sexta-feira, julho 11, 2003

 
058 - OS "CADERNOS", DE CAMUS

Aquilo que chamei anteriormente de "gaguez mental e sintáctica" continua, infelizmente, a proliferar ao abrigo do anonimato. Por mail, nos comentários, espalhada por alguns dos blogues, etc. Parece que não há remédio. Por mim não lhe dou seguimento. Tomara arranjar tempo para manter por aqui alguma conversa interessante, quanto mais ter ainda que responder a palermices e vulgaridades. Com erros de ortografia e sintaxe, ainda por cima. Ao menos podiam aprender a usar um mero dicionário...

Li os três volumes dos "Cadernos" de Camus, tal como Pacheco Pereira, aí pelos inícios dos anos 60, também na célebre colecção Miniatura da editora Livros do Brasil. Cheguei a imitá-lo, tão forte foi a impressão que me causaram. Tenho, dessa época, umas pequenas agendas de bolso onde ia fazendo o mesmo, anotando a vida e as ideias. Sorrio, hoje, quando me atrevo a relê-las. Pela ingenuidade das ideias, por um certo pretenciosismo da escrita, às vezes pela premonição de alguns apontamentos.
Mas os "Cadernos", de Camus, os originais, perdi-os nas voltas que a vida dá. Ficaram-me pelo caminho no meio de alguma mudança de casa, tê-los-ei emprestado e não mos devolveram, ou algo similar.
Pacheco Pereira fala-me agora da sua reedição. É uma boa sugestão. Vou ver como estão os direitos, digo-o aqui em público apesar de haver outros editores bloguistas. Mas não tem importância. Há certos livros que não é relevante quem os publica; o importante é que estejam disponíveis para ser lidos.
A Dom Quixote (anuncio) vai aliás recuperar em breve uma outra velha ideia, que marcou claramente o seu passado, no final dos anos 60: a dos "Cadernos Dom Quixote". Provavelmente sairão ainda este ano. Com nova forma e novos objectivos, evidentemente. Textos de jornalismo de investigação, escritos por jornalistas, com o espaço que hoje os jornais e as revistas não consentem aos seus trabalhos, sobre alguns temas quentes que atravessam a sociedade portuguesa actual. Os três primeiros, se tudo correr bem, surgirão lá para o início de Outubro. Os temas e os autores são, por enquanto, surpresa. E os próximos já estão a ser escritos, também, neste momento. É um projecto que estou a acarinhar com bastante entusiasmo, "compensador" da situação em que se encontra a imprensa escrita actualmente, sem espaços nem vontade para "ir mais longe". Chama-se "Cadernos Dom Quixote de Reportagem". Com três vertentes: as reportagens portuguesas de actualidade; algumas reportagens de jornalistas estrangeiros sobre temas internacionais; uma área antológica de grandes reportagens que ficaram "perdidas no passado". Vamos ver se conseguimos interessar os leitores. E os divulgadores, é claro, que os livros não se fazem sem isso, e "isso" é o que menos existe na nossa comunicação social.
Obrigado Pacheco Pereira pela sugestão do Camus. Já agora, quem não leu, aproveite para ler "O Estrangeiro" recentemente relançado com o jornal Público. Ia a dizer: passe a publicidade. Mas recomendar um bom livro, um bom disco, um bom filme, um bom espectáculo, nunca é apenas publicidade. É informação. Entendam isto, de uma vez, amigos jornalistas de secretária.