quinta-feira, setembro 25, 2003
105 - JORGE COLOMBO
Vá lá, façam uma visita ao site do Jorge Colombo.
Ninguém se arrependerá.
É bem melhor do que ficar a ouvir o futuro cabeça de lista da coligação PSD/CDS às eleições europeias. Ele não vai dizer nada de importante. Só vai preparar o terreno para sair por aí.
Ninguém se arrependerá.
É bem melhor do que ficar a ouvir o futuro cabeça de lista da coligação PSD/CDS às eleições europeias. Ele não vai dizer nada de importante. Só vai preparar o terreno para sair por aí.
104 - GRUPOS EDITORIAIS - EDITORES "INDEPENDENTES"
Este é o título do último texto publicado no DNA de 13.09.2003.
Com ele encerrei, ao fim de um ano, a minha colaboração em termos regulares nesta publicação.
Sobra-me a inveja e a admiração por todos aqueles que, não sendo profissionais, conseguem manter uma colaboração regular na comunicação social. Não é fácil, na verdade. Sobretudo quando (como é o meu caso) a vida se nos enche de outras responsabilidades e compromissos. Nem sempre tão agradáveis...
Tentarei voltar, outro dia, após esta pausa. Se alguém achar isso interessante, evidentemente.
Aqui fica o texto:
A presença de Grupos empresariais na área da edição ou da comercialização do livro, não está em Portugal ainda suficientemente tratada, provavelmente por não termos para a pensar nem a experiência, nem os dados, nem o distanciamento suficientes.
Em algumas intervenções recentes, no nosso meio, tenho ouvido classificar esta situação – repetidamente – como de uma “grave ameaça” para o nosso mercado.
É evidente que esta é uma forma barroca de considerar o problema. A não ser que consideremos “ameaçadora” a própria realidade em que nos movemos.
Em toda a parte tem sido esta a tendência dominante no mundo empresarial, não apenas no sector da edição. As empresas associam-se, fundem-se, constituem grupos poderosos, internacionalizam-se, os grandes envolvem os pequenos, procuram novos mercados para um mais largo exercício da sua actividade.
São um dos efeitos da globalização, como agora se diz. Não há nada a fazer. Ou melhor: não está nas nossas mãos fazer diferente, enquanto esta for a tendência dominante da economia mundial.
Esta é a realidade com que temos de contar no nosso dia a dia, não vale a pena fugir dela. Tão-pouco considerá-la “ameaçadora”, porque não será isso que a transformará.
O que temos é de aprender a viver com ela, modificando alguns dos nossos critérios profissionais e de gestão, as nossas estratégias empresariais, explorando as oportunidades e os espaços que consideramos poder e dever ocupar.
Os Grupos não são necessariamente "inimigos", nem são irremediavelmente “maus”, antes, em alguns casos, poderão ser parceiros interessantes para o contraste das nossas próprias experiências, para o desenvolvimento da nossa criatividade e capacidade de reacção.
Mesmo em Portugal, onde estas coisas chegam sempre com atraso, algumas destas tendências manifestam-se já desde há alguns anos, não são uma realidade nova. Começaram na área da comercialização com o aparecimento das grandes superfícies de venda, os hipermercados, todos integrados em grupos empresariais poderosos, passaram depois pela formação de fortes grupos livreiros nacionais como foi o caso das mais de 30 livrarias Bertrand, culminaram com a chegada ao nosso mercado de um grupo europeu como a Fnac, já com várias lojas em funcionamento, e alguns outros se aproximam, como por exemplo El Corte Inglês, que se instalou há menos tempo.
Mesmo na área da edição propriamente dita, poderemos citar a já antiga presença em Portugal do Grupo Bertelsmann, com o seu clube do livro, o Circulo de Leitores e com a Temas e Debates a sua editora para o mercado tradicional das livrarias; do Grupo Noticias/Lusomundo/Portugal Telecom, com a Editorial Noticias, a editorial Oficina do Livro, a sua distribuidora e a sua rede livrarias; da própria Dom Quixote hoje integrada no Grupo Planeta, o mais importante grupo editorial da Península Ibérica, ou de muitas outras iniciativas que todos sabemos que se aproximam.
Todos estes Grupos têm estratégias ambiciosas, objectivos de liderança do mercado, alguns deles visam, inclusivamente, o objectivo mais largo de liderança em todo o espaço da língua portuguesa. Refiro-me ao Brasil e aos países africanos de língua oficial portuguesa.
A par desta actuação, coexistem evidentemente com o seu imprescindível e meritório trabalho muitas editoras designadas por “independentes” – embora esta designação mereça hoje, também, alguma clarificação. Dado que para se manterem “independentes” muitas destas empresas tiveram também de criar as “dependências” específicas que melhor lhes permitam resistir e actuar.
Quanto a mim, encaro com poucas diferenças a dependência de um Grupo empresarial de edição, da dependência de um Banco, de um Distribuidor, ou até das poderosas redes livreiras existentes no mercado. Ou melhor: porque já tive as duas experiências, prefiro de longe a dependência de um Grupo profissional com quem possa partilhar objectivos similares.
Os verdadeiros editores são, por princípio e definição, “independentes”... quer exerçam a sua actividade no interior de um Grupo, quer isoladamente.
Todos compreendemos hoje que só obtendo resultados se garante a sobrevivência a médio e longo prazo, e que esta é uma regra a que nenhuma empresa (pequena ou grande, “independente” ou em Grupo) poderá fugir. Para isso, cada um cria as dependências que considera mais convenientes para salvaguarda da continuidade do seu trabalho. Até mesmo os editores que gostam de continuar a designar-se como “independentes”...
Nos últimos anos, em Portugal, a propósito da falência de uma grande Distribuidora nacional e das graves consequências dessa situação para muitos pequenos editores “independentes”, tenho ouvido culpar a lógica e o funcionamento dos grupos empresariais que entre nós actuam na área da comercialização.
Trata-se evidentemente de uma reacção emocional, muito motivada pelas previsíveis dificuldades que terão de ser geridas por essas dezenas de pequenas editoras, que recorriam antes aos serviços e ao crédito da referida Distribuidora.
Aqui, como em tudo o mais, há pois que saber controlar as nossas emoções e preocupações, tentando encontrar a correcta análise da realidade.
Os Grupos não podem ser responsabilizados por todas as nossas “desgraças”.
E, evidentemente, não parece correcto, tal como aconteceu nessa altura, tentar solicitar que seja o Estado, torneando provavelmente a legislação europeia reguladora da concorrência e do funcionamento do mercado, a intervir em casos como esses, moderando a capacidade de gestão dessas unidades empresariais relativamente a outras que operam em idênticas condições e circunstâncias de mercado.
Portugal pode dizer que tem hoje um público de leitores e de compradores regulares de livros que antes não tinha – pena que as pobres estatísticas oficiais (referidas ainda aos anos em que nem sequer existiam Fnacs...), nos não consigam mostrar mais do que uma arqueologia do sector. E onde há mais leitores e mais leitura aumentam certamente as oportunidades para as empresas do sector do livro, tanto editores como livreiros.
Em termos culturais, eu não sou partidário (como parecem ser alguns dos actuais responsáveis culturais) de um total liberalismo de funcionamento do mercado. Trata-se afinal da cultura de um país, do modo como nos vemos uns aos outros, ou de como queremos ser vistos do exterior. A cultura é a nossa cara, e mais do que a nossa cara é a nossa respiração.
Deixá-la entregue, livremente, com todas as suas fragilidades e especificidades, às puras regras de funcionamento do mercado é correr o risco do que pode designar-se como o fenómeno “Big-Brother”. Se o mercado exige, é isso apenas o que teremos de consumir…
Não pode ser assim... os gostos educam-se, o “pensar” ensina-se, e todos (incluindo o Estado) teremos de fazer algum esforço nesse sentido.
Mas também não pode exigir-se ao Estado que intervenha fora dos limites da sua função reguladora. O apelo vulgar e sistemático à intervenção do Estado nas situações de crise, só pode ser revelador da nossa falta de capacidade para encontrar as soluções adequadas para os problemas que teremos de ser nós a resolver.
Eu costumo dizer que devemos deixar (e sobretudo vigiar) que o Estado cumpra o seu papel e faça o trabalho que lhe compete: que produza e melhore a legislação necessária (uma boa Lei do Preço Fixo, uma mais clara legislação sobre a concorrência, um Código do Direito de Autor adaptado aos tempos modernos, etc.); que promova na actividade escolar o gosto dos jovens pela leitura e pelo estudo do nosso património literário; que intensifique o alargamento da rede de bibliotecas escolares e de leitura pública; que apoie o reconhecimento externo da nossa língua e dos nossos escritores; que apoie a edição, não estritamente comercial, do nosso património literário fundamental; que compre livros para as bibliotecas pelas quais é responsável, e não que legisle de modo a que estes lhes sejam entregues gratuitamente sob a forma de Depósitos Legais; que reflicta sobre os efeitos desse verdadeiro imposto sobre o crescimento da leitura que é o IVA, ou aproveite as suas receitas para reais acções de dinamização da leitura, etc.
O que não podemos é exigir do Estado que corrija as más decisões dos gestores editoriais.
Os Grupos empresariais na área do livro ocuparam o seu espaço em Portugal tal como aconteceu noutros países. Inundaram o mercado de muitos livros bons e de muitos livros maus, desenvolveram novas regras de funcionamento junto dos autores, aplicaram ao livro e aos seus produtores novas regras de comercialização, de marketing, de venda. Introduziram no mercado as suas regras de funcionamento, a sua elevada capacidade negocial, mas também um maior dinamismo, imaginação e criatividade que foram capazes de abrir novos espaços para a leitura, o lazer, a aprendizagem através do livro.
Construíram além disso uma indústria editorial mais forte. E sem uma indústria editorial forte não há espaço de trabalho independente para os criadores ou para os profissionais do sector.
Os Grupos não publicam só best-sellers, ou só lixo editorial. E sobretudo não são sequer os únicos a fazê-lo…
Só criando novos leitores se aumentam os hábitos de leitura permanentes; só despertando o interesse pela leitura se formam leitores cada dia mais capazes de livremente seleccionar aquilo que querem ler.
Cabe-nos a nós a adaptação e o contraponto a estes desafios. O que não podemos é continuar a repetir a filosofia da desgraça e da crise permanente, ou a solicitar o paternal apoio do Estado perante estas ditas “ameaças” – onde apenas nos é exigido uma melhor definição e ocupação do espaço enorme que nos sobra para o exercício da nossa criatividade e profissionalismo.
O mercado está a crescer, pelo menos em Portugal. Há que aproveitar as suas oportunidades.
A presença dos grupos de edição ou de comercialização do livro tornou o nosso mercado mais dinâmico, aberto, competitivo. Cabe aos editores e livreiros “independentes”, retirarem disso, com imaginação e trabalho, maiores benefícios e oportunidades.
Ou unirem-se, também, é outra possibilidade.
Com ele encerrei, ao fim de um ano, a minha colaboração em termos regulares nesta publicação.
Sobra-me a inveja e a admiração por todos aqueles que, não sendo profissionais, conseguem manter uma colaboração regular na comunicação social. Não é fácil, na verdade. Sobretudo quando (como é o meu caso) a vida se nos enche de outras responsabilidades e compromissos. Nem sempre tão agradáveis...
Tentarei voltar, outro dia, após esta pausa. Se alguém achar isso interessante, evidentemente.
Aqui fica o texto:
A presença de Grupos empresariais na área da edição ou da comercialização do livro, não está em Portugal ainda suficientemente tratada, provavelmente por não termos para a pensar nem a experiência, nem os dados, nem o distanciamento suficientes.
Em algumas intervenções recentes, no nosso meio, tenho ouvido classificar esta situação – repetidamente – como de uma “grave ameaça” para o nosso mercado.
É evidente que esta é uma forma barroca de considerar o problema. A não ser que consideremos “ameaçadora” a própria realidade em que nos movemos.
Em toda a parte tem sido esta a tendência dominante no mundo empresarial, não apenas no sector da edição. As empresas associam-se, fundem-se, constituem grupos poderosos, internacionalizam-se, os grandes envolvem os pequenos, procuram novos mercados para um mais largo exercício da sua actividade.
São um dos efeitos da globalização, como agora se diz. Não há nada a fazer. Ou melhor: não está nas nossas mãos fazer diferente, enquanto esta for a tendência dominante da economia mundial.
Esta é a realidade com que temos de contar no nosso dia a dia, não vale a pena fugir dela. Tão-pouco considerá-la “ameaçadora”, porque não será isso que a transformará.
O que temos é de aprender a viver com ela, modificando alguns dos nossos critérios profissionais e de gestão, as nossas estratégias empresariais, explorando as oportunidades e os espaços que consideramos poder e dever ocupar.
Os Grupos não são necessariamente "inimigos", nem são irremediavelmente “maus”, antes, em alguns casos, poderão ser parceiros interessantes para o contraste das nossas próprias experiências, para o desenvolvimento da nossa criatividade e capacidade de reacção.
Mesmo em Portugal, onde estas coisas chegam sempre com atraso, algumas destas tendências manifestam-se já desde há alguns anos, não são uma realidade nova. Começaram na área da comercialização com o aparecimento das grandes superfícies de venda, os hipermercados, todos integrados em grupos empresariais poderosos, passaram depois pela formação de fortes grupos livreiros nacionais como foi o caso das mais de 30 livrarias Bertrand, culminaram com a chegada ao nosso mercado de um grupo europeu como a Fnac, já com várias lojas em funcionamento, e alguns outros se aproximam, como por exemplo El Corte Inglês, que se instalou há menos tempo.
Mesmo na área da edição propriamente dita, poderemos citar a já antiga presença em Portugal do Grupo Bertelsmann, com o seu clube do livro, o Circulo de Leitores e com a Temas e Debates a sua editora para o mercado tradicional das livrarias; do Grupo Noticias/Lusomundo/Portugal Telecom, com a Editorial Noticias, a editorial Oficina do Livro, a sua distribuidora e a sua rede livrarias; da própria Dom Quixote hoje integrada no Grupo Planeta, o mais importante grupo editorial da Península Ibérica, ou de muitas outras iniciativas que todos sabemos que se aproximam.
Todos estes Grupos têm estratégias ambiciosas, objectivos de liderança do mercado, alguns deles visam, inclusivamente, o objectivo mais largo de liderança em todo o espaço da língua portuguesa. Refiro-me ao Brasil e aos países africanos de língua oficial portuguesa.
A par desta actuação, coexistem evidentemente com o seu imprescindível e meritório trabalho muitas editoras designadas por “independentes” – embora esta designação mereça hoje, também, alguma clarificação. Dado que para se manterem “independentes” muitas destas empresas tiveram também de criar as “dependências” específicas que melhor lhes permitam resistir e actuar.
Quanto a mim, encaro com poucas diferenças a dependência de um Grupo empresarial de edição, da dependência de um Banco, de um Distribuidor, ou até das poderosas redes livreiras existentes no mercado. Ou melhor: porque já tive as duas experiências, prefiro de longe a dependência de um Grupo profissional com quem possa partilhar objectivos similares.
Os verdadeiros editores são, por princípio e definição, “independentes”... quer exerçam a sua actividade no interior de um Grupo, quer isoladamente.
Todos compreendemos hoje que só obtendo resultados se garante a sobrevivência a médio e longo prazo, e que esta é uma regra a que nenhuma empresa (pequena ou grande, “independente” ou em Grupo) poderá fugir. Para isso, cada um cria as dependências que considera mais convenientes para salvaguarda da continuidade do seu trabalho. Até mesmo os editores que gostam de continuar a designar-se como “independentes”...
Nos últimos anos, em Portugal, a propósito da falência de uma grande Distribuidora nacional e das graves consequências dessa situação para muitos pequenos editores “independentes”, tenho ouvido culpar a lógica e o funcionamento dos grupos empresariais que entre nós actuam na área da comercialização.
Trata-se evidentemente de uma reacção emocional, muito motivada pelas previsíveis dificuldades que terão de ser geridas por essas dezenas de pequenas editoras, que recorriam antes aos serviços e ao crédito da referida Distribuidora.
Aqui, como em tudo o mais, há pois que saber controlar as nossas emoções e preocupações, tentando encontrar a correcta análise da realidade.
Os Grupos não podem ser responsabilizados por todas as nossas “desgraças”.
E, evidentemente, não parece correcto, tal como aconteceu nessa altura, tentar solicitar que seja o Estado, torneando provavelmente a legislação europeia reguladora da concorrência e do funcionamento do mercado, a intervir em casos como esses, moderando a capacidade de gestão dessas unidades empresariais relativamente a outras que operam em idênticas condições e circunstâncias de mercado.
Portugal pode dizer que tem hoje um público de leitores e de compradores regulares de livros que antes não tinha – pena que as pobres estatísticas oficiais (referidas ainda aos anos em que nem sequer existiam Fnacs...), nos não consigam mostrar mais do que uma arqueologia do sector. E onde há mais leitores e mais leitura aumentam certamente as oportunidades para as empresas do sector do livro, tanto editores como livreiros.
Em termos culturais, eu não sou partidário (como parecem ser alguns dos actuais responsáveis culturais) de um total liberalismo de funcionamento do mercado. Trata-se afinal da cultura de um país, do modo como nos vemos uns aos outros, ou de como queremos ser vistos do exterior. A cultura é a nossa cara, e mais do que a nossa cara é a nossa respiração.
Deixá-la entregue, livremente, com todas as suas fragilidades e especificidades, às puras regras de funcionamento do mercado é correr o risco do que pode designar-se como o fenómeno “Big-Brother”. Se o mercado exige, é isso apenas o que teremos de consumir…
Não pode ser assim... os gostos educam-se, o “pensar” ensina-se, e todos (incluindo o Estado) teremos de fazer algum esforço nesse sentido.
Mas também não pode exigir-se ao Estado que intervenha fora dos limites da sua função reguladora. O apelo vulgar e sistemático à intervenção do Estado nas situações de crise, só pode ser revelador da nossa falta de capacidade para encontrar as soluções adequadas para os problemas que teremos de ser nós a resolver.
Eu costumo dizer que devemos deixar (e sobretudo vigiar) que o Estado cumpra o seu papel e faça o trabalho que lhe compete: que produza e melhore a legislação necessária (uma boa Lei do Preço Fixo, uma mais clara legislação sobre a concorrência, um Código do Direito de Autor adaptado aos tempos modernos, etc.); que promova na actividade escolar o gosto dos jovens pela leitura e pelo estudo do nosso património literário; que intensifique o alargamento da rede de bibliotecas escolares e de leitura pública; que apoie o reconhecimento externo da nossa língua e dos nossos escritores; que apoie a edição, não estritamente comercial, do nosso património literário fundamental; que compre livros para as bibliotecas pelas quais é responsável, e não que legisle de modo a que estes lhes sejam entregues gratuitamente sob a forma de Depósitos Legais; que reflicta sobre os efeitos desse verdadeiro imposto sobre o crescimento da leitura que é o IVA, ou aproveite as suas receitas para reais acções de dinamização da leitura, etc.
O que não podemos é exigir do Estado que corrija as más decisões dos gestores editoriais.
Os Grupos empresariais na área do livro ocuparam o seu espaço em Portugal tal como aconteceu noutros países. Inundaram o mercado de muitos livros bons e de muitos livros maus, desenvolveram novas regras de funcionamento junto dos autores, aplicaram ao livro e aos seus produtores novas regras de comercialização, de marketing, de venda. Introduziram no mercado as suas regras de funcionamento, a sua elevada capacidade negocial, mas também um maior dinamismo, imaginação e criatividade que foram capazes de abrir novos espaços para a leitura, o lazer, a aprendizagem através do livro.
Construíram além disso uma indústria editorial mais forte. E sem uma indústria editorial forte não há espaço de trabalho independente para os criadores ou para os profissionais do sector.
Os Grupos não publicam só best-sellers, ou só lixo editorial. E sobretudo não são sequer os únicos a fazê-lo…
Só criando novos leitores se aumentam os hábitos de leitura permanentes; só despertando o interesse pela leitura se formam leitores cada dia mais capazes de livremente seleccionar aquilo que querem ler.
Cabe-nos a nós a adaptação e o contraponto a estes desafios. O que não podemos é continuar a repetir a filosofia da desgraça e da crise permanente, ou a solicitar o paternal apoio do Estado perante estas ditas “ameaças” – onde apenas nos é exigido uma melhor definição e ocupação do espaço enorme que nos sobra para o exercício da nossa criatividade e profissionalismo.
O mercado está a crescer, pelo menos em Portugal. Há que aproveitar as suas oportunidades.
A presença dos grupos de edição ou de comercialização do livro tornou o nosso mercado mais dinâmico, aberto, competitivo. Cabe aos editores e livreiros “independentes”, retirarem disso, com imaginação e trabalho, maiores benefícios e oportunidades.
Ou unirem-se, também, é outra possibilidade.
sexta-feira, setembro 19, 2003
103 - PUBLICIDADE ? INFORMAÇÃO ?
Cá está de novo a mesma situação. Publicidade? Informação?
A mim apetece-me registar estas coisas como informação.
Como quando se diz em que cinema passa um filme, em que local se realiza um concerto, ou em que estádio se jogará uma partida de futebol.
Mas outros considerarão que se trata de publicidade. Estão no seu direito.
Aqui fica o anúncio de mais um livro, dentro de dias nas livrarias:
Globalização – Ciência, Cultura e Religiões
Globalização, Ciência, Cultura e Religiões foi o tema da Conferência Internacional organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian que juntou reputados especialistas internacionais e proporcionou uma oportunidade excepcional de debate sobre várias questões cruciais do nosso tempo.
A ciência desde sempre estabeleceu o universo como o seu território. E a religião – embora assente em formas de carácter regional – exprime por excelência uma atitude universal. Como poderão as religiões enfrentar a tensão entre o seu enraizamento particular e a sua atitude universal, num mundo em que estes princípios são quase diariamente confrontados entre si? E, no caso da ciência, que novos desafios lhe coloca este mundo global? Em particular, que desafios específicos são hoje enfrentados pelas instituições que dominantemente lhe serviam de lar: as universidades?
Cultura e civilização, são também abordadas do ponto de vista dos desafios da era global. Pode um mundo globalizado preservar a riqueza da pluralidade de culturas, ou está destinado ao empobrecimento da uniformização?
Este livro reúne textos de várias individualidades do mundo da política e cultura como: Eduardo Lourenço, Eduardo Marçal Grilo, Emílio Rui Vilar, João Lobo Antunes, Jorge Sampaio, José Manuel Durão Barroso, José Policarpo, Mario Vargas Llosa, Michael Gibbons, entre outros.
Depois da publicação de Globalização, Desenvolvimento e Equidade e Cidadania e Novos Poderes Numa Cidade Global, a Dom Quixote encerra com este livro, a publicação dos textos das três conferências organizadas pela Fundação Calouste Gulbenkian sobre Globalização.
Quem perdeu as sessões que leia os livros.
A mim apetece-me registar estas coisas como informação.
Como quando se diz em que cinema passa um filme, em que local se realiza um concerto, ou em que estádio se jogará uma partida de futebol.
Mas outros considerarão que se trata de publicidade. Estão no seu direito.
Aqui fica o anúncio de mais um livro, dentro de dias nas livrarias:
Globalização – Ciência, Cultura e Religiões
Globalização, Ciência, Cultura e Religiões foi o tema da Conferência Internacional organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian que juntou reputados especialistas internacionais e proporcionou uma oportunidade excepcional de debate sobre várias questões cruciais do nosso tempo.
A ciência desde sempre estabeleceu o universo como o seu território. E a religião – embora assente em formas de carácter regional – exprime por excelência uma atitude universal. Como poderão as religiões enfrentar a tensão entre o seu enraizamento particular e a sua atitude universal, num mundo em que estes princípios são quase diariamente confrontados entre si? E, no caso da ciência, que novos desafios lhe coloca este mundo global? Em particular, que desafios específicos são hoje enfrentados pelas instituições que dominantemente lhe serviam de lar: as universidades?
Cultura e civilização, são também abordadas do ponto de vista dos desafios da era global. Pode um mundo globalizado preservar a riqueza da pluralidade de culturas, ou está destinado ao empobrecimento da uniformização?
Este livro reúne textos de várias individualidades do mundo da política e cultura como: Eduardo Lourenço, Eduardo Marçal Grilo, Emílio Rui Vilar, João Lobo Antunes, Jorge Sampaio, José Manuel Durão Barroso, José Policarpo, Mario Vargas Llosa, Michael Gibbons, entre outros.
Depois da publicação de Globalização, Desenvolvimento e Equidade e Cidadania e Novos Poderes Numa Cidade Global, a Dom Quixote encerra com este livro, a publicação dos textos das três conferências organizadas pela Fundação Calouste Gulbenkian sobre Globalização.
Quem perdeu as sessões que leia os livros.
102 - DIVERSOS DE UMA SEXTA-FEIRA
O blogue de Manuel Falcão, que visito com assiduidade, deixou-me uns dias a "cantarolar para dentro" o Waltzing Mathilda, de Tom Waits, que já era uma das minhas preferidas lá nos finais dos anos 70 do século passado. Voltei a recordá-la. Ainda por cima agora com a ajuda da reprodução integral do texto, que Manuel Falcão teve a paciência de transcrever. Quem se quiser lembrar... Tenho o disco mas já não tenho gira-discos. Tenho de "recuperar" esta situação.
Recebi agora da Gráfica o primeiro exemplar do livro de José António Saraiva, Confissões de um Director de Jornal - nos bastidores do Expresso e do Poder. Mais do que as "confissões", um fresco de uma geração, diz ele. Daqui a uma semana estará nas livrarias.
Leio a Crónica de hoje, no Público, do Eduardo Prado Coelho sobre os noticiários das televisões. Esqueceu-se de mencionar a SIC-Noticias, que não foge à regra, contribuindo todos "para a paroquialização das mentalidades portuguesas".
Vou escrever uma mensagem ao Nuno Júdice comentando a sua substituição em Paris pela apresentadora de televisão Maria Elisa. Mas isso é conversa privada...
E, mais logo, a caminho de Tavira, finalmente livre do bulício do verão. Esperando que o Macário continue firme, protegendo-a de agressões.
Recebi agora da Gráfica o primeiro exemplar do livro de José António Saraiva, Confissões de um Director de Jornal - nos bastidores do Expresso e do Poder. Mais do que as "confissões", um fresco de uma geração, diz ele. Daqui a uma semana estará nas livrarias.
Leio a Crónica de hoje, no Público, do Eduardo Prado Coelho sobre os noticiários das televisões. Esqueceu-se de mencionar a SIC-Noticias, que não foge à regra, contribuindo todos "para a paroquialização das mentalidades portuguesas".
Vou escrever uma mensagem ao Nuno Júdice comentando a sua substituição em Paris pela apresentadora de televisão Maria Elisa. Mas isso é conversa privada...
E, mais logo, a caminho de Tavira, finalmente livre do bulício do verão. Esperando que o Macário continue firme, protegendo-a de agressões.
quarta-feira, setembro 17, 2003
101 - ELEIÇÕES NA SPA
Parabéns à Lista B, ganhadora das eleições para os Corpos Gerentes da SPA.
Ia a escrever "das primeiras eleições democráticas" (dado que, pela primeira vez, concorreram duas listas), mas arrependi-me a tempo.
Só com dificuldade se pode considerar "democrático" um universo de 16.000 cooperadores, em que apenas 600 têm direito a voto.
Espera-se portanto que, entre as suas outras promessas eleitorais, os novos Corpos Gerentes levem adiante a projectada e necessária alteração dos Estatutos.
Pode parecer estranho que um Editor saúde uma cooperativa que defende os direitos dos Autores.
Mas não é.
Sem a intransigente defesa dos direitos dos autores, sem um Código do Direito de Autor actualizado e adaptado aos tempos modernos, não há industria editorial digna desse nome.
Os editores, tal como os autores, também têm direitos a fazer respeitar.
Espero que, do lado do editores, a União dos Editores Portugueses saiba encontrar com rapidez as necessárias plataformas de diálogo e de cooperação.
Ia a escrever "das primeiras eleições democráticas" (dado que, pela primeira vez, concorreram duas listas), mas arrependi-me a tempo.
Só com dificuldade se pode considerar "democrático" um universo de 16.000 cooperadores, em que apenas 600 têm direito a voto.
Espera-se portanto que, entre as suas outras promessas eleitorais, os novos Corpos Gerentes levem adiante a projectada e necessária alteração dos Estatutos.
Pode parecer estranho que um Editor saúde uma cooperativa que defende os direitos dos Autores.
Mas não é.
Sem a intransigente defesa dos direitos dos autores, sem um Código do Direito de Autor actualizado e adaptado aos tempos modernos, não há industria editorial digna desse nome.
Os editores, tal como os autores, também têm direitos a fazer respeitar.
Espero que, do lado do editores, a União dos Editores Portugueses saiba encontrar com rapidez as necessárias plataformas de diálogo e de cooperação.
segunda-feira, setembro 15, 2003
100 - ANTÓNIO LOBO ANTUNES
Leio este texto de Christophe Mercier (publicado no Figaro Littéraire de 28.08.2003) sobre os romances de António Lobo Antunes.
Deixo-o por aqui.
Julgo ser um texto-sintese, muito bem feito, clarificador do percurso do escritor. Útil sobretudo para aqueles que têm “tropeçado” na aparente complexidade dos seus romances mais recentes.
Os destaques a negro são meus; a tradução é do Miguel Serras Pereira.
CEDER À EMBRIAGUEZ
COM ANTÓNIO LOBO ANTUNES
Christophe Mercier
Os seus títulos tornam-se cada vez mais esotéricos: a Exortação aos Crocodilos e Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura sucede Que Farei Quando Tudo Arde? Os seus livros são cada vez mais volumosos: 500 páginas, 660, 710, para os três mais recentes. Parecem-se cada vez menos com romances (Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura tinha, aliás, por subtítulo Poema). A obra de António Lobo Antunes acabou, todavia, por transpor o círculo fechado de uns quantos amadores (ainda que os jurados do Nobel se tenham dado ao ridículo de, entre dois portugueses, escolherem o laborioso José Saramago), para ser reconhecida como uma das mais importantes e mais inovadoras da literatura do século XX.
Com António Lobo Antunes, estamos do lado de Faulkner (Lisboa e os seus bairros velhos são o seu Yoknapatawpha, o Tejo o seu Mississipi e Angola a sua Guerra de Secessão), mas de um Faulkner que, em vez de evoluir no sentido da simplicidade cristalina de Os Ratoneiros, tivesse tomado o rumo de uma complexidade cada vez maior, de uma cada vez maior liberdade relativamente a quaisquer regras: um livro de Lobo Antunes parece não ter modelo algum, inventar os seus próprios cânones, fazer recuar os seus próprios limites. O mesmo é dizer que não se aconselhará o neófito a começar a Obra através dos últimos opus, mas a descobri-la pela ordem segundo a qual foi escrita, único meio de vir a compreender o seu desenvolvimento quase orgânico.
António Lobo Antunes nasceu em 1942, em Lisboa, numa família de médicos. Muito jovem cai no caldeirão da literatura e devora, muitas vezes em versão original (fala francês, inglês, alemão, além do português), Proust, Céline, Faulkner, Tolstoi, Thomas Wolfe. Faz-se já sentir o gosto das grandes arquitecturas. Mas também lê muito Tchekov. Terá sido por isso que, antes de se tornar escritor, fez estudos de medicina? Será psiquiatra. Mas, antes, terá de ir para Angola, como médico militar, durante dois anos, e de viver no terreno uma guerra de descolonização dolorosa e sangrenta cujas imagens impregnarão uma grande parte da sua obra.
De regresso, trabalha como psiquiatra no hospital, mas começa a escrever, talvez à laia de exorcismo. Memórias de Elefante (1979), Os Cus de Judas (1979), Conhecimento do Inferno (1980) são como uma trilogia catártica. Lobo Antunes fala da sua profissão de psiquiatra, dos anos passados em Angola, do seu divórcio, dos seus pais, da sua infância. Numerosos dos seus temas futuros estão já presentes, e até mesmo a sua maneira: desde Memória de Elefante, o “argumento” é evacuado, e o romance torna-se um encadeamento lírico de imagens ao sabor da fantasia desperta do autor, uma cascata de metáforas que já não se ligam umas às outras segundo o fio de uma intriga-pretexto, mas que se associam segundo as cores que introduzem no conjunto.
Com Explicação dos Pássaros (1981), Fado Alexandrino (1983), O Auto dos Danados (1985), a obra assume uma nova dimensão. Lobo Antunes transforma-se deveras em romancista, inventa personagens, entrecruza as histórias. Explicação dos Pássaros e O Auto dos Danados narram peripécias familiares que têm lugar no mundo da boa burguesia portuguesa, e o leitor descobre um novo círculo de O Inferno. É Mauriac reescrito por Céline: lirismo, sempre, cólera, excesso, humor “enorme”, narrativa transportada pela musicalidade da língua, secreta nostalgia da infância. As conversas sobrepõem-se, as épocas correspondem-se, o romance torna-se uma tapeçaria de motivos visuais, musicais, que se ecoam uns aos outros. Fado Alexandrino, através dos monólogos cruzados de cinco militares de regresso de Angola, o romance mais “faulkneriano” do romancista, é um quadro quase balzaquiano de um Portugal em pleno descalabro, no qual os fracassos dos indivíduos não são senão os reflexos dos de um país à deriva, em vias de se afundar.
As Naus (1988), lancinante lamento que evoca a glória de um Portugal degradado, persiste na mesma via, e anuncia os êxitos que se vão seguir. Porque, daí em diante, Lobo Antunes enceta um período soberano. Tratado das Paixões da Alma (1990) é um ponto culminante como os quatro ou cinco títulos seguintes. É um romance bufo, lírico, poético, satírico, político: o escritor mistura histórias de família, a epopeia burlesca de terroristas lamentáveis que conspiram contra Salazar, as visões nostálgicas de uma infância magnificada. A Ordem Natural das Coisas (1992), A Morte de Carlos Gardel (1994), O Manual de Inquisidores (1996), O Esplendor de Portugal (1998), Exortação aos Crocodilos (1999), manifestam, cada um por sua conta, um domínio e uma liberdade cada vez maiores. Os temas são sempre os mesmos: a descolonização, a decadência, o regime policial, a Revolução dos Cravos, as velhas famílias que se extinguem, as gaivotas por cima do Tejo, os velhos que repisam o passado e morrem de tédio em apartamentos medíocres de bairros esquecidos de Lisboa, fora do tempo. Com estes romances, Lobo Antunes torna-se músico: a sua escrita assenta nos ritmos, nas rimas, nas imagens. Faz uma literatura de pura emoção. Cada vez mais vezes, tudo é visto como num sonho, a intriga perde os seus contornos precisos, e é com o recuo, depois de terminado o livro, que o leitor atento a reconstitui. Nunca se aconselhará demais o leitor apressado que descubra a obra de Lobo Antunes através do Tratado das Paixões da Alma, deixando-se levar até à Exortação aos Crocodilos.
Com Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura (2001) e Que Farei Quando Tudo Arde?, última cria da ninhada, é transposto mais um patamar de liberdade criadora, de emancipação de todas as regras. Nestes dois romances deixamos o veio político pelo veio familiar: são dois ajustes de contas com a infância. Para o escritor português, o romance torna-se mais do que nunca o lugar da vacilação, da subjectividade. À medida que o poema (pois é bem de poesia narrativa e lírica que se trata) se desenvolve, a intriga que pensámos ver aparecer por entre a bruma dissipa-se, bifurca-se, desaparece, como um desenho numa vidraça embaciada. O essencial já não é a história contada (em Que Farei Quando Tudo Arde?, temos um jovem traumatizado pela recordação dos pais; com algum motivo: o pai é um velho palhaço que deu em travesti e companheiro de um jovem drogado, e a mãe uma ex-professora primária que caiu na prostituição e no alcoolismo; estamos em pleno melodrama), mas as emoções suscitadas pela maneira de a contar. A arte já não é uma arte narrativa, mas uma arte decididamente musical. Devemos deixar que nos transportem as vagas desta prosa-poesia cada vez mais pessoal, ampla, de um virtuosismo crescente, aceitar as suas obscuridades, beber toda a sua sumptuosidade: deixarmo-nos, numa palavra, embriagar. Só a esse preço poderemos apreciar uma obra que, de consumação em consumação, continua a incomodar, a desconcertar, a descobrir novos territórios.
Ao longo de um século inteiro, as obras de dimensão comparável podem contar-se pelos dedos da mão.
Deixo-o por aqui.
Julgo ser um texto-sintese, muito bem feito, clarificador do percurso do escritor. Útil sobretudo para aqueles que têm “tropeçado” na aparente complexidade dos seus romances mais recentes.
Os destaques a negro são meus; a tradução é do Miguel Serras Pereira.
CEDER À EMBRIAGUEZ
COM ANTÓNIO LOBO ANTUNES
Christophe Mercier
Os seus títulos tornam-se cada vez mais esotéricos: a Exortação aos Crocodilos e Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura sucede Que Farei Quando Tudo Arde? Os seus livros são cada vez mais volumosos: 500 páginas, 660, 710, para os três mais recentes. Parecem-se cada vez menos com romances (Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura tinha, aliás, por subtítulo Poema). A obra de António Lobo Antunes acabou, todavia, por transpor o círculo fechado de uns quantos amadores (ainda que os jurados do Nobel se tenham dado ao ridículo de, entre dois portugueses, escolherem o laborioso José Saramago), para ser reconhecida como uma das mais importantes e mais inovadoras da literatura do século XX.
Com António Lobo Antunes, estamos do lado de Faulkner (Lisboa e os seus bairros velhos são o seu Yoknapatawpha, o Tejo o seu Mississipi e Angola a sua Guerra de Secessão), mas de um Faulkner que, em vez de evoluir no sentido da simplicidade cristalina de Os Ratoneiros, tivesse tomado o rumo de uma complexidade cada vez maior, de uma cada vez maior liberdade relativamente a quaisquer regras: um livro de Lobo Antunes parece não ter modelo algum, inventar os seus próprios cânones, fazer recuar os seus próprios limites. O mesmo é dizer que não se aconselhará o neófito a começar a Obra através dos últimos opus, mas a descobri-la pela ordem segundo a qual foi escrita, único meio de vir a compreender o seu desenvolvimento quase orgânico.
António Lobo Antunes nasceu em 1942, em Lisboa, numa família de médicos. Muito jovem cai no caldeirão da literatura e devora, muitas vezes em versão original (fala francês, inglês, alemão, além do português), Proust, Céline, Faulkner, Tolstoi, Thomas Wolfe. Faz-se já sentir o gosto das grandes arquitecturas. Mas também lê muito Tchekov. Terá sido por isso que, antes de se tornar escritor, fez estudos de medicina? Será psiquiatra. Mas, antes, terá de ir para Angola, como médico militar, durante dois anos, e de viver no terreno uma guerra de descolonização dolorosa e sangrenta cujas imagens impregnarão uma grande parte da sua obra.
De regresso, trabalha como psiquiatra no hospital, mas começa a escrever, talvez à laia de exorcismo. Memórias de Elefante (1979), Os Cus de Judas (1979), Conhecimento do Inferno (1980) são como uma trilogia catártica. Lobo Antunes fala da sua profissão de psiquiatra, dos anos passados em Angola, do seu divórcio, dos seus pais, da sua infância. Numerosos dos seus temas futuros estão já presentes, e até mesmo a sua maneira: desde Memória de Elefante, o “argumento” é evacuado, e o romance torna-se um encadeamento lírico de imagens ao sabor da fantasia desperta do autor, uma cascata de metáforas que já não se ligam umas às outras segundo o fio de uma intriga-pretexto, mas que se associam segundo as cores que introduzem no conjunto.
Com Explicação dos Pássaros (1981), Fado Alexandrino (1983), O Auto dos Danados (1985), a obra assume uma nova dimensão. Lobo Antunes transforma-se deveras em romancista, inventa personagens, entrecruza as histórias. Explicação dos Pássaros e O Auto dos Danados narram peripécias familiares que têm lugar no mundo da boa burguesia portuguesa, e o leitor descobre um novo círculo de O Inferno. É Mauriac reescrito por Céline: lirismo, sempre, cólera, excesso, humor “enorme”, narrativa transportada pela musicalidade da língua, secreta nostalgia da infância. As conversas sobrepõem-se, as épocas correspondem-se, o romance torna-se uma tapeçaria de motivos visuais, musicais, que se ecoam uns aos outros. Fado Alexandrino, através dos monólogos cruzados de cinco militares de regresso de Angola, o romance mais “faulkneriano” do romancista, é um quadro quase balzaquiano de um Portugal em pleno descalabro, no qual os fracassos dos indivíduos não são senão os reflexos dos de um país à deriva, em vias de se afundar.
As Naus (1988), lancinante lamento que evoca a glória de um Portugal degradado, persiste na mesma via, e anuncia os êxitos que se vão seguir. Porque, daí em diante, Lobo Antunes enceta um período soberano. Tratado das Paixões da Alma (1990) é um ponto culminante como os quatro ou cinco títulos seguintes. É um romance bufo, lírico, poético, satírico, político: o escritor mistura histórias de família, a epopeia burlesca de terroristas lamentáveis que conspiram contra Salazar, as visões nostálgicas de uma infância magnificada. A Ordem Natural das Coisas (1992), A Morte de Carlos Gardel (1994), O Manual de Inquisidores (1996), O Esplendor de Portugal (1998), Exortação aos Crocodilos (1999), manifestam, cada um por sua conta, um domínio e uma liberdade cada vez maiores. Os temas são sempre os mesmos: a descolonização, a decadência, o regime policial, a Revolução dos Cravos, as velhas famílias que se extinguem, as gaivotas por cima do Tejo, os velhos que repisam o passado e morrem de tédio em apartamentos medíocres de bairros esquecidos de Lisboa, fora do tempo. Com estes romances, Lobo Antunes torna-se músico: a sua escrita assenta nos ritmos, nas rimas, nas imagens. Faz uma literatura de pura emoção. Cada vez mais vezes, tudo é visto como num sonho, a intriga perde os seus contornos precisos, e é com o recuo, depois de terminado o livro, que o leitor atento a reconstitui. Nunca se aconselhará demais o leitor apressado que descubra a obra de Lobo Antunes através do Tratado das Paixões da Alma, deixando-se levar até à Exortação aos Crocodilos.
Com Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura (2001) e Que Farei Quando Tudo Arde?, última cria da ninhada, é transposto mais um patamar de liberdade criadora, de emancipação de todas as regras. Nestes dois romances deixamos o veio político pelo veio familiar: são dois ajustes de contas com a infância. Para o escritor português, o romance torna-se mais do que nunca o lugar da vacilação, da subjectividade. À medida que o poema (pois é bem de poesia narrativa e lírica que se trata) se desenvolve, a intriga que pensámos ver aparecer por entre a bruma dissipa-se, bifurca-se, desaparece, como um desenho numa vidraça embaciada. O essencial já não é a história contada (em Que Farei Quando Tudo Arde?, temos um jovem traumatizado pela recordação dos pais; com algum motivo: o pai é um velho palhaço que deu em travesti e companheiro de um jovem drogado, e a mãe uma ex-professora primária que caiu na prostituição e no alcoolismo; estamos em pleno melodrama), mas as emoções suscitadas pela maneira de a contar. A arte já não é uma arte narrativa, mas uma arte decididamente musical. Devemos deixar que nos transportem as vagas desta prosa-poesia cada vez mais pessoal, ampla, de um virtuosismo crescente, aceitar as suas obscuridades, beber toda a sua sumptuosidade: deixarmo-nos, numa palavra, embriagar. Só a esse preço poderemos apreciar uma obra que, de consumação em consumação, continua a incomodar, a desconcertar, a descobrir novos territórios.
Ao longo de um século inteiro, as obras de dimensão comparável podem contar-se pelos dedos da mão.
sábado, setembro 13, 2003
099 - INCÊNDIOS...
Os incêndios… como é possível ?!!!
Mais de 1.000 homens no terreno, não sei quantas centenas de viaturas, colaboração dos militares, dezenas de apoios aéreos, a situação está totalmente sob controlo – dizem os responsáveis operacionais (!!) e o Ministro, a ver se nos tranquilizam pela televisão.
Não se vêem bombeiros suficientes, não há viaturas à vista, falta a água, os meios aéreos apagam, depois desaparecem, o fogo volta a acender-se, eles já se foram embora – clamam as populações e os autarcas, em desespero, com simples baldes na mão.
Não há como duvidar da situação. As televisões mostram as imagens, as casas a arder, as pessoas em desespero, abandonadas.
A sensação que se tem é a da absoluta falta de operacionalidade, a total descoordenação, a incompetência da gestão dos meios disponíveis.
A incompetência parece a palavra-chave para tudo isto, o amadorismo, a desorientação.
A incompetência que não ajuda as populações e torna inútil o esforço dos bombeiros.
A incompetência que deixa o país cada vez mais pobre.
Já devíamos saber que era assim.
E que responsáveis, claro, é coisa que não há…
Uma espécie de relatório da Comissão de Inquérito à ponte sobre o IC19.
Mais de 1.000 homens no terreno, não sei quantas centenas de viaturas, colaboração dos militares, dezenas de apoios aéreos, a situação está totalmente sob controlo – dizem os responsáveis operacionais (!!) e o Ministro, a ver se nos tranquilizam pela televisão.
Não se vêem bombeiros suficientes, não há viaturas à vista, falta a água, os meios aéreos apagam, depois desaparecem, o fogo volta a acender-se, eles já se foram embora – clamam as populações e os autarcas, em desespero, com simples baldes na mão.
Não há como duvidar da situação. As televisões mostram as imagens, as casas a arder, as pessoas em desespero, abandonadas.
A sensação que se tem é a da absoluta falta de operacionalidade, a total descoordenação, a incompetência da gestão dos meios disponíveis.
A incompetência parece a palavra-chave para tudo isto, o amadorismo, a desorientação.
A incompetência que não ajuda as populações e torna inútil o esforço dos bombeiros.
A incompetência que deixa o país cada vez mais pobre.
Já devíamos saber que era assim.
E que responsáveis, claro, é coisa que não há…
Uma espécie de relatório da Comissão de Inquérito à ponte sobre o IC19.
098 - OS POLÍTICOS NA COM. SOCIAL
Cá estamos na rentrée.
Os políticos no activo e com altas responsabilidades partidárias, vão regressar às televisões disfarçados de simples comentadores. Mesmo aqueles que, antes, deploravam esta promiscuidade.
Nisto estou com o Miguel Sousa Tavares, há que fazer opções, não é sério, não é leal com os telespectadores.
A não ser que exijam que o seu nome passe em baixo, sempre, acompanhado da indicação do partido que representam.
Porque não me venham dizer que estão lá apenas a título pessoal, a desonestidade ainda seria maior.
Até nos debates sobre futebol a gente sabe quem representam aqueles “individuais”.
Os políticos no activo e com altas responsabilidades partidárias, vão regressar às televisões disfarçados de simples comentadores. Mesmo aqueles que, antes, deploravam esta promiscuidade.
Nisto estou com o Miguel Sousa Tavares, há que fazer opções, não é sério, não é leal com os telespectadores.
A não ser que exijam que o seu nome passe em baixo, sempre, acompanhado da indicação do partido que representam.
Porque não me venham dizer que estão lá apenas a título pessoal, a desonestidade ainda seria maior.
Até nos debates sobre futebol a gente sabe quem representam aqueles “individuais”.
097 - OS LIVROS NA COM. SOCIAL
Já sabemos que os livros são “tratados com os pés” nos meios de comunicação social. Programas que desaparecem, espaços que se encurtam, comentadores que desistem, outros que passam dos comentários culturais para as reportagens sobre os fogos, etc.
Ou então faz-se, como fez o Expresso este fim-de-semana, uma amálgama de títulos ainda mais caótica do que a praticada por Marcelo Rebelo de Sousa na revista “Os Meus Livros”.
Mas Marcelo, ao menos, tem algum cuidado na correcta citação dos títulos e dos autores, mostra que não lê mas prepara a lição com cuidado.
Ao contrário, no Expresso, diz-se, por exemplo, que o próximo romance de António Lobo Antunes, “Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo”, "se sucede" ao seu romance “Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura”.
Isto é não fazer o mais elementar trabalho jornalístico na preparação de um texto, é desprezar os livros, é desconsiderar os autores, é “meia bola e força”, é “tudo ao molho e fé em deus”, para não lhe chamar outras coisas piores…
Ou então faz-se, como fez o Expresso este fim-de-semana, uma amálgama de títulos ainda mais caótica do que a praticada por Marcelo Rebelo de Sousa na revista “Os Meus Livros”.
Mas Marcelo, ao menos, tem algum cuidado na correcta citação dos títulos e dos autores, mostra que não lê mas prepara a lição com cuidado.
Ao contrário, no Expresso, diz-se, por exemplo, que o próximo romance de António Lobo Antunes, “Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo”, "se sucede" ao seu romance “Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura”.
Isto é não fazer o mais elementar trabalho jornalístico na preparação de um texto, é desprezar os livros, é desconsiderar os autores, é “meia bola e força”, é “tudo ao molho e fé em deus”, para não lhe chamar outras coisas piores…
sexta-feira, setembro 12, 2003
096 - R.A.P.
Já agora uma nota em tom mais pessoal para dar os parabéns ao casal Ricardo Araujo Pereira pelo nascimento da Rita.
Compreende-se por isso a sua ausência das lides bloguisticas, um filho dá muito trabalho e ocupa muito espaço.
Mas retribui com muitas alegrias e emoções.
A mim calhou-me ser avô. O que, confesso, não é alegria menor. O Tiago vai já fazer um ano no dia 9 do próximo mês, começa a andar e a querer dizer coisas, nomear o mundo à sua volta.
Não vou assistir; como infelizmente não assisti, o ano passado, ao seu nascimento. Mergulhado no frenesim da Feira do Livro de Frankfurt. Que arrependimento...
Mas cá estarei, depois, preparado para encher de atrevimentos o que os pais gostam que seja compostura.
É esse o lugar dos avós: desestabilizar onde os pais tentam pôr a primeira ordenação.
Parabéns Ricardo, felicidades para a Rita e para a família.
Os blogues também servem para falar da vida.
Compreende-se por isso a sua ausência das lides bloguisticas, um filho dá muito trabalho e ocupa muito espaço.
Mas retribui com muitas alegrias e emoções.
A mim calhou-me ser avô. O que, confesso, não é alegria menor. O Tiago vai já fazer um ano no dia 9 do próximo mês, começa a andar e a querer dizer coisas, nomear o mundo à sua volta.
Não vou assistir; como infelizmente não assisti, o ano passado, ao seu nascimento. Mergulhado no frenesim da Feira do Livro de Frankfurt. Que arrependimento...
Mas cá estarei, depois, preparado para encher de atrevimentos o que os pais gostam que seja compostura.
É esse o lugar dos avós: desestabilizar onde os pais tentam pôr a primeira ordenação.
Parabéns Ricardo, felicidades para a Rita e para a família.
Os blogues também servem para falar da vida.
terça-feira, setembro 09, 2003
095 - JOSÉ CARDOSO PIRES
Já que alguns jornalistas gostam de passar por aqui e colher informações, seria bom que não esquecessem que no próximo mês de Outubro passam os primeiros 5 anos sobre a morte do escritor José Cardoso Pires (02.10.1925/26.10.1998).
Agradeço ao nosso Livreiro (há muito que sabia quem ele era...), a referência simpática a um texto meu sobre o escritor, publicado inicialmente no DNA.
Vá, senhores jornalistas, ao trabalho. Porque é através dos seus novos leitores que a voz de um autor se continua a ouvir.
E, já agora, não esqueçam: apesar de aprovada em reunião camarária, nem uma ruazinha ainda lhe deram na cidade de Lisboa. Nem a rua, nem a escola, nem a biblioteca pública de Alvalade. Promessas vãs; decisões esquecidas. É só reler as Actas...
Agradeço ao nosso Livreiro (há muito que sabia quem ele era...), a referência simpática a um texto meu sobre o escritor, publicado inicialmente no DNA.
Vá, senhores jornalistas, ao trabalho. Porque é através dos seus novos leitores que a voz de um autor se continua a ouvir.
E, já agora, não esqueçam: apesar de aprovada em reunião camarária, nem uma ruazinha ainda lhe deram na cidade de Lisboa. Nem a rua, nem a escola, nem a biblioteca pública de Alvalade. Promessas vãs; decisões esquecidas. É só reler as Actas...
segunda-feira, setembro 08, 2003
094 - PHILIP ROTH, 2
Para os “fanáticos” de Philip Roth (1933), como parece ser o caso de “Portugal dos Pequeninos”, informo que o romance “The Human Stain” será publicado em Portugal por volta de 14 de Novembro próximo, coincidindo com a estreia do filme de Robert Benton, tendo Nicole Kidman e Anthony Hopkins como actores principais.
O livro foi publicado em França pela Gallimard (La Tache), vendeu mais de 150.000 exemplares e ganhou o Prémio Médicis para o melhor romance estrangeiro publicado em França em 2002; nos USA ganhou o Prémio Pen/Faulkner; na Grã-Bretanha ganhou igualmente o WH Smith para o melhor livro do ano.
Roth é também um dos frequentadores habituais das listas para o Nobel.
Romance e filme trazem portanto as melhores referências.
Em Portugal é provável que livro e filme não tenham o mesmo título. O filme chamar-se-à “Culpa Humana”, enquanto o romance poderá vir a intitular-se “A Mancha Humana”, seguindo aliás o exemplo de Alfaguara, em Espanha..
Tradução portuguesa de Fernanda Pinto Rodrigues.
Outros títulos de Roth publicados pela DQ:
Pastoral Americana (Prémio Pulitzer, 1998)
Teatro de Sabbath (National Book Award, 1995)
Casei com um Comunista
O livro foi publicado em França pela Gallimard (La Tache), vendeu mais de 150.000 exemplares e ganhou o Prémio Médicis para o melhor romance estrangeiro publicado em França em 2002; nos USA ganhou o Prémio Pen/Faulkner; na Grã-Bretanha ganhou igualmente o WH Smith para o melhor livro do ano.
Roth é também um dos frequentadores habituais das listas para o Nobel.
Romance e filme trazem portanto as melhores referências.
Em Portugal é provável que livro e filme não tenham o mesmo título. O filme chamar-se-à “Culpa Humana”, enquanto o romance poderá vir a intitular-se “A Mancha Humana”, seguindo aliás o exemplo de Alfaguara, em Espanha..
Tradução portuguesa de Fernanda Pinto Rodrigues.
Outros títulos de Roth publicados pela DQ:
Pastoral Americana (Prémio Pulitzer, 1998)
Teatro de Sabbath (National Book Award, 1995)
Casei com um Comunista
quinta-feira, setembro 04, 2003
093 - O PACTO DE ESTABILIDADE
Reproduzir aqui um post do Abrupto, de Pacheco Pereira, cheira a pretensiosismo da minha parte. O Abrupto é certamente um dos blogues com maior indíce de leitura da nossa blogosfera. Pretender ampliar aqui essa leitura é quase ridículo. Mesmo assim, insisto. Chamando a vossa atenção para uma questão-chave que se irá arrastar durante os próximos meses. Nem sempre estou de acordo com as teses do Abrupto. Mas com esta estou, inteiramente:
A VIOLAÇÃO DO PACTO DE ESTABILIDADE PELA FRANÇA E ALEMANHA
é algo que deve ser seguido com muita atenção, porque pode mostrar como são as relações de poder na UE nos dias de hoje, marcados por uma grande retórica europeísta .
A França, que é um dos países que quer ir mais para a frente com a Constituição, de que se considera pai e mãe com a Alemanha, tem, a propósito da violação do Pacto de Estabilidade, com os seu déficit previsto e reincidente de 4% ,um discurso interno de absoluto desprezo pelo Pacto e de afirmação unilateral dos interesses franceses. O Pacto foi proposto pela Alemanha e pela França com o objectivo de condicionar os pequenos países do Sul, Portugal inclusive, que tinham imagem de "gastadores", e podiam pôr em causa a estabilidade do euro. O Pacto prevê sanções e pesadas. Portugal foi ameaçado com elas ainda bem recentemente. Ora, não se vê que a Comissão mostre grande vontade de as aplicar à França e à Alemanha...
Isto é inadmissível. Espera-se que Portugal tenha a máxima firmeza, exigindo que, o que se aplica a Portugal, se aplica à França e à Alemanha. Se se admite a duplicidade numa matéria que não oferece qualquer ambiguidade, aceita-se a humilhação.
A VIOLAÇÃO DO PACTO DE ESTABILIDADE PELA FRANÇA E ALEMANHA
é algo que deve ser seguido com muita atenção, porque pode mostrar como são as relações de poder na UE nos dias de hoje, marcados por uma grande retórica europeísta .
A França, que é um dos países que quer ir mais para a frente com a Constituição, de que se considera pai e mãe com a Alemanha, tem, a propósito da violação do Pacto de Estabilidade, com os seu déficit previsto e reincidente de 4% ,um discurso interno de absoluto desprezo pelo Pacto e de afirmação unilateral dos interesses franceses. O Pacto foi proposto pela Alemanha e pela França com o objectivo de condicionar os pequenos países do Sul, Portugal inclusive, que tinham imagem de "gastadores", e podiam pôr em causa a estabilidade do euro. O Pacto prevê sanções e pesadas. Portugal foi ameaçado com elas ainda bem recentemente. Ora, não se vê que a Comissão mostre grande vontade de as aplicar à França e à Alemanha...
Isto é inadmissível. Espera-se que Portugal tenha a máxima firmeza, exigindo que, o que se aplica a Portugal, se aplica à França e à Alemanha. Se se admite a duplicidade numa matéria que não oferece qualquer ambiguidade, aceita-se a humilhação.
quarta-feira, setembro 03, 2003
092 - CURIOSO...
Alguma da imprensa tradicional, rádios, e até as televisões, vieram aqui retirar e transcrever algumas das informações contidas no post anterior.
Contrariamente ao habitual (e às normais regras de delicadeza...), todos omitiram a fonte.
Talvez para não dar importância ao fenómeno bloguista, escondendo que muitos jornalistas vêm aqui, afinal, regularmente, procurar informações.
Contrariamente ao habitual (e às normais regras de delicadeza...), todos omitiram a fonte.
Talvez para não dar importância ao fenómeno bloguista, escondendo que muitos jornalistas vêm aqui, afinal, regularmente, procurar informações.
segunda-feira, setembro 01, 2003
091 - VÁRIOS EXCLUSIVOS PARA OS BLOGUES…
Depois do caso Versículos Satânicos, com ameaças de morte e protecção do SIS, do percurso agitado e sinuoso da publicação do livro de Rui Mateus (que um dia relatarei em detalhe...), eis-me de novo envolvido na edição de um livro que agitará por aí muitas águas.
Este sim, espero que não seja silenciado...
Chama-se “O Inimigo Sem Rosto – Fraude e Corrupção em Portugal”, da autoria de Maria José Morgado, actualmente Procuradora-Geral Adjunta do Tribunal da Relação de Lisboa, até quase ao final de 2002 responsável pela Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira da Polícia Judiciária.
Num blogue que tem por nome Textos de Contracapa, nada melhor do que reproduzir abaixo o texto da contracapa deste livro, da autoria do jornalista José Vegar, seu co-autor – fica o texto no final desta informação.
Sem grandes alaridos, nem sensacionalismos. Para respeitar o rigor, a precisão e o sentido das responsabilidades contidos neste texto impressionante e perturbador.
Publicação lá para o final de Outubro.
*
Antes da saída deste livro teremos ainda (nesta agitada rentrée) um outro livro surpreendente e polémico.
O director do Expresso, José António Saraiva, resolve finalmente contar algumas das histórias internas e inéditas do jornal: “Confissões de um Director de Jornal”, a sair no final de Setembro.
*
Também em Outubro, para além das polémicas memórias da senhora Clinton que tanta tinta têm feito correr, será publicado um inédito de Shimon Peres, “Um Tempo para a Guerra; Um Tempo para a Paz”.
Infelizmente, na prática, todos sabemos, muito mais para a Guerra do que para a Paz... De qualquer forma, a reflexão de um homem que tentou lutar pela paz com as armas de que dispunha.
*
E conforme tinha já prometido num post anterior, realço também a nova colecção CADERNOS DOM QUIXOTE DE REPORTAGEM, com o lançamento simultâneo dos seus 3 primeiros títulos lá para o início de Novembro:
1 – O ESTRAGO DA NAÇÃO, de Pedro Almeida Vieira (incluí um capítulo sobre os recentes fogos florestais);
2 – OLHEM PARA MIM, Geração Modelo, de Fernanda Câncio (Prefácios de Inês Pedrosa e Alexandre Melo, fotos de Abílio Leitão);
3 – A NUVEM DE CHUMBO, O Processo da Casa Pia na Imprensa, de Oscar Mascarenhas e Nuno Ivo;
*
Um bom regresso de férias e um sinal de optimismo relativamente ao interesse dos portugueses pela leitura e pela reflexão.
E da vitalidade da Dom Quixote, já agora, também.
Um dia destes falarei de outras novidades, nomeadamente das literárias, onde estão os livros novos de Pepetela, Inês Pedrosa, António Lobo Antunes, Vargas Llosa, João de Melo, Mafalda Ivo Cruz, José Eduardo Agualusa, António Tabucchi, João Ubaldo Ribeiro, uma belíssima antologia poética de Borges em tradução de Ruy Belo, etc.
*
E aqui fica então o texto da contracapa do livro de Maria José Morgado:
"Os crimes económico-financeiros organizados, neles incluindo a corrupção e a fraude, não fazem, aparentemente, vítimas. No entanto, como se tenta demonstrar ao longo destas páginas, são provavelmente aqueles que maiores danos causam aos Estados e aos seus cidadãos. Geram pobreza, impedem o desenvolvimento económico, provocam injustiça social e são responsáveis pela degradação do sistema político e das instituições públicas.
Neste livro, onde se procura escrever sobre questões complexas e delicadas de um modo simples, pretende-se fazer uma análise, tão fundamentada quanto possível, da dimensão real desta criminalidade no nosso país.
Por outro lado, sendo este um tema que continua arredado da agenda política, o que provoca dificuldades acrescidas a polícias e a magistrados no terreno, defende-se um modelo de combate ao fenómeno que tarda em ser aplicado."
*
Promoção e publicidade, dirão uns. Boa informação, dirão outros.
Há que decidir por uma...
Este sim, espero que não seja silenciado...
Chama-se “O Inimigo Sem Rosto – Fraude e Corrupção em Portugal”, da autoria de Maria José Morgado, actualmente Procuradora-Geral Adjunta do Tribunal da Relação de Lisboa, até quase ao final de 2002 responsável pela Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira da Polícia Judiciária.
Num blogue que tem por nome Textos de Contracapa, nada melhor do que reproduzir abaixo o texto da contracapa deste livro, da autoria do jornalista José Vegar, seu co-autor – fica o texto no final desta informação.
Sem grandes alaridos, nem sensacionalismos. Para respeitar o rigor, a precisão e o sentido das responsabilidades contidos neste texto impressionante e perturbador.
Publicação lá para o final de Outubro.
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Antes da saída deste livro teremos ainda (nesta agitada rentrée) um outro livro surpreendente e polémico.
O director do Expresso, José António Saraiva, resolve finalmente contar algumas das histórias internas e inéditas do jornal: “Confissões de um Director de Jornal”, a sair no final de Setembro.
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Também em Outubro, para além das polémicas memórias da senhora Clinton que tanta tinta têm feito correr, será publicado um inédito de Shimon Peres, “Um Tempo para a Guerra; Um Tempo para a Paz”.
Infelizmente, na prática, todos sabemos, muito mais para a Guerra do que para a Paz... De qualquer forma, a reflexão de um homem que tentou lutar pela paz com as armas de que dispunha.
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E conforme tinha já prometido num post anterior, realço também a nova colecção CADERNOS DOM QUIXOTE DE REPORTAGEM, com o lançamento simultâneo dos seus 3 primeiros títulos lá para o início de Novembro:
1 – O ESTRAGO DA NAÇÃO, de Pedro Almeida Vieira (incluí um capítulo sobre os recentes fogos florestais);
2 – OLHEM PARA MIM, Geração Modelo, de Fernanda Câncio (Prefácios de Inês Pedrosa e Alexandre Melo, fotos de Abílio Leitão);
3 – A NUVEM DE CHUMBO, O Processo da Casa Pia na Imprensa, de Oscar Mascarenhas e Nuno Ivo;
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Um bom regresso de férias e um sinal de optimismo relativamente ao interesse dos portugueses pela leitura e pela reflexão.
E da vitalidade da Dom Quixote, já agora, também.
Um dia destes falarei de outras novidades, nomeadamente das literárias, onde estão os livros novos de Pepetela, Inês Pedrosa, António Lobo Antunes, Vargas Llosa, João de Melo, Mafalda Ivo Cruz, José Eduardo Agualusa, António Tabucchi, João Ubaldo Ribeiro, uma belíssima antologia poética de Borges em tradução de Ruy Belo, etc.
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E aqui fica então o texto da contracapa do livro de Maria José Morgado:
"Os crimes económico-financeiros organizados, neles incluindo a corrupção e a fraude, não fazem, aparentemente, vítimas. No entanto, como se tenta demonstrar ao longo destas páginas, são provavelmente aqueles que maiores danos causam aos Estados e aos seus cidadãos. Geram pobreza, impedem o desenvolvimento económico, provocam injustiça social e são responsáveis pela degradação do sistema político e das instituições públicas.
Neste livro, onde se procura escrever sobre questões complexas e delicadas de um modo simples, pretende-se fazer uma análise, tão fundamentada quanto possível, da dimensão real desta criminalidade no nosso país.
Por outro lado, sendo este um tema que continua arredado da agenda política, o que provoca dificuldades acrescidas a polícias e a magistrados no terreno, defende-se um modelo de combate ao fenómeno que tarda em ser aplicado."
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Promoção e publicidade, dirão uns. Boa informação, dirão outros.
Há que decidir por uma...
090 - PHILIP ROTH
No blogue de Joel Neto encontro um comentário desagradável sobre a qualidade da tradução do romance "Pastoral Americana", de Philip Roth.
Ao contrário do que possa pensar-se, os editores dão o máximo de atenção a estes comentários - pelo menos eu dou. Eles ajudam-nos a trabalhar melhor, a chamar a atenção dos Tradutores e Revisores, a seleccioná-los com critérios mais rigorosos, etc.
A tradução não é uma tarefa fácil, e nem sempre tem, publicamente, o reconhecimento que merece.
Philip Roth é um escritor que a Dom Quixote publica com o maior cuidado, temos já uns quantos livros publicados, outros estão comprados e em trabalho de edição.
Escolhemos para ele tradutores adequados, no caso presente Luísa Feijó e Maria João Delgado, tradutoras com suficientes provas dadas, desde há muitos anos.
Creio que o comentário de Joel Neto é, pelo menos, injusto e apressado.
Daí a responsabilidade dos comentadores, que também não é pequena.
Dado que, evidentemente, há que pensar que um comentário injusto afasta, também injustamente, muitos leitores da leitura do livro.
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NOTA para Portugal dos Pequeninos: a Dom Quixote publicou já uns 4 romances de Philip Roth tendo comprado, conforme digo acima, praticamente toda a sua obra, que se encontra em trabalho de edição. Lamento que apenas tenha conhecimento de Pastoral Americana, certamente por defeito de comunicação da nossa parte. The Human Stain será o próximo a sair, evidentemente para acompanhar a circulação do filme.
Ao contrário do que possa pensar-se, os editores dão o máximo de atenção a estes comentários - pelo menos eu dou. Eles ajudam-nos a trabalhar melhor, a chamar a atenção dos Tradutores e Revisores, a seleccioná-los com critérios mais rigorosos, etc.
A tradução não é uma tarefa fácil, e nem sempre tem, publicamente, o reconhecimento que merece.
Philip Roth é um escritor que a Dom Quixote publica com o maior cuidado, temos já uns quantos livros publicados, outros estão comprados e em trabalho de edição.
Escolhemos para ele tradutores adequados, no caso presente Luísa Feijó e Maria João Delgado, tradutoras com suficientes provas dadas, desde há muitos anos.
Creio que o comentário de Joel Neto é, pelo menos, injusto e apressado.
Daí a responsabilidade dos comentadores, que também não é pequena.
Dado que, evidentemente, há que pensar que um comentário injusto afasta, também injustamente, muitos leitores da leitura do livro.
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NOTA para Portugal dos Pequeninos: a Dom Quixote publicou já uns 4 romances de Philip Roth tendo comprado, conforme digo acima, praticamente toda a sua obra, que se encontra em trabalho de edição. Lamento que apenas tenha conhecimento de Pastoral Americana, certamente por defeito de comunicação da nossa parte. The Human Stain será o próximo a sair, evidentemente para acompanhar a circulação do filme.