terça-feira, maio 13, 2003
010 - APONTAR COM O DEDO PARA O CENTRO DA TERRA
Este é o título do catálogo da última exposição de Júlio Pomar realizada em Lisboa, na Galeria 111, e de um texto de António Lobo Antunes que lhe serve de complemento.
Uma edição excepcional com design de Henrique Cayatte.
Desde logo pela reunião de duas das mais importantes personalidades da cultura portuguesa contemporânea, dois dos nossos artistas mais internacionais, dois homens que têm do seu trabalho uma similar concepção de minúcia e de rigor.
Um, faz e refaz os seus quadros ao longo de vários anos (conforme se pode ver pelas próprias datas neles inscritas) na busca do gesto perfeito e definitivo que não há.
O outro, trabalha a sua escrita incessantemente, ao longo dos dias, na procura de que ela diga o que as palavras, no limite, já quase não são capazes de dizer.
Ambos, com esse seu trabalho minucioso, procuram transmitir-nos a beleza e a emoção que só podem ser lidas e costuradas por dentro, no interior desarmado e vulnerável dos seus dois processos criativos. As suas obras são bem o exemplo do trabalho oficinal, esforçado e doloroso, o trabalho que nos aponta o centro da terra, como o título parece querer dizer, o lugar onde nascem as cores e as ideias, se multiplicam as vozes e as formas, as raízes do nosso deslumbramento.
Um pintou e permitiu que lhe reproduzissem todos os seus quadros neste catálogo.
O outro quis falar-nos dessa pintura colocando-se por dentro dela, para que num acto impossível as palavras se substituíssem às cores, as frases se parecessem com os gestos, a escrita ocupasse o lugar de onde antes tinha nascido o quadro.
Foi esta cumplicidade provocante que estes dois artistas aceitaram deixar impressa neste objecto.
Nenhum deles (que eu saiba) teve ainda o Prémio Pessoa ou o Camões, ou outros prémios equivalentes. São autores pouco premiados, cá em casa.
No entanto, quando se organizam representações culturais ao estrangeiro (aquelas a que nenhum político nacional perde a oportunidade de se juntar) solicita-se cada vez mais a inclusão dos seus nomes e a sua presença, tentando usufruir daquilo que não ajudaram a criar.
Digo-o com aquela ironia magoada de quem sabe que as coisas sérias se dizem normalmente a brincar.
Gostava que gostassem.
A exposição já não a podem ver. Mas o catálogo continua disponível na Galeria 111.
Este é o título do catálogo da última exposição de Júlio Pomar realizada em Lisboa, na Galeria 111, e de um texto de António Lobo Antunes que lhe serve de complemento.
Uma edição excepcional com design de Henrique Cayatte.
Desde logo pela reunião de duas das mais importantes personalidades da cultura portuguesa contemporânea, dois dos nossos artistas mais internacionais, dois homens que têm do seu trabalho uma similar concepção de minúcia e de rigor.
Um, faz e refaz os seus quadros ao longo de vários anos (conforme se pode ver pelas próprias datas neles inscritas) na busca do gesto perfeito e definitivo que não há.
O outro, trabalha a sua escrita incessantemente, ao longo dos dias, na procura de que ela diga o que as palavras, no limite, já quase não são capazes de dizer.
Ambos, com esse seu trabalho minucioso, procuram transmitir-nos a beleza e a emoção que só podem ser lidas e costuradas por dentro, no interior desarmado e vulnerável dos seus dois processos criativos. As suas obras são bem o exemplo do trabalho oficinal, esforçado e doloroso, o trabalho que nos aponta o centro da terra, como o título parece querer dizer, o lugar onde nascem as cores e as ideias, se multiplicam as vozes e as formas, as raízes do nosso deslumbramento.
Um pintou e permitiu que lhe reproduzissem todos os seus quadros neste catálogo.
O outro quis falar-nos dessa pintura colocando-se por dentro dela, para que num acto impossível as palavras se substituíssem às cores, as frases se parecessem com os gestos, a escrita ocupasse o lugar de onde antes tinha nascido o quadro.
Foi esta cumplicidade provocante que estes dois artistas aceitaram deixar impressa neste objecto.
Nenhum deles (que eu saiba) teve ainda o Prémio Pessoa ou o Camões, ou outros prémios equivalentes. São autores pouco premiados, cá em casa.
No entanto, quando se organizam representações culturais ao estrangeiro (aquelas a que nenhum político nacional perde a oportunidade de se juntar) solicita-se cada vez mais a inclusão dos seus nomes e a sua presença, tentando usufruir daquilo que não ajudaram a criar.
Digo-o com aquela ironia magoada de quem sabe que as coisas sérias se dizem normalmente a brincar.
Gostava que gostassem.
A exposição já não a podem ver. Mas o catálogo continua disponível na Galeria 111.