sábado, julho 05, 2003

 
054 - AUGUSTO ABELAIRA

No meio da voragem dos temas políticos, das discussões do nosso dia a dia, das guerras e guerrinhas, dos Lellos e dos Portas, não posso deixar de registar aqui o falecimento do escritor Augusto Abelaira.
Ao menos para que nos reconciliemos com nós próprios, para que se sinta por uma vez o que de facto é importante nas nossas vidas.
O Augusto escreveu romances belíssimos como "A Cidade das Flores" (1959), "Os Desertores" (1960), "A Palavra é de Oiro" (1961), "As Boas Intenções" (1963), "Enseada Amena" (1966), "O Único Animal Que" (1985), criou personagens femininos inexquecíveis como Rosa Bianca ou Maria Brenda (serei eu uma flor de papel?), as suas crónicas na imprensa, durante muitos anos, foram imperdíveis.
Fui procurar e folhear de novo os seus livros. Aos jovens que o não leram recomendaria evidentemente, ainda hoje, "A Cidade das Flores".
Convivemos de perto durante muitos anos, embora nunca tivesse sido seu editor: nas conversas de fim de tarde no Café Monte Carlo - no tempo em que havia cafés e se conversava - com José Gomes Ferreira, Carlos de Oliveira, Herberto Helder, José Cardoso Pires; após o 25 de Abril nas reuniões semanais da direcção da Associação Portuguesa de Escritores. Foi o Augusto que recomendou ao António Ramos, da Bertrand, o meu segundo romance, nessa altura fazia-se assim, a recomendação era dos mais velhos.
Que a sua memória perdure, que os seus livros continuem a ser lidos. Porque afinal são eles, os livros, a música que o Augusto tanto apreciava, que nos salvam deste mundo pobre que nos sobrou para viver.
O tal dos Lellos e dos Portas, e de tantos outros.