto de las investigaciones del FBI, según ha difundido la cadena CBS. Dicho departamento, amparado en la ley estadounidense Acta Patriótica, puede seguir la pista a todos aquellos que se hagan con una obra que el FBI vincule a los citados temas.
La investigación empieza en el momento que el cliente realiza la compra de uno de estos libros con una tarjeta de crédito. A partir de entonces, el FBI comienza a hacer un seguimiento de todas las compras de dicho consumidor gracias al rastro que dejan las adquisiciones hechas con tarjeta. Según este departamento de investigación, los hábitos de los sospechosos (entre los que figura la compra y consulta de ciertos libros) pueden ser una prueba concluyente para determinar la vinculación de los lectores con redes terroristas.
La única forma de mantenerse a salvo de las investigaciones del FBI es efectuar la compra de los libros en metálico, una táctica que sugiere a todos sus clientes Neal Coonerty, el dueño de una de las librerías de Santa Cruz en el estado de California.
Aunque el FBI no ha hecho pública una lista de libros susceptibles de ser relacionados con redes terroristas, muchos libreros se han quejado de que el FBI persigue a los compradores de estos libros.
El californiano Neal Coonerty explica que previene a sus clientes de estas prácticas porque «considero imprescindible mantener en la más estricta privacidad las lecturas de mis clientes». Dicho propietario mantiene que «los lectores no tienen por qué ser sospechosos por las lecturas que realizan, ya que el hecho de leer una novela de misterio no significa que el lector sea un asesino potencial». Añade que «el ir a todas las librerías y bibliotecas para investigar las identidades de las personas que leen determinados libros no hace a América estar más segura de ataques terroristas».
Anne Turner, responsable de una de las bibliotecas de Santa Cruz, explica que «estas investigaciones vulneran los derechos humanos». A jucio de la bibliotecaria, «al aprobar esta ley se ha pasado por alto la Constitución, donde se establece el derecho a la privacidad de los ciudadanos americanos».
No es una caza de libros, pero lo parece.
La voz de alarma la han dado libreros de varios Estados norteamericanos, que advierten contra las prácticas de espionaje del FBI. Este organismo tiene licencia para investigar los libros que abordan el tema del terrorismo mediante la comprobación de los títulos que aparecen en las compras efectuadas con tarjeta de crédito. Precisamente, álgunos de los títulos más vendidos en EE UU (de autores como Gore Vidal, Michael Moore o Noam Chomsky) se posicionan contra Bush y la política exterior del país.
Las librerías de Santa Cruz, en California, han prevenido a sus lectores de que la compra de libros que tratan cuestiones sobre el terrorismo y contrarios al papel de Estados Unidos ante la crisis nacida tras el 11-S puede convertir en objeto de las investigaciones del FBI, según ha difundido la cadena CBS. Dicho departamento, amparado en la ley estadounidense Acta Patriótica, puede seguir la pista a todos aquellos que se hagan con una obra que el FBI vincule a los citados temas.
La investigación empieza en el momento que el cliente realiza la compra de uno de estos libros con una tarjeta de crédito. A partir de entonces, el FBI comienza a hacer un seguimiento de todas las compras de dicho consumidor gracias al rastro que dejan las adquisiciones hechas con tarjeta. Según este departamento de investigación, los hábitos de los sospechosos (entre los que figura la compra y consulta de ciertos libros) pueden ser una prueba concluyente para determinar la vinculación de los lectores con redes terroristas.
La única forma de mantenerse a salvo de las investigaciones del FBI es efectuar la compra de los libros en metálico, una táctica que sugiere a todos sus clientes Neal Coonerty, el dueño de una de las librerías de Santa Cruz en el estado de California.
Aunque el FBI no ha hecho pública una lista de libros susceptibles de ser relacionados con redes terroristas, muchos libreros se han quejado de que el FBI persigue a los compradores de estos libros.
El californiano Neal Coonerty explica que previene a sus clientes de estas prácticas porque «considero imprescindible mantener en la más estricta privacidad las lecturas de mis clientes». Dicho propietario mantiene que «los lectores no tienen por qué ser sospechosos por las lecturas que realizan, ya que el hecho de leer una novela de misterio no significa que el lector sea un asesino potencial». Añade que «el ir a todas las librerías y bibliotecas para investigar las identidades de las personas que leen determinados libros no hace a América estar más segura de ataques terroristas».
Anne Turner, responsable de una de las bibliotecas de Santa Cruz, explica que «estas investigaciones vulneran los derechos humanos». A jucio de la bibliotecaria, «al aprobar esta ley se ha pasado por alto la Constitución, donde se establece el derecho a la privacidad de los ciudadanos americanos».